Aliança pela Fruticultura gaúcha pede proibição de herbicidas hormonais; Produtores rurais protestam contra perdas acumuladas desde 2014 em seus pomares

Leia também: Dupla poda: A técnica que amplia a viticultura no Brasil; Como a inversão do ciclo da videira está transformando a viticultura nacional e elevando a qualidade dos vinhos brasileiros

28/07/2025 11:53
Aliança pela Fruticultura gaúcha pede proibição de herbicidas hormonais; Produtores rurais protestam contra perdas acumuladas desde 2014 em seus pomares

Diante de perdas acumuladas em razão da deriva de herbicidas hormonais, um grupo de 11 entidades de produtores rurais formou a Aliança pela Fruticultura Gaúcha. O grupo reivindica a proibição do uso daquele tipo de pesticida no Rio Grande do Sul. Uma das primeiras tarefas será um levantamento de documentos, pesquisas, notícias e relatos de produtores afetados em diferentes regiões do Estado.

Na quarta-feira, 23, as entidades lançaram o Manifesto dos Produtores Gaúchos, enviado à subcomissão que examina o tema dos herbicidas hormonais na Assembleia Legislativa. No documento, as entidades afirmam que não são contrários a qualquer cultivo, mas que a deriva de herbicidas hormonais é comprovada em 86 municípios gaúchos e que há alternativas ao uso das substâncias. *Correio do Povo/RS ? 24/07/2025.

 

Vinhedos da Campanha absorvem resíduos do herbicida hormonal 2,4-D 

O manifesto é assinado por Cooperativa São José, de Jaguari; Associação dos Viticultores da Região Central do Rio Grande do Sul; Associação de Vitivinicultores do Extremo Sul ? RS; da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra); do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS); da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho); do Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (Sindivinho RS); da Associação da Comissão Interestadual da Uva (ACIU); do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva) e da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi). 

 

Dupla poda: A técnica que amplia a viticultura no Brasil - Como a inversão do ciclo da videira está transformando a viticultura nacional e elevando a qualidade dos vinhos brasileirosAtualmente, no mundo dos vinhos, a expressão dupla poda ou poda invertida tem sido bastante utilizada. Para defini-la, resumidamente, consiste em interromper o ciclo natural da videira para a realização de duas podas anuais. Esta técnica transfere a colheita, que naturalmente ocorreria no verão, para o inverno ? época em que as condições são mais favoráveis ?, resultando em uvas de alta qualidade. Por isso, o nome Vinhos de Inverno. Lembrando que, embora existam dois ciclos vitícolas, ocorre apenas uma colheita por ano.

Para entendermos a lógica da dupla poda ? protagonista dos vinhos de inverno, que têm conquistado o paladar do consumidor e ganhado cada vez mais prestígio nacional e internacional ?, é importante observar os sucessivos prêmios conquistados, a expansão da área de cultivo e o aprimoramento das técnicas de produção, que compõem um cenário revolucionário. Trata-se do resultado de uma técnica em que os produtores invertem o ciclo da videira, de forma a realizar duas podas por ano. Dessa forma, as uvas atingem grau de maturação ideal para serem colhidas no inverno, período de poucas chuvas, alta incidência de sol e grande amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite), com clima ameno e frio.

O ciclo natural da videira culmina com sua colheita no verão. Entretanto, na região Sudeste do Brasil, esse período apresenta uma série de desafios ? principalmente o calor excessivo, acompanhado de muita chuva ?, fato que praticamente impossibilita a produção de frutos sadios e equilibrados. Contudo, no inverno, especialmente na região da Serra da Mantiqueira, as uvas encontram as condições perfeitas para seu desenvolvimento: menor índice de chuvas, alta amplitude térmica, manhãs quentes e ensolaradas e noites mais frescas. Essa é uma condição essencial para garantir o equilíbrio dos compostos fenólicos das uvas, resultando em frutos de alta qualidade e complexidade.

A prática da dupla poda começou a ser testada no início da década de 2000, quando o então pesquisador da Epamig, Murilo de Albuquerque Regina, retornou do doutorado na França. Lá, avaliou que as condições necessárias para se produzir uvas sadias e aptas à obtenção de vinhos finos de qualidade eram bastante semelhantes às características climáticas do inverno na região cafeeira do Sul de Minas. Além do conhecimento, o engenheiro agrônomo trouxe em sua bagagem mudas francesas da uva Syrah para iniciar sua pesquisa. Após muitas experimentações e aprimoramento da técnica, o projeto foi bem-sucedido, tendo a Syrah como a casta que melhor se adaptou a essa prática.

Nessas regiões, a colheita das uvas ocorre entre os meses de junho e agosto, dependendo das diferentes variedades, já que cada casta possui um período de maturação distinto ? entre as mais precoces, intermediárias ou tardias. Embora a dupla poda apresente benefícios, sua implantação exige planejamento, conhecimento técnico e manejo preciso da videira, demandando treinamento e ajustes às características de cada região. A adaptação da técnica às diferentes variedades e condições climáticas requer pesquisa e experimentações constantes. Isso porque nem todas as variedades de uvas se adequam a esse método, sendo necessário selecionar as mais apropriadas para cada terroir. Além disso, investimentos iniciais em infraestrutura, equipamentos, capacitação de mão de obra e aprimoramento das técnicas de manejo são aspectos essenciais para o sucesso da dupla poda. Porém, todo esse investimento resulta em produtos de qualidade superior, o que permite aos produtores praticarem preços acima da média do mercado em seus rótulos.

Com início no Sul de Minas Gerais e Norte de São Paulo, a aplicação dessa técnica migrou para outras regiões e estados, como o Centro da Bahia (Chapada Diamantina), além de Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Isso tem expandido horizontes, impulsionado a produção de vinhos excepcionais e aumentado o leque de regiões produtoras ? anteriormente restritas ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo ?, ampliando as possibilidades de colocar o Brasil em rota de destaque no cenário vitivinícola internacional. 

As principais variedades cultivadas nas regiões de dupla podaSyrah ? Uma das variedades mais emblemáticas, por ter se adaptado bem a climas secos e quentes, com boa amplitude térmica, além de possuir alta fertilidade; Cabernet Franc? Apresenta frescor e elegância em versões de inverno; Viognier e Sauvignon Blanc? Mostram perfil aromático intenso e frescor, mesmo em regiões mais quentes; Outras castas internacionais, especialmente as francesas, estão sendo testadas. Logo, devemos ter novidades. *Matéria do NSCTotal/Estúdio NSC/Branded/Fernanda Silva ? 1707/2025.