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Espécie de butiá exclusiva da Mata Atlântica, nos Campos de Cima da Serra, é tema de pesquisa da Seapi

Identificação de abelhas, diagnóstico da cadeia produtiva, tipo de solo e besouro que ataca as palmeiras fazem parte do estudo


Pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi) iniciam novo estudo sobre a produtividade dos frutos do butiá-da-serra (Butia eriospatha), espécie nativa da região e única exclusiva da Mata Atlântica, que ocorre nos Campos de Cima da Serra e nas Matas com Araucária. De acordo com o coordenador da pesquisa, biólogo Gilson Schlindwein, a visita a uma propriedade em Bom Jesus, na última semana, teve como objetivo conhecer a área, que tem cerca de duas mil mudas de butiá, e estabelecer um primeiro contato entre os pesquisadores do Departamento e os proprietários locais.

A pesquisa vai se dividir em diversas frentes e estudos. Um dos focos é compreender as demandas nutricionais da planta, ou seja, identificar os minerais do solo necessários para o aumento da produtividade dessa espécie de butiá. "Nós queremos compreender como o potencial produtivo de diferentes plantas se relaciona com a concentração de macro e micronutrientes em suas folhas. Além de investigar a dinâmica nutricional do butiazeiro, a pesquisa pretende estabelecer uma faixa de suficiência nutricional - ferramenta importante para interpretar a condição nutricional da espécie por meio da análise foliar", explica o pesquisador Bruno Lisboa, do Laboratório de Solos do DDPA.

Também serão realizados estudos diagnósticos da cadeia produtiva do butiá, buscando aproximar a oferta e a demanda por seus derivados, promovendo o fortalecimento econômico e sustentável da cultura.

"Um dos objetivos do projeto é aprofundar o conhecimento sobre as unidades processadoras de butiá, identificando os canais de abastecimento de matéria prima e de comercialização, bem como os produtos", conta a médica veterinária e pesquisadora do DDPA, Larissa Ambrosini. Segundo ela, a partir desse conhecimento será possível ter informações sobre os fluxos dos frutos para as agroindústrias, as dificuldades em termos de acesso ao fruto, e também conhecer as estratégias em termos de processamento, valorização dos produtos e vias de escoamento.

"A propriedade visitada em Bom Jesus conta com produção própria, a partir de um pomar cultivado, mas gostaríamos de coletar, a partir do projeto, informações sobre o processamento e comercialização dos produtos dessa unidade", afirma.

As abelhas - Outra linha de pesquisa vai ser a análise dos potenciais polinizadores e a identificação da origem floral do mel produzido por abelhas sociais em áreas com agrupamentos do butiá-da-serra, com o objetivo de apoiar estratégias de conservação e uso sustentável dessa espécie nativa.

"A polinização é um processo chave para a reprodução dessas palmeiras, e o conhecimento sobre os polinizadores e a origem floral do mel pode contribuir para estratégias de manejo sustentável e valorização dos butiazais', destaca a bióloga Sídia Witter, pesquisadora do DDPA.

A partir da identificação das espécies, a ser realizada no primeiro ano do estudo, serão implantados, próximo ao butiazal de B. eriospatha, 15 colônias das espécies de abelhas-sem-ferrão mais frequentes nas flores a partir do levantamento do ano anterior. Após o período de floração, de cada colmeia de abelha será coletado mel para análise palinológica e verificação da origem botânica do mel.

"A partir dos resultados do estudo será elaborada uma proposta piloto de manejo da área para fins de conservação das espécies nativas, manutenção e ampliação dos ninhos/colônias que otimizem os processos de polinização e produção de mel", explica Sídia.

Besouro - A broca-do-olho do coqueiro, cientificamente conhecido como Rhynchophorus palmarum, é um besouro que ataca as palmeiras, podendo ocasionar a morte da planta. Seus registros no Brasil e Rio Grande do Sul datam desde 1940, sendo as principais plantas atacadas o coqueiro e o dendezeiro. No Rio Grande do Sul não havia registros deste besouro causando danos a alguma palmeira até meados de 2018, quando surgiram informações sobre a morte de butiazeiros, passando-se a atribuir a perda destas plantas a este besouro.

"Dentre os diversos trabalhos que serão desenvolvidos na propriedade em Bom Jesus, um deles será a verificação da ocorrência deste besouro no butiazal através da instalação de armadilhas e avaliação da distribuição do inseto no ano", explica o pesquisador Adilson Tonietto, do DDPA. Além do besouro, será avaliada a presença de mais dois insetos que consomem as sementes do coquinho do butiá através da coleta dos caroços (coquinhos) e observação dos orifícios de saída das larvas e quebra dos caroços. Estes dois insetos foram tema da Circular Técnica 26, da Seapi.

Essas ações integram o projeto "Integrando conservação e geração de renda através do manejo, cultivo e valorização econômica em áreas com butiazeiros nativos do RS", financiado com recursos da Reposição Florestal Obrigatória (RFO), por meio da empresa CPFL e com intermediação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).

O butiá da serra - Butia eriospatha é uma das oito espécies de butiá nativas do Rio Grande do Sul. Ele está presente nos três estados da Região Sul do Brasil e, atualmente, encontra-se ameaçada de extinção.

"As iniciativas como esta assumem grande importância, ao contribuírem não apenas para a conservação da espécie e de seu habitat, mas também para o reconhecimento da identidade regional associada a este butiá serrano, uma planta de frutos saborosos, alto valor ornamental, relevância ecológica e forte impacto paisagístico nos Campos de Cima da Serra", destaca o coordenador da pesquisa, Gilson Schlindwein.

Participaram da visita ao butiazal, em Bom Jesus, os pesquisadores do DDPA Adilson Tonietto, Bruno Lisboa, Gilson Schlindwein, Larissa Ambrosini e Sidia Witter, o fotógrafo da Seapi Fernando Dias e o gerente regional adjunto da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, Orlando Júnior Kramer Velho. Para acessar Circular Técnica 26, da Seapi: https://www.agricultura.rs.gov.br/publicacoes

*Maria Alice Lussani/Ascom Seapi/Fotos: Fernando Dias/Ascom Seapi - Fone: (51) 3288-6211/6228 - www.agricultura.rs.gov.br

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