Artigos Técnicos

Manejo da Podridão Cinzenta da videira utilizando produtos alternativos

Quando a infecção ocorre nas bagas, com a progressão da doença é possível visualizar o micélio acinzentado recobrindo toda a área afetada, evoluindo para o escurecimento e apodrecimento


Manejo da Podridão Cinzenta da videira utilizando produtos alternativos - Felipe Augusto Moretti Ferreira Pinto1, Leonardo Araujo1

A podridão cinzenta da uva ou Podridão de Botrytis causada pelo fungo Botryotinia fuckeliana (de Bary) Whetzel, forma sexuada de Botrytis cinerea Pers. Fr., existente em praticamente todos os vinhedos do mundo, causa sérias reduções na qualidade e na quantidade de uva produzida (GARRIDO & SÔNEGO, 2005). A doença possui grande importância, especialmente em locais com condições climáticas de elevada umidade. A doença pode afetar folhas, ramos, pecíolos, inflorescências e cachos. Quando a infecção ocorre nas bagas, com a progressão da doença é possível visualizar o micélio acinzentado recobrindo toda a área afetada, evoluindo para o escurecimento e apodrecimento, passando para as bagas sadias ao lado, por contato, por meio de ferimentos naturais ou causados por insetos e pássaros. O controle químico tem eficácia intermediária para a doença, sendo necessário utilizar outras táticas de manejo, como tratamento de invernos, controle biológico e controle cultural. Diversos experimentos têm sido conduzidos na Estação Experimental de São Joaquim (EESJ) com o objetivo de encontrar e disponibilizar novas opções de produtos para utilização no manejo de Podridão Cinzenta. Assim, foi realizado o experimento em um vinhedo de 'Sangiovese' implantado em 2006 no espaçamento 3 x 1,5m e conduzido em espaldeira na EESJ, durante o ciclo 2019/2020. Foram realizadas pulverizações com fungicidas para outras doenças durante o ciclo em todos os tratamentos. As pulverizações para o controle de podridão cinzenta foram feitas de acordo com os estádios fenológicos, sendo quatro aplicações: primeira- entre a floração e frutificação; segunda- início da compactação dos cachos; terceira- início da maturação; quarta- maturação plena, pré-colheita, de acordo com a escala fenológica da cultura (LORENZ et al., 1995).

Os tratamentos utilizados foram os seguintes: T1- Testemunha (sem pulverização); T2- Bacillus subtilis 1 (BioImune®, 200 ml de produto/100 Litros de água); T3- Bacillus subtilis 2 (Serenade®, 200 ml de produto/100 Litros de água); T4- Bacillus amyloliquefaciens (Eco-shot®, 200g de produto/100 Litros de água); T5- Extrato de Melaleuca alternifolia (Timorex Gold®, 150 ml de produto/100 Litros de água). As aplicações dos produtos foram feitas com auxílio de uma lança com ponteira de três bicos Yamaho D-6 (vazão de 1,16 L.min.-1) acoplada a um pulverizador estacionário de acionamento por motor de combustão interna e bomba regulado na pressão de 200lb.pol2-1, com volume de calda de 1.000L.ha-1, direcionadas aos cachos. Durante a colheita foi verificada a severidade da podridão cinzenta visualmente, com auxílio de escala diagramática para avaliação da doença, proposta por Hill et al. (2010). O delineamento foi em blocos casualizados, com quatro repetições por tratamento. Foi realizada a análise estatística e o Teste de Tukey com o software R.

Na testemunha a severidade média observada foi de 13,54% nos frutos. Todos os tratamentos utilizados obtiveram severidades menores que a testemunha, sendo diferentes desta, entretanto não diferiram estatisticamente entre si. Os tratamentos com B. amyloliquefaciens, Extrato de Melaleuca alternifolia, B. subtilis 1 e B. subtilis 2 apresentaram respectivamente 1,20, 1,45, 1,92 e 2,67% de severidade (Figura 1).

Apesar de todos os tratamentos diminuírem a severidade da doença em uvas 'Sangiovese', durante o ciclo 2019/2020 ocorreram episódios de secas, o que pode ter diminuído as condições favoráveis para o desenvolvimento da doença. É necessário realizar novos experimentos em ciclos diferentes, bem como em outras variedades, porém os produtos demonstram potencial para utilização no controle da podridão cinzenta. O manejo da doença deve ser feito utilizando diversas medidas em conjunto, tais como a redução do inoculo da doença utilizando tratamento durante o inverno, o manejo cultural com a realização da desfolha no momento correto, que promove a maior aeração, a utilização de telas protetoras para evitar os ferimentos causados por pássaros e a adoção dos tratamentos nos momentos corretos. O uso das medidas em conjunto garantirá o manejo adequado da Podridão Cinzenta nos vinhedos.

1Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Estação Experimental de São Joaquim, São Joaquim, SC, CEP 88600-000. [email protected]

Referências:

GARRIDO, L. da R.; OR, SÔNEGO. Podridão cinzenta da uva: epidemiologia, sintomatologia e controle. Embrapa Uva e Vinho-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2005. HILL, G.N.; BERESFORD, R.M.; EVANS, K.J. Tools for accurate assessment of botrytis bunch rot (Botrytis cinerea) on wine grapes. New Zealand Plant Protection, v.63, p.174-181, 2010. LORENZ, D.H.; EICHHORN, K.W.; BLEIHOLDER, H.; KLOSE, R.; MEIER, U.; WEBER, E. Growth stages of the grapevine: phenological growth stages of the grapevine (Vitis vinifera L. ssp. vinifera) - codes and descriptions according to the extended BBCH scale. Australian Journal of Grape and Wine Research, v.1, p.100-103, 1995.

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