Mancha foliar em mirtileiro causada por Pestalotiopsis trachycarpicola em Santa Catarina

Os sintomas de doença associados a espécies de Pestalotiopsis em mirtileiro incluem mancha foliar, podridão de frutas, cancro do caule e morte do galho

25/07/2023 12:37
Mancha foliar em mirtileiro causada por Pestalotiopsis trachycarpicola em Santa Catarina

Resumo - No Brasil, uma planta de mirtilo do cultivar Climax apresentando sintomas e sinais de Pestalotiopsis spp. foi observada em um pomar comercial. As observações morfológicas e moleculares foram consistentes com as previamente relatadas para Pestalotiopsis trachycarpicola. Os postulados de Koch foram cumpridos. Até onde sabemos, este é o primeiro relato de P. trachycarpicola causando mancha foliar de mirtilo no Brasil.

Keywords. Vaccinium sp. . Cultivares rabbiteye . Doenças do mirtileiro . Mancha foliar de Pestalotia - Os sintomas de doença associados a espécies de Pestalotiopsis em mirtileiro incluem mancha foliar, podridão de frutas, cancro do caule e morte do galho. A mancha foliar causada por Pestalotiopsis microspora é uma das principais doenças fúngicas na produção de mirtilo e, se não for tratada prontamente, pode levar à morte da planta. No Brasil foi observada uma planta de mirtilo (Vaccinium sp.) do cultivar Climax apresentando sintomas de mancha foliar em um pomar comercial (estabelecido em 2007), durante novembro de 2020 (primavera) (Fig. 1A a C). Sintomas de manchas necróticas apareceram gradualmente nas bordas progredindo para o centro na superfície adaxial das folhas (Fig. 1A a C). Mais tarde, essas manchas foliares necróticas se expandem e coalescem, resultando em desfolhamento severo das folhas (Fig. 1A). Não foram observados sintomas nos frutos da planta doente, mas frutos abortados (apodrecimento) com sinais de Pestalotiopsis spp foram detectados no solo sob a planta afetada (Fig. 1D). Ácervulos fúngicos foram observados na superfície abaxial das folhas (Fig. 1C) e ao redor de todos os frutos (Fig. 1D). Assim, o objetivo do presente estudo foi confirmar o agente causal dos sintomas observados em planta de mirtileiro no Brasil.

Folhas de plantas sintomáticas de mirtilo cv. Climax foram coletados em um pomar comercial em São Joaquim, Santa Catarina (28°14'33.62''S, 50°09'07.59''W, Altitude 1.142m), Brasil. Os tecidos infectados (3 cm2) foram esterilizados superficialmente por 30 segundos em etanol 75% e 60 segundos em hipoclorito de sódio a 0,5% (NaOCl), seguido de enxágue três vezes em água estéril antes de serem adicionados em ágar batata dextrose (PDA). As placas foram incubadas no escuro a 22°C ± 2°C por 10 dias para desenvolver colônias. O isolado de Pestalotiopsis spp. foi preservado e depositado na Coleção Micológica da "Santa Veronica Giuliani" em Porto Alegre, RS, sob o registro número SVG00116-F. Manchas foliares, frutos e placas contendo estruturas fúngicas foram examinados em estereomicroscópio (Leica EZ4E, Alemanha) equipado com uma câmera digital (resolução de 5,0 megapixels). As observações morfológicas foram feitas em microscópio BX41 37 (Olympus, Japão) e as imagens foram adquiridas digitalmente (Q-Color?, resolução 5.0 38 Megapixels).

Fig. 1. Sintomas de mancha foliar nas folhas (A a C) e podridão nos frutos (D) causados por Pestalotiopsis trachycarpicola 

em mirtileiro cv. Clímax. Os sintomas de manchas foliares necróticas aparecem gradualmente das bordas para o centro

das folhas (A a C). Os tecidos foliares infectados geralmente resultam em severa desfolha das folhas (A) e 

aborto dos frutos (D). Os asteriscos (*) indicam a face abaxial da folha (C) e do fruto (D) onde ocorreram os

acérvulos. Vista frontal (E) de colônias de dez dias de idade de 7P. trachycarpicola crescendo em placas de ágar

batata dextrose. Conídios de P. trachycarpicola (F). Barras: 5 (C) e 20 (D) mm; 20 ?m (F)

Brotações terminais foram destacados (20-30 cm de comprimento) e folhas, frutos imaturos e maduros de mirtilos cv. Climax (pomar foi estabelecido em 2004) foram usados para satisfazer os postulados de Koch de acordo com Araujo et al. (2022). Tecidos de mirtilo foram inoculados com o fungo por pulverização de uma suspensão de 2 × 105 conídios mL-1 até o escorrimento. Os tecidos de mirtilo foram colocados em caixas plásticas (10 L ? 16 x 40 x 29 cm) e incubados a 26 °C e fotoperíodo de 12 h. Tecidos de mirtilo foram pulverizados com água estéril nas condições descritas anteriormente para servir como controle.

A identificação molecular do fungo foi realizada no Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário e Consultoria, Porto Alegre, RS, Brasil. A metodologia utilizada pode ser encontrada no artigo completo deste estudo Araujo et al. (2023), ou no manuscrito Araujo et al. (2022). As sequências geradas neste estudo foram depositadas no GenBank.

Após 10 dias de incubação, as colônias fúngicas atingiram 90 mm de diâmetro ocupando todo o espaço da placa de Petri. A cor da colônia era branca a amarelo pálido, com micélio aéreo denso na superfície, corpos de frutificação pretos (conídios da colônia), desenvolvendo-se em círculos concêntricos, o fundo da cultura era amarelo (Fig. 1E). Conidiomas de acervulos pretos (aproximadamente 100 a 500 ?m de diâmetro) foram formados superficialmente no meio BDA, folhas e frutos (Fig. 1C-D). Não foram observados conidióforos nas colônias fúngicas desenvolvidas nas placas contendo BDA. Os conídios continham cinco células (4-septadas) com apêndices apicais e basais (n = 30) (Fig. 1F). A célula basal era cônica a aguda, hialina, de paredes finas, 3,9?6,3 (x? = 5,0) ?m de comprimento × 1,8?3,2 (x? = 2,5) ?m de largura. A célula apical era cônica a subcilíndrica, hialina, de paredes finas, 3,7?5,5 (x? = 4,2) ?m de comprimento × 1,9?4,0 (x? = 2,8) ?m de largura. As três células do meio eram todas de coloração verde-oliva a marrom, com paredes espessas e verruculosas, das células apicais às basais, a segunda célula tinha 3,4?5,5 (x? = 4,4) ?m de comprimento × 2,9?5,1 (x? = 4,3) ?m de largura, o terceiro tinha 3,9?5,5 (x? = 4,5) ?m de comprimento × 3,8?5,4 (x? = 4,7) ?m de largura, o quarto tinha 4,0?6,2 (x? = 4,5) ?m de comprimento × 3,5?5,2 (x? = 3,9) ?m de largura. Dois a três apêndices apicais variaram de 5,0 a 18,5 (x? = 11,8) ?m de comprimento, enquanto o apêndice basal (apenas) variou de 2,1 a 5,8 (x? = 3,4) ?m de comprimento. Observações morfológicas do isolado de Pestalotiopsis spp. SVG00116-F mostraram que este era idêntico a Pestalotiopsis trachycarpicola, o que foi confirmado pela análise filogenética (99% de bootstrap). As sequências foram depositadas no GenBank sob o número de acesso ON238108 (ITS), OP895025 (TEF) e OP895026 (TUB). A classificação das espécies de Pestalotiopsis é baseada em uma combinação de características morfológicas e análises moleculares. No presente estudo os postulados de Koch foram confirmados demonstrando que o isolado SVG00116-F de Pestalotiopsis spp. é um patógeno de folhas e frutos de mirtilo, causando os mesmos sintomas observados no campo (Fig. 2). O patógeno foi reisolado de folhas sintomáticas e identificado por características morfológicas e método molecular (Fig. 1).

Fig. 2. Brotações destacadas de mirtileiro não inoculado cv. Clímax (A). Sintomas de mancha foliar nas folhas (B a F) e

podridão nos frutos (G, H) causados por Pestalotiopsis trachycarpicola em tecidos de mirtilo aos 11 (B, D, G) e 50

(C, E, F, H) dias após a inoculação (dai). Os primeiros sintomas foram manchas necróticas (seta) nas bordas

das folhas (B, D), que posteriormente aumentaram, coalesceram e avançaram para o centro dos tecidos

foliares (C, E, F) em folhas destacadas (D a F) e das brotações (B, C) de plantas de mirtilo. Alguns

frutos apresentaram tecido necrosado nas feridas (cabeça de seta; G) que evoluíram para apodrecimento

de frutos de mirtilo (H). Os asteriscos (*) indicam a face abaxial da folha (E, F) e do fruto (H)

onde ocorreram os acérvulos (sinais). Barras: 20 mm

Em um estudo sobre a ocorrência e prevalência de espécies fúngicas causadoras de doenças foliares em mirtilo na Geórgia, a mancha foliar de Pestalotia foi a terceira doença foliar mais comum, ocorrendo em cerca de 25% das amostras em dois anos da pesquisa. Na América do Sul, o patógeno foi observado em pomares de mirtilo na Argentina, Chile e Uruguai. Até onde sabemos, este é o primeiro relato de Pestalotiopsis trachycarpicola causando mancha foliar em mirtileiro no Brasil. Pouco se sabe sobre o comportamento de P. trachycarpicola no clima brasileiro e estudos adicionais são necessários para entender os potenciais impactos econômicos desse patógeno em pomares de mirtilo.

Agradecimentos - Leonardo Araujo agradece ao CNPq pela bolsa de produtividade. Os autores agradecem ao Eng. Agr. Cau V. S. B. Neto pelas orientações técnicas. Aos técnicos da Epagri Iran S. Oliveira e Arthur O. Souza pelo suporte técnico. Este estudo foi apoiado por uma bolsa da Fapesc para Leonardo Araujo.

*Leonardo Araujo - Doutor em Fitopatologia - Bolsista de Produtividade Desen. Tec. e Extensão Inovadora do CNPq - Nível 2 - Pesquisador - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Estação Experimental de São Joaquim - SC - Brasil - Telefone: (49) 3233-8438/99803-1235 - e-mail: leonardoraujo@epagri.sc.gov.braraujo.leo@hotmail.com

Para maiores informações consulte: Araujo L, Pinto FAMF, Andrade CCL, Gomes LB, Falkenbach BR, Duarte V (2022) Occurrence of Thekopsora minima causing rust in blueberry orchards in Santa Catarina. Agropecuária Catarinense 35(1):32-35. Disponível em: file:///C:/Users/user/Downloads/lamperuch,+RAC_JanAbr22+COMPLETA+alta+final-34-37%20(1).pdf - Araujo L, Pinto FAMF, Andrade CCL, Mituti T, Falkenbach BR, Gomes LB, Duarte V (2023) Pestalotiopsis trachycarpicola causa mancha foliar em mirtilo em Santa Catarina, Brasil. Australasian Plant Disease Notes, v. 18, 2023. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s13314-023-00500-7





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