Avaliação e Prognóstico da Produção na serra gaúcha, safra 2024/25

A prática cultural de maior adesão e efeitos a médio/longo prazo é o uso de plantas de cobertura (proteção) do solo, reduzindo grandemente o uso de herbicidas e fertilizantes, as perdas de solo, nutrientes e água

23/01/2025 09:57
Avaliação e Prognóstico da Produção na serra gaúcha, safra 2024/25

1- Introdução - Os pareceres e os dados emitidos são estimados, sendo resultado da observação a campo em cada um dos 49 municipios que compõe o Escritório Regional de Caxias do Sul, de diálogo com fruticultores e especialistas da área. Para efeito dos cálculos da produção, considerou-se mais alguns municípios limítrofes pertencentes aos Regionais de Lajeado e Passo Fundo, perfazendo um total de 55.

2- Fatores Condicionantes/2.1- Condições Climáticas - Ano de 2024 marcado por desastres naturais históricos, teve outono/inverno altamente chuvosos e com um acúmulo de horas de frio (< 7,2 oC) um pouco acima da média histórica, fator esse de suma importância para a fruticultura de clima temperado, tendo sido registradas 428h (INMET a 623m altitude) em Bento Gonçalves, mediante média histórica de 410h , segundo dados do CNPUV. Em Caxias do Sul, foram registradas 571h a 830m (Basf/Epagri-Ciram) e 638h em Vacaria (INMET a 969m).

A distribuição destes acumulados foi bastente iregular, marcadamente nas primeiras quinzenas dos meses de junho e julho. Nas segundas quinzenas, as temperaturas altas para aquela estação do ano foram predominetes. As denominadas geadas tardias ? aquelas que ocorrem rotineiramente nos meses de agosto e setembro não foram verificadas.

Diante desse panorama, ou seja, bom somatório de horas de frio, embora mal distribuído, quatro meses com solo saturado de água, podendo ter afetado o sistema radicular das plantas por falta de oxigênio e baixo acúmulo de horas de radiação solar, era de se esperar uma futura safra com sérias deficiências. Surpreendentemente houve uma ótima brotação ? número e vigor das gemas; fertilidade (número de cachos/broto) dentro da média e tamanho/peso dos cachos acima da média.

Fato marcante no quadrimestre setembro-dezembro foi a frequente e quase constante - ocorrência de baixas temperaturas noturnas, e temperaturas máximas diurnas abaixo das médias para a época do ano. Cenário esse decisivo para a ausência de agentes estressores nas fases de florescimento, desenvolvimento e maturação das bagas, bem como na sanidade da cultura, reduzindo as intervençãos fitossanitárias necessárias.

2.2- Alternância fisiológica - Fator de ocorrência natural, que consiste em alternância na produtividade da planta entre safras sucessivas. Se por lado uma alta produção de frutas impõe um consumo de nutrientes além do potencial de reposição da planta, deixando-a debilitada para o ciclo seguinte, refletindo em baixo pegamento de frutas, por outro, a baixa produtividade da safra anterior (2023/24), pode ser um dos fatores contribuintes no bom potencial produtivo da atual vindima.

2.3- Manejo do Pomar - A cada ano que passa o manejo imprimido aos pomares vem sendo aperfeiçoado, refletindo-se em aumento da produtividade ou, como nessa safra, na redução das perdas. A prática cultural de maior adesão e efeitos a médio/longo prazo é o uso de plantas de cobertura (proteção) do solo, reduzindo grandemente o uso de herbicidas e fertilizantes, as perdas de solo, nutrientes e água.

3. Produção - A estimativa da produção é um volume de 860.000 ton, o que representa 55,0% a mais do que a safra anterior (23/24) e 5,0% a mais do que seria uma safra considerada ?normal?, englobando toda a fruta com propósito comercial, ou seja, transformação industrial (745.000 ton) ou doméstica(15.000 ton) e a de consumo in natura (100.000 ton).

Maturação/colheita vem se apresentando antecipada em média 20 dias para a variedade mais cultivada na região ? a Bordô, sendo tradicionalmente colhida no mês de feveriro e após a colheita da Niágara. Se as variedades tardias mantiverem esse comportamento, prevê-se que no final do mês de fevereiro encerrar-se-á a vindima.

As cultivares superprecoces e precoces apresentaram/apresentam ótima sanidade das bagas, coloração e teor de açúcar. A se manter condições climáticas semelhantes às atuais, as variedades de ciclo médio e, notadamente, as tardias (Cabernet Sauvignon, Moscatos, Isabella) também deverão aportar estas mesmas características.

Comercialmente, havia uma atmosfera de otimismoo junto aos produtores pela possibilidade de a indústria remunerar com valores minimamente semelhantes aos da safra anterior, pelos baixos estoques de produtos. Porém, com o avanço da maturação, percebeu-se uma produtividade um pouco superior da prevista inicialmente. Naturalmente, a precificação sempre segue uma curva inversamente proporcional à oferta do produto.

*Eng° Agr° Enio Ângelo Todeschini/Assistente Regional de Fruticultura/EMATER/RS-Ascar





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