Artigos Técnicos

Os princípios do SPDH (Sistema de Plantio Direto de Hortaliças) aplicados a cultura da pitaia: experiências do Sul Catarinense

Cobertura vegetal controla a erosão, melhora a estrutura do solo, protegendo-o da compactação, mantém


A exigência da sociedade por alimentos produzidos com maior responsabilidade, atendendo apelos referentes a segurança e soberania alimentar cresce a cada dia. Neste contexto, a Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão de Santa Catarina - baseia suas orientações técnicas aos agricultores(as) nas bases e princípios do SPDH - Sistema de Plantio Direto de Hortaliças - fomentando uma agricultura mais responsável do ponto de vista ambiental, social e econômico.

São duas as vertentes do SPDH: técnico-científico e político-pedagógico. O eixo técnico-científico se refere a promoção da saúde da planta com base na rotação de culturas, nos adubos verdes e animais manejados no Pastoreio Racional Voisin (PRV), nas adubações conforme as taxas diárias de absorção de nutrientes ajustadas pelo estoque de nutrientes no solo, nas condições climáticas e sinais de plantas, no aumento do conforto das plantas pela minimização dos estresses e na diminuição e até eliminação do uso de agrotóxicos e adubos altamente solúveis (MAFRA et al., 2019).

O eixo político-pedagógico diz respeito à concepção metodológica dialética, objetivando a autonomia da Agricultura Familiar ao modelo de produção industrial, num trabalho conjunto entre agricultores, pesquisadores e extensionistas, combinando conhecimento popular e técnico-científico em experiências com várias espécies hortícolas cultivadas em diversas condições ambientais (MAFRA et al., 2019).

Dentre as espécies trabalhadas neste sistema de cultivo está a pitaia. A pitaia (Hylocereus sp.) é uma cactácea originária das Américas Tropical e Subtropical. A área cultivada de pitaia em Santa Catarina na safra 2016/2017 foi de 74,6 ha, conforme levantamento do Epagri/Cepa. No entanto, vem apresentando significativa expansão, principalmente na região do Extremo Sul Catarinense. O principal destino da fruta é o mercado nacional, correspondendo por 95% do consumo. Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul são os principais consumidores e destinos desta fruta. De acordo com o Epagri/Cepa, o valor bruto de produção foi de 4,6 milhões de reais na safra 2016/2017 e a renda bruta média de 84 mil reais por hectare na mesma safra.

Algumas experiências do Extremo Sul de Santa Catarina no cultivo da pitaia, seguindo os preceitos do SPDH serão listadas abaixo:

Organização dos produtores: um dos norteadores dos trabalhos realizados junto aos produtores é sua organização em associações e cooperativas. Duas cooperativas do Extremo Sul Catarinense, Coopervalesul, de Turvo/SC, e Cooperja, de Jacinto Machado/SC, se destacam na organização dos produtores e a comercialização de suas produtores.

Uso de quebra-ventos: os quebra-ventos têm por finalidade diminuir a incidência de ventos que possam causar algum prejuízo ao pomar. Nos pomares sulinos, se dá ênfase a utilização de espécies que forneçam alimento a predadores de alguns insetos que interfiram no cultivo. As bananeiras, por exemplo, são altamente atrativas para abelhas irapuá. Outros usos, como, por exemplo, a leucena, é o fornecimento de matéria-prima para a produção de insumos para aplicação no pomar. Outras espécies utilizadas são o capim Cameron, astrapéia, moringa, moringa, árvores nativas, hibisco, entre outras.

Consorciação com animais: a consorciação de animais dentro do pomar tem por finalidade aumentar a complexidade do agroecossistema. Uma experiência prática no Extremo Sul Catarinense é a utilização de galinheiros móveis. A utilização de galinhas auxilia no controle de plantas espontâneas e insetos considerados pragas (predação), na adubação e ciclagem de nutrientes no sistema. Além disso, há a produção de ovos e proteína animal que podem ser utilizadas para alimentação da família.

Utilização de espécies para adubação verde: Esta é uma das técnicas que mais caracteriza o Sistema de Plantio Direto. A cobertura de solo e adubação verde desempenham papel importantíssimo para a proteção e melhorias da qualidade física, química e biológica do solo, além de outros benefícios que são apresentados nas figuras 9 e 10. A cobertura vegetal controla a erosão, melhora a estrutura do solo, protegendo-o da compactação, mantém o solo mais úmido, auxilia na movimentação e ciclagem de nutrientes, incrementa a matéria orgânica, evita que o solo alcance altas temperaturas em dias quentes e serve de alimento e abrigo para inimigos naturais de pragas. Os pomares de pitaia de Santa Catarina vem sendo trabalhados no sistema de SPDH, com cobertura permanente de solo e sobressemeadura de espécies que atuam como adubos verdes no inverno.

 No sul de Santa Catarina, a espécie que vem se destacando é o amendoim forrageiro (Arachis pintoi). Além dos benefícios supracitados em relação ao uso de plantas de cobertura, a amendoim forrageiro possui a capacidade de realizar a fixação biológica do nitrogênio, característica intrínseca as leguminosas. Uma estimativa à campo, realizada em um pomar localizado no município de Turvo - SC, demonstrou que esta espécie possui a capacidade de produzir 18 t de matéria verde, o que resulta em 4,5 t de matéria seca (MS). Nesse caso, considerando 2% de N na MS, estima-se uma oferta para o sistema de 90 kg de N ha-1 a cada roçada ou 360 kg N ha-1 ano-1 considerando quatro roçadas no ano. No inverno, como o amendoim forrageiro é uma leguminosa de estação quente, tem-se orientado a sobressemeadura de espécies anuais de inverno, como o nabo forrageiro, ervilhaca, aveia e azevém, com a finalidade de se manter o solo do pomar coberto de forma permanente durante o período de safra e entressafra.

É importante que se pense em sistema, e não somente na espécie que é cultivada comercialmente. Ou seja, pensar nas possíveis espécies para adubação verde que estaremos utilizando e as intervenções técnicas que devemos efetuar para que ela se desenvolva satisfatoriamente, na biota do solo, nas espécies utilizadas com quebra-ventos, nas mudas que darão origem ao pomar, dentre outros. A ideia é deixar o ambiente de cultivo o mais complexo possível, para que o mesmo chegue o mais próximo possível do equilíbrio, através da promoção de interações interespecíficas e intraespecíficas, diminuindo os estresses às plantas, aumentando as produtividades dos pomares.

*Diego Adílio da Silva - Engenheiro-agrônomo, Extensionista Rural da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI, Gerência Regional de Criciúma, Rua Lauro Sodré, 200, Comerciário, CEP: 88802-330, Criciúma - SC. E-mail: [email protected]  

*Ricardo Sant'Anna Martins - Engenheiro-agrônomo, Mestre em Agroecossistemas, Extensionista Rural da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI, Município de Maracajá, Avenida Getúlio Vargas, 530, Centro, CEP: 88015-700, Maracajá - SC. E-mail: [email protected]

 

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