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Revestimento com composto antifúngico natural no biocontrole da podridão azul em maçãs pós-colheita

Podridão azul representa perdas significativas na produção e comercialização do fruto


A maçã destaca-se entre as principais frutas frescas produzidas no Brasil, juntamente com a laranja, banana e abacaxi. Entretanto, a incidência de podridão azul, causada por Penicillium expansum, representa perdas significativas na produção e comercialização do fruto.

Para prolongar a sua vida útil, revestimentos à base de amido, soja, gelatina entre outros vem sendo utilizados, e a adição de compostos naturais antifúngicos surge como uma opção atraente em relação aos fungicidas químicos tradicionais, pois além de ser inócuo à saúde humana, minimizaria o impacto ambiental em caso de aplicação.

Embora a utilização e comercialização de produtos biológicos no Brasil enfrentem dificuldades para registrar e liberar sua utilização em grande escala, outros países já comercializam produtos biológicos registrados para o controle de podridões pós-colheita, incluindo como agente ativo leveduras antagonistas, como por exemplo, Aspire® nos Estados Unidos e Israel, Avogreen® e Yield Plus® na África do Sul, BoniProtec® na Alemanha e Shemer® em Israel. Esses produtos são aplicados por aspersão ou imersão, onde as leveduras antagonistas depositadas na superfície do fruto atuam contra o fungo deteriorante por competição de espaço e nutrientes, mantendo o fruto sadio por mais tempo.

A idéia de desenvolver um revestimento com composto antifúngico natural obtido do cultivo de levedura antagonista e estudar o controle da podridão azul em maçãs pós-colheita foi tema de uma pesquisa de mestrado profissional na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Londrina, no Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos (PPGTAL).

Um experimento foi realizado com um total de 24 maçãs, sendo 8 frutos sem revestimento, 8 frutos com revestimento sem composto antifúngico (RControle) e 8 com revestimento antifúngico (RAntifúngico). Os frutos foram recobertos com revestimento elaborado com amido de resíduo de aveia industrial e glicerol, dispersos em água (RControle) ou em solução aquosa contendo o composto antifúngico de levedura antagonista Hansenula wingei (RAntifúngico). Após a secagem do revestimento nos frutos, foram feitos 2 ferimentos na parte superior de cada fruto (2,5 mm de profundidade e 3,0 mm de largura) e inoculado 105 conídios/mL do bolor azul (P. expansum). Os frutos foram armazenados em potes plásticos higienizados a 25ºC por 12 dias. A podridão dos frutos foi acompanhada por meio da medida do diâmetro das lesões (mm) e do cálculo da porcentagem de controle das lesões (%).

Os ferimentos foram realizados após o revestimento do fruto, a fim de simular uma situação de prevenção da doença (aplicação do revestimento pré-infecção), uma vez que os frutos revestidos ainda estão sujeitos a pequenas perfurações e machucados durante a distribuição para os revendedores e nas gôndolas para comercialização. O revestimento, que atua a princípio como barreira, está passível de pequenos rompimentos, possibilitando a colonização do fungo e consequentemente a deterioração.

Após 2 dias de armazenamento a 25ºC, observou-se uma colonização, adaptação e infecção do fruto pelo fungo, não sendo portanto diferenciado o comportamento dos revestimentos com e sem antifúngico (Figura 1). Após 12 dias, o RAntifúngico controlou em 65% a evolução das lesões, enquanto que nos frutos com RControle (sem composto antifúngico) o controle das lesões foi zero (0%). O valor médio de controle das lesões pelo Rantifúngico entre o 2º e o 12º dias foi de 61%, e para o RControle foi de apenas 1,5% (Tabela 1). Nas imagens das maçãs (Figura 2) é possível visualizar que o revestimento com composto antifúngico (Figuras 2E e 2F) controlou de maneira eficiente o desenvolvimento de P. expansum durante o armazenamento.

O estudo mostrou que o desenvolvimento do fungo é prejudicado ou retardado pelo composto antifúngico, deixando claro o efeito preventivo no controle da doença. Os resultados são bastante promissores e indicam perspectivas de aplicação de compostos antifúngicos naturais incorporados em revestimentos em frutos pós-colheita. *Fabiana Fiusa Ferreira, Douglas Rangel da Costa, Laura Fernandes Campos, Marianne Ayumi Shirai, Alexandre Rodrigo Coelho. Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Londrina, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos - PPGTAL. Av. dos Pioneiros, 3131, Jardim Morumbi. CEP: 86036-370 - Fone: (43) 3315-6153/E-mail: [email protected]

 

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