O jatobá (Hymenaea courbaril) é uma árvore nativa das exuberantes florestas tropicais da América Latina, conhecida não apenas por sua beleza e imponência, mas, sobretudo, por suas notáveis propriedades medicinais e seu vasto potencial para diversas aplicações industriais. Nos últimos anos, o interesse científico em relação a essa espécie tem crescido exponencialmente, revelando sua versatilidade e eficácia em contextos distintos, como a preservação de alimentos e o controle de pragas, posicionando-a como uma alternativa promissora e sustentável em contrapartida a soluções sintéticas.

O setor de alimentos tem buscado incansavelmente por conservantes naturais que possam substituir aditivos sintéticos, muitas vezes associados a efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente, nesse cenário, o jatobá desponta como uma solução viável e eficiente. A pesquisa de Carvalho et al. (2024) é um exemplo dessa nova abordagem; o estudo aprofundou-se na investigação de extratos da casca do fruto do jatobá, tanto em sua forma fermentada quanto não fermentada, e sua aplicação na preservação de carne moída.

A pesquisa demonstrou que esses extratos possuem propriedades antimicrobianas e antioxidantes significativas, ao serem adicionados à carne, eles agem como uma barreira protetora, inibindo o crescimento de micro-organismos que causam a deterioração do alimento e combatendo a oxidação. Esse efeito duplamente benéfico contribui diretamente para a extensão da vida útil da carne e para a melhoria da sua estabilidade oxidativa durante o  armazenamento. A carne tratada com os extratos de jatobá manteve suas características de qualidade por um período mais longo, reduzindo o desperdício alimentar e garantindo um produto final mais seguro para o consumidor.

A viabilidade de utilizar o jatobá como uma alternativa natural aos conservantes sintéticos em produtos cárneos, conforme destacado por Carvalho et al. (2024), não se limita apenas à sua eficácia, ela também promove uma solução mais saudável e sustentável, alinhando-se às crescentes demandas do mercado por produtos "limpos" e ecologicamente corretos. O uso de recursos naturais abundantes e renováveis como o jatobá oferece uma rota inovadora e responsável para a indústria alimentícia.

A agricultura moderna enfrenta o desafio de controlar pragas de forma eficiente, sem comprometer a saúde dos ecossistemas e dos trabalhadores rurais. Os pesticidas químicos tradicionais, embora eficazes, frequentemente causam danos ambientais significativos e podem deixar resíduos tóxicos nos alimentos. A busca por biopesticidas, ou seja, produtos de origem biológica que combatem pragas, tornou-se uma prioridade. Nesse contexto, o jatobá se destaca mais uma vez.

Árvore do Jatobá - Foto: GREEN NATION (2025)

O estudo de Ribeiro Júnior (2021) é um marco nessa área, focando na extração e aplicação de óleos essenciais de duas espécies, Syzygium cumini (jambolão) e Hymenaea courbaril (jatobá), como agentes de controle biológico. A pesquisa revelou que os óleos essenciais de jatobá são excepcionalmente eficazes no controle de larvas de Planococcus citri, uma importante praga conhecida como cochonilha-da-planície, que afeta diversas culturas agrícolas, incluindo frutas cítricas e plantas ornamentais.

A ação dos óleos essenciais de jatobá se dá pela sua toxicidade para as larvas, que, ao serem expostas, têm sua população significativamente reduzida. A forma de atuação desses óleos é complexa, envolvendo mecanismos que afetam o sistema nervoso e o metabolismo dos insetos, levando à sua morte. Esta aplicação ressalta o potencial do jatobá como uma alternativa ecológica e segura aos pesticidas químicos. A utilização de extratos naturais, como os óleos essenciais, oferece uma opção que minimiza os impactos negativos no meio ambiente, preserva a biodiversidade e contribui para a produção de alimentos mais seguros e livres de resíduos químicos.

O potencial do jatobá vai muito além de suas aplicações industriais, suas propriedades medicinais são amplamente reconhecidas e têm sido utilizadas há séculos na medicina popular de diversas comunidades na América Latina. A casca e a resina do jatobá, por exemplo, são tradicionalmente empregadas para tratar uma vasta gama de condições de saúde.

O jatobá é conhecido por sua eficácia no tratamento de problemas respiratórios, como bronquite e asma, devido às suas propriedades anti-inflamatórias e também é utilizado para combater inflamações em geral e para tratar doenças gastrointestinais, como úlceras e diarreia. A ciência moderna corrobora essa sabedoria popular, atribuindo a atividade terapêutica do jatobá à presença de compostos bioativos essenciais, como taninos, saponinas e flavonoides. Esses compostos não apenas conferem ao jatobá suas propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias, mas também são os responsáveis por seu potente efeito antioxidante.

O potencial antioxidante do jatobá é um dos aspectos mais relevantes de suas propriedades. Os antioxidantes são moléculas cruciais que neutralizam os radicais livres no corpo, que são subprodutos do metabolismo e da exposição a fatores externos, como a poluição. A acumulação de radicais livres pode levar ao estresse oxidativo, um processo que danifica as células e está associado ao envelhecimento precoce e ao desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A inclusão de extratos de jatobá em produtos alimentícios, suplementos e cosméticos pode, portanto, oferecer benefícios adicionais à saúde dos
consumidores, promovendo bem-estar e longevidade.

A versatilidade do jatobá estende-se à indústria de alimentos funcionais, o alto teor de nutrientes, fibras e compostos bioativos faz da polpa do seu fruto um ingrediente valioso para a formulação de produtos que não apenas nutrem, mas também proporcionam benefícios específicos à saúde. Bebidas, sucos, farinhas e suplementos à base de jatobá podem se tornar uma fonte natural de antioxidantes e outros nutrientes essenciais, alinhando-se perfeitamente às tendências de consumo por alimentos mais naturais, saudáveis e com valor agregado.

O jatobá é muito mais do que uma simples árvore, é um recurso natural de imenso valor, com um vasto potencial de aplicação em diversas áreas, que vão desde a conservação de alimentos e o controle de pragas até a promoção da saúde e o desenvolvimento de produtos funcionais. Estudos como os de Carvalho et al. (2024) e Ribeiro Júnior (2021) não apenas destacam a eficácia e a versatilidade deste recurso, mas também apontam para um futuro onde soluções mais sustentáveis e saudáveis são a norma.

A valorização e o aprofundamento das pesquisas sobre o jatobá são cruciais para que ele se torne um componente ainda mais importante em diversas indústrias, contribuindo para a inovação e para a criação de um futuro mais verde e consciente. A exploração responsável e o uso inteligente de recursos da biodiversidade, como o jatobá, podem desempenhar um papel fundamental na resolução de desafios contemporâneos, oferecendo alternativas naturais que beneficiam tanto a economia quanto o bem-estar da sociedade e do planeta.

*Pedro Paulo Alves Pinheiro, Stefany Cristiny Ferreira da Silva Gadêlha, Diego Micheli Sousa Gomes, Marco Antônio Pereira da Silva - stefanycristiny220@gmail.com  

Referências Bibliográficas: DE CARVALHO, Danielle Jesus; SOARES, Larissa Almeida; DE AQUINO SANTANA, Luciana Cristina Lins. Extracts from Fermented and Unfermented Jatoba (Hymenaea courbaril) Fruit Peel for Preservation of Minced Beef Meat. Food and Bioprocess Technology, p. 1-12, 2024. RIBEIRO JÚNIOR, Ronaldo Luís Machado. EXTRAÇÃO E APLICAÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS DE SYZIGIUM CUMINI (JAMBOLÃO) E HYMENAEA COURBARIL (JATOBÁ) COMO BIOPESTICIDA NO CONTROLE DE LARVAS DE PLONOCOCCUS CITRI. 2021. GREEN NATION. Jatobá - Green Nation. Greennation.com.br. Disponível em:
https://greennation.com.br/species/jatoba/;. Acesso em: 16 set. 2025. VEJA SAÚDE. Jatobá: descubra se a casca e outras partes da planta têm benefícios. Veja Saúde. Disponível em:  https://saude.abril.com.br/alimentacao/jatoba-
descubra-se-a-casca-e-outras-partes-da-planta-tem-beneficios/;. Acesso em: 16 set. 2025.