Avaliação de protetor solar Sun Protect (marca registrada) em macieiras Fuji

Na cultivar Fuji, o tratamento com Sun Protect no pomar promoveu maior teor de clorofila/fotossíntese nas folhas das macieiras; reduziu a temperatura da epiderme dos frutos e aumentou a massa dos frutos

21/10/2024 10:37

Introdução - Em várias regiões do mundo, a escaldadura pelo sol, também conhecida como dano ou queimadura pelo sol causa sérias perdas econômicas em maçãs (WARNER, 1997; SCHRADER, 2011; WÜNSCHE et al., 2004). No lado exposto ao sol, temperaturas do ar acima de 27ºC aumentam em até 14ºC na da superfície da fruta.

As injúrias nas maçãs pelo sol são atribuídas ao aumento da temperatura da superfície (BROOKS e FISHER, 1926) e, mais recentemente, como efeito da radiação solar (RABINOWICH et al., 1986; FELICETTI e SCHRADER, 2008). No Brasil, a única ferramenta disponível para prevenção da escaldadura pelo sol em maçãs são as telas anti-granizo. As telas pretas reduzem a intensidade do distúrbio, mas reduzem o desenvolvimento de coloração vermelha na epiderme dos frutos (IGLESIAS e ALEGRE, 2006), porém nas brancas o defeito ainda pode ocorrer.

Tem sido sugerido que os danos ocasionados pelo sol na epiderme são caracterizados como um estresse abiótico, tornando os frutos mais suscetíveis às infecções por patógenos (SCHNOENEWEISS, 1975). Isto pode aumentar a predisposição das maçãs à infecção por Cryptosporiopsis perennans, agente causal da podridão olho de boi, doença importante da macieira no Brasil (VALDEBENITO-SANHUEZA, et al., 2010). Apesar de sintomas dessas podridões serem observados em pré-colheita, os maiores danos ocorrem na fase de armazenamento dos frutos (VALDEBENITO-SANHUEZA et al., 2010).

Entre os problemas de qualidade das maçãs no Brasil, têm destaque os danos causados pela escaldadura pelo sol, sendo que um dos produtos recomendados no país para diminuir a perda de maçãs por esse defeito é o produto comercial Deccoshield.

Desde 1999 produtores de maçãs nos USA tem usado Surround (marca registrada) WP nos pomares. O uso se dá durante o crescimento do fruto, antes das condições para dano de sol e reaplicações quando necessárias. O caulim calcinado deste produto reflete a radiação ultravioleta e infravermelha danosa que aumentaria a temperatura da superfície da fruta. Aplicações de Surround (marca registrada) proporcionam redução de até 5ºC na epiderme de maçãs. Além disso, o produto aumenta a deflexão de luz dentro do dossel, melhorando a coloração das frutas. Em um experimento realizado em Washington no ano de 2008, Surround (marca registrada) foi o mais efetivo entre os três produtos mais utilizados na redução do dano de sol em maçãs 'Granny Smith'. Enquanto a testemunha sem tratar apresentou 40,75% da produção afetada pelo dano de sol, macieiras tratadas com Surround (marca registrada) apresentaram somente 13,50%. A viabilidade econômica do uso deste produto foi o ganho adicional de $2000,00 por acre, com um custo total de $150 do uso de Surround (marca registrada) considerando 5 aplicações no ciclo. O valor por bin foi de $250.

No ciclo 2021/2022, macieiras 'Gala', mesmo sendo tratadas somente a partir de janeiro, apresentaram frutos com menor temperatura da epiderme, maior massa média na colheita, menor incidência e severidade de dano de sol, sendo a redução da incidência na colheita de 41,32%; em pós-colheita houve menor porcentagem de podridão olho-de-boi nos frutos tratados com Sun Protect (marca registrada) no pomar.

Na cultivar Fuji, o tratamento com Sun Protect (marca registrada) no pomar promoveu maior teor de clorofila/fotossíntese nas folhas das macieiras; reduziu a temperatura da epiderme dos frutos e aumentou a massa dos frutos; em pós colheita diminuiu o total de podridões e a incidência de podridão carpelar.

2. Objetivo - O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do protetor solar SUN PROTECT (marca registrada) em uma área de produção de macieiras 'Fuji' pelo terceiro ano no Rio Grande do Sul sobre o dano de sol, coloração, infecções e qualidade em frutos. 3. Material e Métodos - 3.1. Descrição do produto: Sun Protect (marca registrada) SC - 3.2 Descrição do Experimento - 3.2.1 Local: O experimento foi realizado em pomar de macieiras 'Fuji Kiku' sobre porta-enxerto Marubakaido com filtro de EM9, plantio 2010, conduzido em líder central, em Vacaria-RS, apresentando como coordenadas geográficas 28°36'06.4" de latitude sul e 50°46'33.9" de longitude oeste. 3.2.2 Tratamentos - Os tratamentos comparados estão descritos na tabela 1.

As macieiras receberam pulverizações dos tratamentos a partir do primeiro período de risco de escaldadura pelo sol detectado a partir de dezembro de 2023. As pulverizações seguintes foram realizadas a cada 15 dias até a colheita. A ocorrência de condições de risco foi monitorada na estação meteorológica automática. Os períodos críticos ocorrem quando a temperatura do ar permanece acima de 29ºC por mais de 5 horas (YURI, 2009).

3.3 Análises na colheita - Na colheita comercial (22/03/2024) foram colhidas 120 maçãs de cada bloco, totalizando 960 frutos por tratamento. Nestes frutos foi determinado o dano de sol, massa média e podridões. O dano de sol foi avaliado conforme escala de Yuri adaptada para a cv Fuji (2004, Figura 1; 2022, Figura 2). Após as avaliações acima descritas, 20 frutos - sem sinais de danos - foram utilizados para análise de firmeza de polpa e teor de sólidos solúveis.

3.4 Análises após armazenamento refrigerado Os frutos foram armazenados por 60 dias em frio comum, sendo que após esse período foram avaliados quanto a qualidade e podridões.

3.5 Delineamento e estatística - O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, 3 tratamentos com 8 repetições cada. Os dados foram submetidos a análise de variância e, quando significativa, ao teste de comparação de médias (P<0,05).

4. Resultados e Discussão - De maneira geral, a qualidade das maçãs produzidas nessa primavera foi menor que a dos outros ciclos pelas chuvas frequentes e seu alto volume durante e após a floração. Além disso, as reservas e qualidade das gemas foram prejudicadas pelas condições dos estresses dos ciclos passados. Essa condição fez com que, na maioria dos pomares, a produção efetiva fosse possível em flores de menor qualidade, resultando em má formação da cutícula e maior quantidade de fruta menor. 

Durante o estádio de crescimento das maçãs se observaram vários períodos de risco para queima das maçãs (Figura 3), porém com um bom volume de chuvas entre eles (Figura 4) e, portanto, menor estresse térmico nas plantas. Nessa condição, o uso de um protetor solar terá as funções de diminuir os danos pelo sol na epiderme da fruta e as alterações metabólicas causadas pelo excesso térmico.

Nesse ciclo, alguns dos períodos de alto risco foram em dias consecutivos e outros em dias alternados. Em anos de menor precipitação que esse (Figura 3) e com maior número consecutivo de risco severo de dano (> ou = 29ºC por = ou > 5h), a fruta não tratada é afetada pelo dano de sol em maior intensidade e na sua massa também, visto que em condições críticas os estômatos se fecham e com isso a fotossíntese é limitada.

As macieiras receberam a primeira pulverização em 14/12/2023, após o primeiro período de risco de escaldadura pelo sol detectado, o qual ocorreu em 01 de dezembro de 2023. As pulverizações seguintes foram realizadas a cada 15 dias ou 60 mm de precipitação até a colheita (Tabela 1).

Figura 4. Precipitação entre as pulverizações de protetor solar em Vacaria-RS - Considerar apenas esta legenda neste gráfico e não como figura 3

A clorofila/fotossíntese foi igual nos tratamentos nas duas avaliações realizadas, sendo os valores próximos do máximo referenciado para essa variável (Tabela 2). Na primeira avaliação da temperatura da epiderme, ela foi maior (34,4°C) que na segunda (31,9°C), porém na primeira data não se constatou o efeito do produto Sun Protect (marca registrada). Já na avaliação realizada em 18/03/2024, quando a fruta é mais suscetível ao dano de sol, a temperatura constatada foi menor nas maçãs que foram tratadas com Sun Protect (marca registrada) (Tabela 3).

 

A incidência de dano de sol foi baixa a média neste ciclo, sendo que a maior parte dos danos constatados foram leves. A incidência de dano severo na testemunha foi muito baixa (0,48%). As duas doses de Sun Protect (marca registrada) diminuíram em 35% a incidência total do dano pelo sol. O máximo de controle desses distúrbios foi constatado no dano moderado que foi reduzido em 62 a 47% (Tabela 4).

O pomar onde o experimento foi conduzido foi implantado em 2010, portanto com 13 anos, representado pela sua produção em nível considerado ótimo. A carga de frutos das plantas foi adequada - mesmo para um ciclo considerado ruim ? e isso associado ao bom manejo do vigor e da nutrição, além da precipitação que ocorreu, possibilitou a colheita de frutos com massa média de 127 a 135g (calibre médio 135). Nessa condição, na colheita não se constatou efeito do Sun Protect (marca registrada) na massa dos frutos. Pelo contrário, houve baixa percentagem de incidência de podridões e também de distúrbios, sendo que as duas doses de Sun Protect (marca registrada) diminuíram essas variáveis. Após a frigorificação, os tratamentos avaliados não diferiram na perda de massa, na firmeza da polpa e no teor de sólidos solúveis (ºBrix). As maçãs apresentaram alta firmeza e baixo açúcar (Tabela 5).

A perda de maçãs pelas diferentes podridões foi elevada após 60 dias e 14 de prateleira, evidenciando o aumento da incidência de infecções latentes. Houve perda de firmeza, mas o ºBrix se manteve estável (Tabela 6).

Figura 5. Foto das macieiras 'Fuji Kiku' na colheita de parte de uma parcela da testemunha (esquerda) e do tratamento Sun Protect (marca registrada) 4L por hectare (direita). A pulverização dos tratamentos de Sun Protect (marca registrada) não causou sintomas e sinais de fitotoxicidade nas folhas e frutos de macieiras 'Fuji Kiku'.

Considerações e Conclusões5.1 Frutos de macieiras 'Fuji Kiku' pulverizados no pomar com Sun Protect (marca registrada) na dose de 2L ou de 4L/hectare a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita, no ciclo 2023/2024, apresentaram menor incidência total de dano de sol e menor percentagem de dano de sol leve e moderado. A redução do dano de sol pelo uso do Sun Protect (marca registrada)  foi de 35%. 5.2 Os frutos tratados com Sun Protect (marca registrada) no pomar apresentaram menores temperatura da epiderme, rachaduras e podridões. 5.3 As pulverizações com Sun Protect (marca registrada) a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita nas macieiras 'Fuji Kiku', no ciclo 2023/2024, não tiveram efeitos na firmeza, sólidos solúveis e na perda de peso na colheita e durante a frigorificação. 

5.4 A pulverização dos tratamentos de Sun Protect (marca registrada) não foi fitotóxico, nem manchou as maçãs. 

Vacaria, 16 de setembro de 2024. *Dra. Rosa Maria Valdebenito Sanhueza/Engª Agrônoma Dra em Fitopatologia/Responsável Técnica do Laboratório/Centro de Pesquisas Proterra - CPPro/CREA Nº 121.663 SP - Dr. Vinicius Adão Bartnicki/Eng. Agrônomo Dr. em Produção Vegetal/Centro de Pesquisas Proterra/CPPro - Co-autor: Anderson Vieira/Técnico Agropecuária, cursando Agronomia na UERGS/Centro de Pesquisa Proterra. 

Literatura Consultada - BROOKS, C., FISHER, D.F. Some high-temperature effects in apples: Contrasts in the two sides of an apple. Journal Agricultural Research, Victoria, v.32, p.1-16, 1926. FELICETTI, D.A.; SCHRADER, L.E. Photoxidative sunburn of apples: Characterization of a third type of apple sunburn. International Journal Fruit Science, Louisiana, v.8, n.3, p.160-172, 2008. RABINOWITCH, H.D.; BEN-DAVID, B.; FRIEDMANN, M. Light is essential for sunscald induction in cucumber and pepper fruits, whereas heat conditioning provides protection. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v.29, p.21-29, 1986. RACSKO, J.; SCHRADER, L.E. Sunburn of Apple Fruit: Historical Background, Recent Advances and Future Perspectives. Critical Reviews in Plant Sciences, 31:455?504, 2012. DOI: 10.1080/07352689.2012.696453  SCHOENEWEISS, D.F. Predisposition, stress, and plant disease. Annual Review Phytopathology, Palo Alto, v.13, p.193-211, 1975. SCHRADER, L.E. Scientific basis of a unique formulation for reducing sunburn of fruits. HortScience, Alexandria, v.46, n.1, p.6-11, 2011. VALDEBENITO-SANHUEZA, RM; CANTILLANO, RFF; BARTNICKI, VA; SPOLTI, P. Protetor solar diminui a incidência das podridões 'olho-de-boi' e 'branca' em maçãs 'Fuji Standard' e 'Pink Lady'. Revista Brasileira de Fruticultura, v.38, n.1, 2016.  https://doi.org/10.1590/0100-2945-263/14 - VALDEBENITO-SANHUEZA, R.M.; SPOLTI, P.; DEL PONTE, E.M. Controle do inóculo inicial para redução dos danos pela podridão olho-de-boi em macieiras. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.32, n.4, p.1044-1054, 2010. WARNER, G. Sunburn is a hot topic in orchards of Washington. Good Fruit Grower, Yakima, v.48, p.22-23, 1997. WÜNSCHE, J.N.; J. BOWEN; FERGUSON, I.; WOOLF, Y.A. Sunburn on apples-causes and control mechanisms. Acta Horticulturae, Leuven, v.636, p.631-636, 2004. YURI, J.A. El daño por sol em manzanas. Revista Fruticola, Santiago, v.22, n.3, p.89-96, 2004. YURI, J.A. El golpe de sol em manzanas. https://pomaceas.utalca.cl/html/Docs/pdf/2009_09_06.pdf . 2009. HTTPS://WWW.NOVASOURCE.COM/EN.





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