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Mecanização na colheita da uva x qualidade aromática do vinho

Os menores custos e a solução para o problema com a falta de mão de obra justificam a colheita mecânica da uva.


Figura 3: Uvas colhidas mecanicamente sendo depositadas no tanque de transporte

Na cadeia vitícola da Campanha Gaúcha, um dos fatores limitantes é a falta de mão de obra qualificada para a realização dos tratos culturais dentre eles o da colheita.
A deficiente disponibilidade de mão de obra para realização desta operação se caracteriza como um fator limitante. Entretanto, a topografia suavemente ondulada permite que a colheita mecanizada seja uma alternativa para viabilizar e consolidar a expansão da viticultura na região. 

Deve ser ressaltado que o investimento inicial para a aquisição de uma nova colhedora mecânica é de mais de 250 mil dólares, porém, seu baixo custo operacional e alta eficiência a torna economicamente viável para uso em grandes áreas. A partir dos resultados de pesquisa realizada em um vinhedo na região da Campanha Gaúcha, comparando a colheita manual versus colheita mecânica, verificou-se que a colheita manual apresentou um custo de aproximadamente 2,3 vezes comparado ao custo da colheita mecânica, tornando viável para áreas acima de 42 ha.

Os menores custos e a solução para o problema com a falta de mão de obra justificam a colheita mecânica da uva. Entretanto, inúmeras preocupações são associadas à colheita mecânica de uvas, como: danos físicos à fruta, resultantes da forte agitação necessária para separar as bagas da ráquis; aumento da oxidação, devido a atividades enzimáticas e desenvolvimento de populações microbianas durante o transporte do vinhedo para a vinícola; e perda de mosto ainda no vinhedo. As características sensoriais dos vinhos podem ser influenciadas por esses e outros fenômenos que ocorrem entre a colheita e o fim das fermentações, impactando, por exemplo, sobre o perfil aromático da bebida. Portanto, a avaliação da influência de novas tecnologias sobre esses aspectos é de suma importância no âmbito da vitivinicultura.

Com o objetivo de avaliar o impacto do regime de colheita das uvas na composição de moléculas fundamentais para a caracterização aromática do vinho, realizou-se um estudo com vinhos Merlot oriundos da Campanha Gaúcha, produzidos com uvas colhidas manual e mecanicamente. O estudo avaliou os níveis de ésteres etílicos e álcoois superiores.

Os dois métodos de colheita (manual e mecânica) não causaram efeitos significativamente diferentes, não aumentando e nem reduzindo tais níveis. Assim, conclui-se que os resultados são bastante animadores para o setor vitivinícola da região da Campanha Gaúcha, tendo em vista que vinhos a qualidade aromática dos vinhos obtidos (ao menos para os parâmetros avaliados) tanto a partir da colheita manual como aqueles obtidos da colheita mecanizada. Essa tecnologia fica ainda mais encorajada por esse estudo como uma alternativa estratégica para o aumento da rentabilidade do setor e a redução da disponibilidade de mão de obra. 

*Suélen B. Andrade 1 , Pedro Kaltbach 1 , Vagner B. Costa 2 , Flávio G. Herter 1 - 1 Programa de Pós-Graduação em Agronomia - Fruticultura de Clima Temperado. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas (RS). 2 Curso de Bacharelado em Enologia. Universidade Federal do Pampa, Dom Pedrito (RS).

Referências Bibliográficas: DOMINGUES, F.; AGUILA, J. S. The cost of grape mechanical harvesting is more economical than the manual harvest? BIO Web of Conferences: 39th World Congress of Vine and Wine. N 7 01023. 2016. HENDRICKSON, D. A.; OBERHOLSTER, A. Review of the Impact of Mechanical Harvesting and Optical Berry Sorting on Grape and Wine Composition. Catalyst: Discovery into Practice. American Society for Enology and Viticulture. n. 1, v. 1. p. 21-26. 2017. SARMENTO, M. B. Diagnóstico da Vitivinicultura na Campanha Gaúcha: uma análise SWOT. Agropampa. v.1, n.1, p.65-85. 2016.

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