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Mosca das frutas, controle biológico pode trazer alívio para os produtores

Pesquisadores da Embrapa apostam num inimigo natural para fazer o controle biológico da praga


O desejo de todo produtor de frutas é ter o pomar sempre saudável e carregado. Mas no Brasil, assim como em outros países, há um inseto capaz de transformar o sonho em pesadelo: a temida mosca das frutas, principal praga da fruticultura nacional. 

O Brasil é o terceiro produtor mundial de frutas, atrás apenas da China e da Índia. Com cerca de 3 milhões de hectares plantados, o setor colhe 40 milhões de toneladas de frutas por ano e gera mais de 6 milhões de empregos diretos, especialmente nas culturas da laranja, banana e abacaxi.  De acordo com o Ministério da Agricultura, em 2019, colocando apenas 3% das frutas produzidas aqui no mercado internacional, o Brasil bateu recorde de exportação: cerca de US$ 1 bilhão.

O inseto é pequeno, mas o prejuízo é enorme - As espécies mais comuns de mosca-das-frutas que causam danos significativos nos pomares brasileiros, são: a sul-americana Anastrepha fraterculus e a mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata. O prejuízo anual estimado com perdas de produção, comercialização e custo de controle gira em torno de R$ 180 milhões. As duas espécies afetam culturas importantes como citros, uva, cacau, pêssego, goiaba e ameixa.

Na tentativa de reduzir o problema, pesquisadores da EMBRAPA Clima Temperado, no Rio Grande do Sul, desenvolveram uma nova tecnologia de controle biológico para ajudar os produtores no combate à mosca de forma ecológica e sustentável: a utilização da vespa Doryctobracon Areolatus.

Inimigo natural e nativo do Brasil - A vespa Doryctobracon Areolatus é nativa do Brasil e está presente na maioria dos Estados. Para comprovar a eficiência do inseto no controle de várias espécies de mosca, os pesquisadores da EMBRAPA avaliaram o trabalho da vespa em pomares comerciais no município de Rosário do Sul (RS), entre fevereiro a abril de 2017. O resultado da pesquisa foi revelado em dezembro de 2019. 

Entretanto, segundo o pesquisador Dori Edson Nava, "sabe-se que o parasitoide (vespa) tem preferências por determinado hospedeiro (mosca) e saber disso é importante para direcionar o agente correto para o manejo de cada praga".

D.Areolatus é capaz de localizar as larvas das moscas no interior dos frutos e colocar nelas seus próprios ovos. Ao eclodirem, esses ovos dão origem a larvas da vespa que se alimentam do corpo do hospedeiro, eliminando a praga antes que se torne uma mosca adulta. Assim, depois de alguns dias, as larvas da vespa se tornam insetos adultos e vão se espalhando pelo pomar reduzindo significativamente, a população de moscas-das-frutas. Nessa primeira etapa de testes, os pesquisadores liberaram 10 mil vespas em pomares de citros e conseguiram até 40% de parasitismo das larvas das moscas-das-frutas. De acordo com Nava, o próximo passo é testar o controle em cultivos de pêssego e maçã. Para que se torne um método comercial de controle, é preciso concluir algumas etapas da pesquisa, como definir a melhor forma de liberação das vespas, quantidade de indivíduos por hectare e o número ideal de solturas. 

Startup faz monitoramento das pragas - Até o momento, R$ 300 mil foram investidos na pesquisa. A EMBRAPA contou com a parceria da Partamon, startup incubada na Universidade Federal de Pelotas (RS), que desenvolve tecnologias para monitoramento e controle de pragas na agricultura. A empresa estará na próxima etapa no projeto e deve fazer a comercialização da nova tecnologia. O pesquisador acredita que serão necessários, pelo menos, mais R$ 500 mil para a conclusão do trabalho. "A ideia é que com a realização dos estudos finais de campo, já seria possível a produção comercial. Acredito que em 3 anos teremos essa resposta".

Nava diz também que "nesse momento, ainda não temos todas as informações necessárias para que o produtor possa usar esse controle biológico. As vespas precisam ser produzidas em quantidade para atender a grande demanda que temos no Brasil para o controle de mosca-das-frutas".

Ferramenta que interessa aos produtores - Para o pesquisador, não há dúvida de que o controle biológico seja o melhor caminho para resolver o problema de infestação de moscas-das-frutas. A nova tecnologia poderá ser usada dentro da estratégia de Manejo Integrado de Pragas (MIP). 

A possibilidade do controle biológico já chama a atenção de agricultores, como o engenheiro agrônomo e produtor Rodrigo Veraldi Ismael, que enfrenta o problema da mosca-da-fruta há muito tempo. Desde 2002, ele produz framboesa na propriedade localizada em São Bento do Sapucaí, na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo. Em 2009, Rodrigo também passou a produzir outras frutas. Hoje, a propriedade colhe, por ano, de 4 a 5 toneladas de amora, mirtilo, morango e framboesa e cerca de 5 toneladas de uvas viníferas.

Para controlar a mosca da fruta, as estratégias adotadas pela fazenda são o monitoramento constante dos pomares e o uso de armadilhas com substâncias atrativas, além do ensacamento dos frutos, especialmente, das uvas. 

Rodrigo conta que, em 2019, pela primeira vez, teve uma perda importante na produção da uva Pinot Noir devido a infestação da mosca-da-fruta Ceratitis capitata. "A previsão era produzir 250 garrafas de vinho dessa variedade, mas conseguimos cerca de 120". Mesmo tendo ensacado as uvas com TNT, Ismael acredita que os ovos da mosca já estavam nos frutos e, por isso, a infestação não foi controlada. Por isso, a possibilidade de uma tecnologia mais eficiente interessa ao produtor. *Croplifebrasil.org

 

 

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