O potencial da pera no agronegócio catarinense: tradição e inovação para o futuro

Com o auxílio da Epagri, Santa Catarina hoje conta com uma cultivar própria, a Pera Carolina. Entenda como ela surgiu e a importância da fruta para o estado

01/07/2024 13:08
O potencial da pera no agronegócio catarinense: tradição e inovação para o futuro

A pera é uma fruta suculenta, que pede passagem para expandir no agronegócio catarinense ? mercado que tem muito a crescer, já que além do consumo in natura, também atende outros setores da economia.

Os brasileiros consomem muita pera, mas o que nem todo mundo sabe é que a produção nacional ainda é muito baixa e, por isso, a fruta está entre as mais importadas pelo país. Para atender o mercado interno são necessárias cerca de 210 mil toneladas todos os anos ? sendo que 90% delas vem de Portugal, do Chile e da Argentina.

Apesar de todo o nosso potencial agrícola, as condições climáticas exigidas para o cultivo da fruta limitam sua produção a São Paulo e aos três estados do Sul.

É uma fruta que além do sabor, faz bem pra saúde. Segundo a nutricionista Bárbara Lino, a pera é acessível, prática e pode ser levada facilmente para qualquer lugar, pois cabe na bolsa e nem é preciso descascar ? inclusive, ela conta que o melhor mesmo é consumir a fruta com casca, justamente porque nela estão concentrados seus maiores benefícios, como as fibras solúveis que ajudam no controle do colesterol e na saúde do intestino.

A pera também é considerada um antioxidante, por conta dos compostos bioativos que ajudam a combater os radicais livres gerados no dia a dia. Ela possui vitaminas A e C, auxiliando no combate de gripes e resfriados.

A produção de pera em Santa Catarina, liderada por municípios como Bom Retiro, São Joaquim e Itaiópolis, movimenta 15 milhões de reais anualmente ? Foto: Divulgação

Ela é uma fruta versátil que atende o gosto do consumidor e as inovações da indústria e do comércio. Ela vai além do consumo in natura, serve para sucos, doces e até bebidas alcoólicas ? inclusive, as frutas catarinenses servem de matéria-prima para o primeiro aguardente de pera do país, produzido no Rio Grande do Sul.

A importância da pesquisa e do desenvolvimento genético - O trabalho de pesquisa e desenvolvimento genético é um aliado essencial para o agro catarinense. Na produção de pera, a necessidade de adaptação de cultivares importadas ao nosso clima, motivou os pesquisadores a buscar uma variedade própria. E assim surgiu a Carolina, uma pera genuinamente catarinense, criada pelo desenvolvimento genético da Epagri.

A Pera Carolina, resultado de pesquisa genética da Epagri, representa a inovação na Fruticultura catarinense ? Foto: Divulgação

A produção de pera em Santa Catarina cresceu nos últimos anos, elevando o estado a segundo maior produtor nacional. Juntos, os municípios de Bom Retiro, São Joaquim e Itaiópolis representam um movimento de 15 milhões de reais com o cultivo e comercialização da fruta.

As peras de origem europeia e asiática foram as que mais se adaptaram ao clima de Santa Catarina e foi a necessidade de resistência ao clima, que levou a Epagri a desenvolver a primeira cultivar de origem japonesa produzida no Brasil.

No Pomar Experimental da Epagri em Caçador, Meio-Oeste Catarinense, foi criada a variedade Carolina, uma fruta mais arredondada, com padrão de tamanho e formato. Ela surgiu graças ao cruzamento genético de duas variedades japonesas.

Ivan Faoro, pesquisador da Epagri, explica que a cultivar foi resultado de um trabalho de 19 anos. As variedades vindas do exterior não se adaptam muito bem ? por isso o melhoramento ocorre, para que sejam produzidos frutos mais bonitos e saborosos, de acordo com o clima da região.

Doce e suculenta, antes de cair no gosto do consumidor, a variedade Carolina precisa conquistar os produtores. Para isso são realizados testes de campo na estação experimental da Epagri, com o objetivo de encontrar o melhor sistema de condução de manejo dos pomares. Um trabalho incessante para que essa variedade de pera catarinense seja mais uma opção nos pomares e nas gôndolas dos supermercados.

A colônia japonesa e a sua influência - A colônia japonesa é responsável pela introdução de uma grande variedade de produtos agrícolas em Santa Catarina e com a pera não é diferente. Os imigrantes trouxeram cultivares que ganharam o mercado e são produzidas em larga escala.

O Parque Sakura em Frei Rogério preserva as tradições japonesas e atrai turistas, sendo um centro de convivência e produção agrícola ? Foto: Divulgação

A região de Curitibanos no Planalto catarinense é rica em produção agropecuária e está intimamente ligada à história do estado. Foi um dos palcos da Guerra do Contestado no início do século passado e foi de Curitibanos que nasceram novos municípios que abrigam cultura e produtividade no campo, como Frei Rogério.

O município se emancipou de Curitibanos e mantém uma das principais colônias japonesas do país. Os imigrantes trouxeram variedades agrícolas, como alho roxo, goiaba serrana, maçãs, uma grande variedade de hortaliças e a pera-nashi ? palavra que significa pera em japonês.

O imigrante japonês Wataro Ogawa foi precursor da introdução da pera asiática no Sul do país e da primeira colônia japonesa em Santa Catarina. Ele é um sobrevivente da bomba atômica e veio com a família para o Brasil em busca de um lar seguro.

Em 1964 surgiu a Cooperativa Agrícola da colônia Governador Celso Ramos e seu Wataro, que não fala português,  lembra do incentivo que os imigrantes tiveram na época para investir na Fruticultura.

Ele conta que plantava hortaliças, como o tomate, e através do Governo de Santa Catarina e do Governo Japonês houve a possibilidade de expandir a área de fruticultura de clima temperado, fazendo com que os japoneses produzissem. A partir disso, várias culturas começaram a ser desenvolvidas, como a maçã, a pera, a nectarina, entre outras.

A colônia japonesa de Frei Rogério conta com 25 famílias, cinco delas se dedicam à produção de pera. O parque Sakura é o centro de convivência dos imigrantes e descendentes, onde os costumes típicos do Japão são mantidos e, junto com a produção de pera, atraem os turistas para a cidade.

A produção de peras na colônia chega a 500 toneladas a cada safra e serve como um legado para Santa Catarina e o Brasil ? onde a produção ainda tem muito a crescer. Para saber mais sobre as peras catarinenses produzidas tanto na colônia japonesa, quanto em outras regiões do estado, assista ao episódio completo do programa Agro, Saúde e Cooperação sobre o tema.

O projeto é desenvolvido pelo Grupo ND, em parceria com a OcescAuroraSindArroz Santa CatarinaSicoob e Fecoagro. *NDMais/Agronegócios ? 26/06/2024.





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