Artigos Técnicos

Revestimento comestível contendo carvacrol para conservação de tomates

Alternativas às medidas clássicas são importantes para redução das perdas e obtenção de tomates mais saudáveis


O tomate é uma das principais hortaliças em produção e consumo no Brasil e no mundo. Trata-se um fruto de alto valor nutricional e que também sofre com elevados índices de perdas, podendo chegar a 40% em alguns casos. As perdas principais ocorrem no período de pós-colheita, por ser vegetal de comportamento climatérico, que o caracteriza pela alta intensidade metabólica e fragilidade, bem como propensão a ataque de fungos que causam podridões. O tomate é suscetível a doenças pós-colheita causadas principalmente pelos fungos, Alternaria alternata (mancha preta) e Botrytis cinerea (mofo cinzento) (Figura 1).

O cuidado com beneficiamento pós-colheita e seu manejo são amplamente estudados e divulgados para que os prejuízos causados pelas perdas sejam reduzidos. Entre as estratégias, estão o uso do frio e tratamentos com fungicidas, o que acarreta aumento de custos e alguns casos deixam resíduos nos frutos. Alternativas às medidas clássicas são importantes para redução das perdas e obtenção de tomates mais saudáveis. O uso de revestimentos comestíveis, tem sido amplamente estudado e utilizado em muitos frutos e alimentos. Juntamente a estes revestimentos, que visam proteger o fruto e auxiliar na conservação, tem-se testado o uso de antioxidantes naturais como o carvacrol. O carvacrol, que também apresenta ação antimicrobiana, é extraído de plantas aromáticas, principalmente orégano e tomilho, e assim atua como conservante sendo qualificado como seguro pela Food and Drugs Administration (FDA). Destaca-se é um composto atóxico e que foge de possíveis efeitos nocivos de alguns fungicidas tradicionais.

O grupo de pesquisa de Fisiologia pós-colheita das frutas e hortaliças da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - Campus Francisco Beltrão, tem estudado este composto, carvacrol, mostrando que o revestimento comestível à base de amido de mandioca/gelatina contendo carvacrol inibiu o crescimento de Colletotrichum sp. em morangos, por exemplo. Neste momento, tem-se testado este composto com revestimento em outros frutos, objetivando demonstrar o potencial do seu uso.
No caso do tomate, é possível também ser utilizado semelhante revestimento para melhoria da conservação microbiológica do tomate durante o período de pós-colheita. Deste modo foram conduzidos experimentos com revestimento comestível à base de amido de mandioca/gelatina com propriedades antifúngicas in vitro e in vivo em tomate tipo "uva" (Sweet Grape®). Uma das medidas preliminares foi testar a eficiência antifúngica do revestimento com carvacrol frente ao fungo Alternaria alternata. Os testes em laboratório foram conduzidos em meios de cultivo contendo carvacrol e determinou-se a concentração inibitória mínima (CIM) e concentração fingicida mínima (CFM). A CIM e CFM da análise antifúngica in vitro para A. alternata foram 0,3 mg de carvacrol/g solução de revestimento e 0,6 mg de carvacrol/g solução de revestimento, respectivamente.

De modo a confirmar os resultados promissores da análise in vitro, foram realizados testes antifúngicos in vivo, ou seja, com tomates uva. Depois da higienização com solução de hipoclorito de sódio (500 ppm), enxague e secagem, testou-se as duas concentrações, 0,3 e 0,6 mg de carvacrol/g solução de revestimento, usando tomates sem tratamento como controle. Com a intenção de testar a real eficiência dos revestimentos, fez-se danos nos frutos de tomate (2 mm de largura por 3 mm de profundidade). Neste dano foi inoculado A. alternata, colocando 10 microlitros de uma suspensão de esporos contendo 1 x 105 esporos/mL (Figura 2). Os frutos foram embalados em bandejas de polipropileno (comerciais) e expostas a condições ambiente ± 23oC por 5 dias (condições semelhantes a prateleira de comercialização).

A deterioração aumenta ao longo dos dias, no entanto os testes com revestimento contendo o 0,3 e 0,6 mg de carvacrol. g-1 se mostram muito promissores na inibição do desenvolvimento de fungos (A. alternata.), pelo menos até o 4° dia de avaliação. Os tomates do controle estavam tomados por fungos e deteriorado já no terceiro dia.
Possivelmente, a baixa concentração de carvacrol presente no revestimento (0,3 mg de carvacrol/g) tenha pouco impacto na aceitação dos frutos revestidos, já que que altos teores de carvacrol podem alterar o aroma e o sabor dos alimentos.

*Cláudia Moreira Santa Catharina*, Felipe Guilherme Brunetto Bretschneider*, Ana Claudia Aparecida Lopes*1, Ana Paula Romio*, Alessandra Machado-Lunkes*1, Luciano Lucchetta*1*Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campus Francisco Beltrão, PR. 

1Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos - Prof. Dr. Luciano Lucchetta - [email protected]

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