Diante de perdas acumuladas em razão da deriva de herbicidas hormonais, um grupo de 11 entidades de produtores rurais formou a Aliança pela Fruticultura Gaúcha. O grupo reivindica a proibição do uso daquele tipo de pesticida no Rio Grande do Sul. Uma das primeiras tarefas será um levantamento de documentos, pesquisas, notícias e relatos de produtores afetados em diferentes regiões do Estado.
Na quarta-feira, 23, as entidades lançaram o Manifesto dos Produtores Gaúchos, enviado à subcomissão que examina o tema dos herbicidas hormonais na Assembleia Legislativa. No documento, as entidades afirmam que não são contrários a qualquer cultivo, mas que a deriva de herbicidas hormonais é comprovada em 86 municípios gaúchos e que há alternativas ao uso das substâncias. *Correio do Povo/RS ? 24/07/2025.
Vinhedos da Campanha absorvem resíduos do herbicida hormonal 2,4-D
O manifesto é assinado por Cooperativa São José, de Jaguari; Associação dos Viticultores da Região Central do Rio Grande do Sul; Associação de Vitivinicultores do Extremo Sul ? RS; da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra); do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS); da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho); do Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (Sindivinho RS); da Associação da Comissão Interestadual da Uva (ACIU); do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva) e da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi).
Dupla poda: A técnica que amplia a viticultura no Brasil - Como a inversão do ciclo da videira está transformando a viticultura nacional e elevando a qualidade dos vinhos brasileiros - Atualmente, no mundo dos vinhos, a expressão dupla poda ou poda invertida tem sido bastante utilizada. Para defini-la, resumidamente, consiste em interromper o ciclo natural da videira para a realização de duas podas anuais. Esta técnica transfere a colheita, que naturalmente ocorreria no verão, para o inverno ? época em que as condições são mais favoráveis ?, resultando em uvas de alta qualidade. Por isso, o nome Vinhos de Inverno. Lembrando que, embora existam dois ciclos vitícolas, ocorre apenas uma colheita por ano.
Para entendermos a lógica da dupla poda ? protagonista dos vinhos de inverno, que têm conquistado o paladar do consumidor e ganhado cada vez mais prestígio nacional e internacional ?, é importante observar os sucessivos prêmios conquistados, a expansão da área de cultivo e o aprimoramento das técnicas de produção, que compõem um cenário revolucionário. Trata-se do resultado de uma técnica em que os produtores invertem o ciclo da videira, de forma a realizar duas podas por ano. Dessa forma, as uvas atingem grau de maturação ideal para serem colhidas no inverno, período de poucas chuvas, alta incidência de sol e grande amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite), com clima ameno e frio.
O ciclo natural da videira culmina com sua colheita no verão. Entretanto, na região Sudeste do Brasil, esse período apresenta uma série de desafios ? principalmente o calor excessivo, acompanhado de muita chuva ?, fato que praticamente impossibilita a produção de frutos sadios e equilibrados. Contudo, no inverno, especialmente na região da Serra da Mantiqueira, as uvas encontram as condições perfeitas para seu desenvolvimento: menor índice de chuvas, alta amplitude térmica, manhãs quentes e ensolaradas e noites mais frescas. Essa é uma condição essencial para garantir o equilíbrio dos compostos fenólicos das uvas, resultando em frutos de alta qualidade e complexidade.
A prática da dupla poda começou a ser testada no início da década de 2000, quando o então pesquisador da Epamig, Murilo de Albuquerque Regina, retornou do doutorado na França. Lá, avaliou que as condições necessárias para se produzir uvas sadias e aptas à obtenção de vinhos finos de qualidade eram bastante semelhantes às características climáticas do inverno na região cafeeira do Sul de Minas. Além do conhecimento, o engenheiro agrônomo trouxe em sua bagagem mudas francesas da uva Syrah para iniciar sua pesquisa. Após muitas experimentações e aprimoramento da técnica, o projeto foi bem-sucedido, tendo a Syrah como a casta que melhor se adaptou a essa prática.
Nessas regiões, a colheita das uvas ocorre entre os meses de junho e agosto, dependendo das diferentes variedades, já que cada casta possui um período de maturação distinto ? entre as mais precoces, intermediárias ou tardias. Embora a dupla poda apresente benefícios, sua implantação exige planejamento, conhecimento técnico e manejo preciso da videira, demandando treinamento e ajustes às características de cada região. A adaptação da técnica às diferentes variedades e condições climáticas requer pesquisa e experimentações constantes. Isso porque nem todas as variedades de uvas se adequam a esse método, sendo necessário selecionar as mais apropriadas para cada terroir. Além disso, investimentos iniciais em infraestrutura, equipamentos, capacitação de mão de obra e aprimoramento das técnicas de manejo são aspectos essenciais para o sucesso da dupla poda. Porém, todo esse investimento resulta em produtos de qualidade superior, o que permite aos produtores praticarem preços acima da média do mercado em seus rótulos.
Com início no Sul de Minas Gerais e Norte de São Paulo, a aplicação dessa técnica migrou para outras regiões e estados, como o Centro da Bahia (Chapada Diamantina), além de Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Isso tem expandido horizontes, impulsionado a produção de vinhos excepcionais e aumentado o leque de regiões produtoras ? anteriormente restritas ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo ?, ampliando as possibilidades de colocar o Brasil em rota de destaque no cenário vitivinícola internacional.
As principais variedades cultivadas nas regiões de dupla poda: Syrah ? Uma das variedades mais emblemáticas, por ter se adaptado bem a climas secos e quentes, com boa amplitude térmica, além de possuir alta fertilidade; Cabernet Franc? Apresenta frescor e elegância em versões de inverno; Viognier e Sauvignon Blanc? Mostram perfil aromático intenso e frescor, mesmo em regiões mais quentes; Outras castas internacionais, especialmente as francesas, estão sendo testadas. Logo, devemos ter novidades. *Matéria do NSCTotal/Estúdio NSC/Branded/Fernanda Silva ? 1707/2025.