Potencial tecnológico do cambuí roxo: a ameixa-da-mata

O cambuí-roxo é uma fruta pequena e rica em nutrientes, possui alto valor ecológico e aparência de jabuticaba, porém mais doce e saborosa sendo saboreada in natura

12/08/2025 18:22
Potencial tecnológico do cambuí roxo: a ameixa-da-mata

A biodiversidade brasileira é uma das mais ricas do mundo, abrigando diversas espécies de plantas frutíferas nativas que ainda são pouco conhecidas pela população (Ribeiro et al., 2011). Essas espécies de frutas nativas brasileiras despertam atenção devido ao seu potencial agroindustrial, alimentar e terapêutico valioso, ainda pouco explorado.

Assim, pesquisadores têm investigado os compostos bioativos dessas espécies, assim como o seu potencial contra doenças crônicas, a fim de diversificar a dieta humana, para aplicação terapêutica e melhoria e valorização da economia local (Bouhlali et al., 2017).

Entre essas espécies, um importante membro da família Myrtaceae é Eugenia, um dos maiores gêneros dessa família com cerca de 500 espécies (Mabberley, 2017). Várias espécies desse gênero já foram relatadas para o uso na medicina popular (Guimarães et al.,2009) e apresentam um vasto potencial econômico e farmacológico, além de ampla exploração comercial de suas frutas comestíveis.

No Brasil, existem cerca de 400 espécies pertencentes ao gênero Eugênia distribuída em todo país, incluindo a espécie nativa da Mata Atlântica, grumixama (Eugenia brasiliensis), Araçá-Piranga (Eugenia leitonii), cagaita

(Eugenia dysenterica DC.), entre outras (Dameto et al., 2017).

Entretanto, uma fruta desse gênero ainda pouco explorada é Eugênia candolleana, conhecida como cambuí roxo (Figura 1), cereja preta ou ameixa da Mata Atlântica, uma espécie endêmica no Brasil, ocorrendo em estados do

nordeste, sudeste e sul.

No Sudeste, o cambuí roxo é encontrado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG), campus Rio Pomba e vem despertando o interesse de pesquisadores para o desenvolvimento de produtos alimentícios (Foto 1 no site da RF).

O cambuí-roxo é uma fruta pequena e rica em nutrientes, possui alto valor ecológico e aparência de jabuticaba, porém mais doce e saborosa sendo saboreada in natura e pode ser utilizada na fabricação de refrescos, licores,

geleias, sorvetes, além da potencial aplicação na indústria de cosméticos, devido ao aroma agradável. Seu cultivo e uso podem trazer benefícios para a saúde humana e para a conservação ambiental, além de representar uma

alternativa econômica para pequenos produtores (Ribeiro et al., 2011).

Os frutos são bagas globosas ou ovóides, de cor roxa e brilhante quando madura, medindo até 3 cm de diâmetro e pesando de 3 a 9 gramas. Sua polpa é branca e agridoce com uma ou duas sementes, oblongas, mais longa que

larga e achatadas de até 1 cm de diâmetro por 4 a 5 mm de altura (Muniz, 2008). Os frutos amadurecem nos meses de fevereiro a julho e a planta suporta bem a secas e geadas, podendo ser cultivada em vasos, se mantida

com podas regulares, o que não impede a frutificação. Seu nome popular Cambuí, possui origem indígena e vem da palavra "açambiu" que significa "árvore de galho fino", conforme pode ser observado nas imagens abaixo, do campus Rio Pomba, do IF Sudeste MG (Foto 2 abaixo).

Além do potencial dos frutos para aplicação na indústria de alimentos e comésticos, o óleo essencial das folhas de cambuí roxo foi estudado e demonstrou propriedades anti-inflamatórias e atividade contra a larva do mosquito Aedes aegypti (Neves et al.,2017), vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya.

A valorização do cambuí roxo, fruto nativo da biodiversidade brasileira, representa uma oportunidade para o aproveitamento de um alimento naturalmente rico em compostos bioativos e com elevado potencial antioxidante. Além de seu valor nutricional e funcional, o uso dessa fruta pode contribuir com o desenvolvimento de novos produtos alimentícios, promover a preservação ambiental e fortalecer a agricultura familiar. Além disso, trata-se também de um resgate de saberes tradicionais, que alia inovação e sustentabilidade, contribuindo para a construção de uma economia mais diversificada com a valorização dos recursos locais.

*Autores: Júlia Oliveira Dias, Lavínia Cypriano Pereira, Maria Júlia Costa, Henrique Julião Oliveira, Daiana Júnia de Paula Antunes, Nataly de Almeida Costa, Mayra Aparecida Silva Reis, Eliane Maurício Furtado Martins - Profa. Eliane M. Furtado Martins -  Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, UFV - Coordenadora do Programa de Pós graduação em  Ciência e Tecnologia de Alimentos. Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, IF Sudeste MG. Tel: (32) 3571-5400 - eliane.martins@ifsudestemg.edu.br.

Referências bibliográficas: BOUHLALI, E. D.T. et al. Functional Composition and Antioxidant Activities of Eight Moroccan Date Fruit Varieties (Phoenix dactylifera L.). Journal of the Saudi Society of Agricultural Sciences, v. 16, n. 3, p. 257?264, Jul. 2017. DAMETTO, A.C. et al. Chemical Composition and in vitro hemoprevention Assessment of Eugenia jambolana Lam. (Myrtaceae) Fruits and Leaves. Journal of Functional Foods, v. 36, p. 490?502, Sep. 2017. GUIMARÃES, A. G. et al. Antinociceptive and anti-inflammatory effects of the essential oil of Eugenia candolleana DC., Myrtaceae, on mice. Revista Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa, v. 19, n. 4, p. 883-837, out./dez. 2009. MABBERLEY, D.J. Mabberley's Plant-Book: A portable dictionary of plants, their classification and uses. 4. ed. Cambridge University Press, 2017.1102p. MUNIZ, H. J. T. Colecionando frutas. Arte e Ciência, v. 2, p.45, 2008. NEVES, I. de A. et al. Composição e atividade larvicida do óleo essencial Eugenia candolleana DC. (MYRTACEAE) contra o Aedes Aegypti. Revista Virtual de Química, v.09, 2017. RIBEIRO, M.C. et al. The Brazilian Atlantic Forest: A Shrinking Biodiversity Hotspot. In: ZACHOS, F.; HABEL, J. (Eds.). Biodiversity Hotspots. Heidelberg, Berlin: Springer, 2011. BRAGA, A.R.C.; MURADOR, D.C. Biodiversidade Como Fonte de Compostos Fenólicos. In: EGEA, M.B.; MARCIONILIO, S.M.L.O. (eds.). A biodiversidade como fonte de compostos bioativos: moléculas e aplicações. 1. ed. Rio Verde, GO: IF Goiano, 2022. 112p. VIANI, R. A. G.; RODRIGUES, R.R. Árvores frutíferas nativas do Brasil. A biodiversidade como fonte de compostos bioativos: moléculas e aplicações Plantas, Flores & Jardins, n. 51, p. 50-57, 2005.