Fruticultores do DF fogem do padrão e encontram novas oportunidades

Produtores rurais aprendem sobre peculiaridades e técnicas de cultivo de frutas vermelhas em reunião técnica da Emater-DF

29/06/2024 16:12
Fruticultores do DF fogem do padrão e encontram novas oportunidades

Apesar dos desafios climáticos, produtores locais promovem adaptações para cultivar no Cerrado sementes de pitaya, açaí e mirtilo, espécies nativas de outras regiões

Com a necessidade constante de inovação para incrementar a renda, os agricultores do Distrito Federal vêm procurando maneiras de fugir do padrão e encontrar novas oportunidades. Com o abacate, a goiaba e a banana na liderança das plantações mais comuns, os produtores brasilienses enxergam nas frutas exóticas um meio de aumentar a produtividade. A pitaya, o açaí e as "berries", nativas de regiões bem diferentes do Cerrado, vêm sendo mais procuradas pelos consumidores, o que faz com que os agricultores ao redor da capital capitalizem com a novidade. 

O projeto da Rota da Fruticultura RIDE-DF é um dos grandes apoiadores do crescimento destes novos produtos nos pomares do planalto. A iniciativa faz parte das Rotas de Integração Nacional, uma estratégia do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), e busca introduzir essa diversidade no arsenal frutífero dos produtores do Distrito Federal e entorno. 

Uma das ações é introduzir mudas dessas plantas aos produtores e ajudá-los com instruções e apoio para uma futura comercialização. Ao identificar essa abertura no mercado, o projeto enxergou uma possível geração de empregos e renda para as comunidades agrícolas locais.

A raridade faz com que os valores desses frutos sejam mais altos e compensem as dificuldades para adaptar as plantações ao clima local. De acordo com a Secretaria de Agricultura do Distrito Federal (Seagri-DF), o mirtilo pode alcançar preços próximos a R$ 90 por kg. 

Fruta-dragão - Dentre os três frutos, quem mais vem se destacando até o momento é a pitaya, de acordo com a Seagri-DF, por ser mais resistente ao clima seco. A pasta informa que a produção do alimento cresceu 64% nos últimos quatro anos. A procura é crescente entre o público, que se encanta tanto pela beleza da "fruta-dragão" quanto por seu valor nutritivo. 

Na foto, o prudutor Hélio Nonato Brandão. Kayo Magalhães/CB/D. A Press. Cidades - Produção de pitayas no DF

Um dos produtores que se aproveitou ainda cedo dessa nova tendência é Hélio Nonato Brandão, de 67 anos. Ele trabalha com o cultivo e a comercialização das pitayas há cinco anos. Depois de tentativas sem sucesso com outros plantios e a criação de aves, ele conheceu a fruta em uma chácara em Planaltina e se encantou. O agricultor fez modificações em sua chácara para receber a nova plantação e aos poucos, de maneira autodidata, foi adquirindo conhecimento e evoluindo no ramo. 

Hélio explica que a grande vantagem da pitaya é a fácil adaptação ao cenário local. Nativa do México, a fruta resiste bem à seca e oferece renda em diferentes etapas do ano graças às diversas variedades existentes. "As pragas são muito poucas. Eu não uso agrotóxicos, nenhum remédio, não uso nada, dá pra controlar tranquilamente. É uma das culturas mais fáceis que eu achei", explica o agricultor, que completa: "A planta resiste ao calor e sobrevive mesmo sem a irrigação constante, ainda que a falta prejudique sua produtividade." 

O grande problema para o produtor local, de acordo com Hélio, ainda é a concorrência com a importação. Ele explica que a quantidade que produz em sua plantação ainda não é o suficiente para abastecer a pedida por supermercados, mas que a proximidade com o forte mercado consumidor brasiliense o permite vender um produto mais fresco diretamente para os clientes. Para manter a renda fora da temporada de venda, ele produz também polpas congeladas para comercializar. 

Do Norte para o DF - Fruto genuinamente brasileiro, o açaí não é nativo do Cerrado, mas, apesar das diferenças drásticas no clima em relação à região amazônica, tem encontrado seu lugar em pomares candangos graças à popularidade no mercado -  A agrônoma Aida Kanako Ashiuchi Cardoso começou a cultivar os açaizeiros em sua chácara com o intuito de mostrar aos filhos como era o fruto natural. Para contornar a seca brasiliense, ela investiu em um sistema de irrigação e um poço artesiano. Com o passar do tempo, o próprio pomar passou a auxiliar nesse trabalho, com as árvores oferecendo sombra e folhagem para revestir o solo e evitar a evaporação. "O fato de ter dado certo pra mim, deve ter sido pela dedicação. Se eu sentisse que alguma coisa não estava dando muito certo, eu arrumava uma maneira de contornar esse problema", declara a produtora.

Aida também comercializa o produto como polpa (Foto: Arquivo Pessoal/Aida Cardoso)

Hoje, a plantação ultrapassa quatro hectares e encontra condições de se manter produtiva durante os meses sem chuva. O aumento na produção fez com que Aida expandisse e passasse a comercializar o fruto em formato de polpa, superando a ideia de cultivo familiar que a motivou a iniciar a aventura. Ela ressalta a importância de ser persistente para adaptar o açaí ao bioma local e acredita que o mercado da fruta amazônica se tornará cada vez mais comum entre os produtores do Distrito Federal. 

Produção do mirtilo tem ganhado força no DF por valor alto (Foto: Arquivo Pessoal /Cristyano Martins)

As "berries" - Vindas de climas mais frios como os da Europa e da América do Norte, as "berries" (frutos silvestres) também vem achando seu caminho até o Cerrado. Cristyano Martins e sua família começaram há pouco mais de um ano o cultivo do mirtilo, amora e framboesa.  *Matéria do Correio Braziliense ? 15/06/2024 - *Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti/Henrique Sucena

Erros no início do cultivo atrasaram o processo, mas a chegada da Rota das Frutas deu aos Martins a chance de se acertar e aprimorar o cultivo. "Tivemos que fazer muitas adaptações e o investimento é alto, porém pretendemos ter o retorno rapidamente. O mirtilo é uma excelente oportunidade de cultivo por conta dos benefícios entre valores de implementação, venda e manutenção", diz o agricultor de 38 anos.

A polivalência das "blueberrys", como também são conhecidas, é outro fator em sua popularidade. A possibilidade de ser comercializada como geleia, chá ou polpa oferece aos produtores mais caminhos para a renda. Com alto valor de mercado, o mirtilo faz com que Cristyano e outros produtores se empolguem com o futuro de seu comércio agrícola. 

Produtores rurais aprendem sobre peculiaridades e técnicas de cultivo de frutas vermelhas em reunião técnica da Emater-DF

                               Reunião fez parte da Semana do Produtor Rural da Emater-DF em Sobradinho

O cultivo, o manejo e a comercialização de frutas vermelhas como amora, mirtilo, morango e framboesa foram os temas abordados na reunião técnica da Emater-DF na manhã deste sábado (22/06), no Lago Oeste. Com o tema ?Introdução ao Cultivo de Frutas Vermelhas no Cerrado Brasileiro?, extensionistas da empresa explicaram as principais peculiaridades dessas frutas a aproximadamente 30 produtores rurais.

Segundo Clarissa Campos, gerente da Emater-DF em Sobradinho, o objetivo da reunião técnica foi atender ao crescente interesse dos produtores por essas culturas. ?Na região do Lago Oeste, os produtores têm mostrado grande interesse em novas culturas e inovações tecnológicas. No caso do morango, apesar de já ter um cultivo consolidado, sempre tem demanda, principalmente o orgânico?, destacou.

O mirtilo vem sendo introduzido no DF por meio da Rota da Fruticultura. Clarissa observou que a AgroBrasília, realizada entre os dias 21 e 25 de maio, serviu como uma vitrine para a propagação da fruta, despertando a curiosidade de muitos produtores, o que levou à organização da reunião. ?A fruta, embora recente, é promissora para o Distrito Federal, considerando a oferta, a demanda e as condições climáticas e de solo?, pontuou.

Um dos participantes, Leonardo Rodrigo Torres, 33 anos, é programador de sistemas, mora no Lago Oeste há pouco menos de dois meses e já pretende começar a investir na produção rural. 

?Estou planejando, estudando e vendo o que será melhor para eu começar a produzir. As frutas vermelhas chamam atenção pelo alto valor de mercado, as pessoas consomem bastante e é relativamente fácil de mercado?, disse ele. 

                                               Produtores andaram pelo cultivo de framboesa

Os engenheiros-agrônomos e extensionistas Clarissa Campos e Felipe Camargo, este último responsável pelo programa de Fruticultura da Emater-DF, explicaram aos produtores as vantagens do cultivo e os maiores desafios da produção no Brasil. Eles apresentaram as principais variedades das frutas, questões de manejo e as formas de beneficiamento para garantir um maior aproveitamento.

                        Clarissa Campos explicou peculiaridades da produção de frutas vermelhas

Felipe Camargo também orientou os produtores sobre a Rota da Fruticultura, que envolve diversas instituições e promove estratégias de aumento da produção e do fornecimento de frutas para mercados internos e externos, além de esclarecer dúvidas dos produtores. A diretora-executiva da Emater-DF, Loiselene Trindade, participou da reunião.

                          Joseane falou sobre colheita e pó-colheita

Joseane Lima Lelis, economista doméstica da Emater-DF, explicou sobre as boas práticas na colheita e pós-colheita, os cuidados no manuseio devido à sensibilidade das frutas, e as questões de embalagens e acondicionamento. ?Essa reunião, com todas essas informações, é importante para os produtores decidirem se querem ou não investir nessas frutas?, afirmou.

A reunião ocorreu na propriedade da produtora rural Cecília Klein, no Lago Oeste, onde são cultivados morango e framboesa. A produtora compartilhou sua experiência com as frutas e suas técnicas de manejo e comercialização. Durante o evento, foi sorteada uma muda de amora preta gigante (blackberry). 

                          Emater-DF

Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas. 

*Matéria da Emater DF/Joelma Pereira ? ascom@emater.df.gov.br ? 22/06/2024 - Emater-DF ? Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal





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