Fruticultura: o Ceará poderá mirar-se no bom exemplo do Peru

E Porto de Fortaleza quase dobra capacidade de exportação de frutas com novas rotas

14/01/2024 19:12
Fruticultura: o Ceará poderá mirar-se no bom exemplo do Peru

Missão empresarial cearense, liderada pelo consultor Carlos Matos, retornou de uma semana de viagem ao país andino, que há 10 anos exportava US$ 500 milhões em frutas e hoje exporta US$ 10 bilhões - De volta a Fortaleza e à dura realidade da agropecuária cearense, o consultor Carlos Matos, que liderou uma missão empresarial do Ceará ao Peru, defronta-se com a notícia de que, em 2024, o Nordeste todo terá um ano de seca. ?Mas é na adversidade que se conhecem os fortes?, diz Matos, repetindo um mantra japonês que ensina como superar obstáculos. 

Há apenas 10 anos, o Peru, que tem o tamanho do estado do Pará, exportava em frutas o equivalente a US$ 500 milhões. Hoje, essa exportação alcançou o patamar de US$ 10 bilhões ? ou seja, dez vezes mais do que exporta a fruticultura brasileira.

Carlos Matos observou alguns aspectos da mudança por que passou e passa o setor da fruticultura peruana. Em primeiro lugar, a legislação. Foi necessário mudar a Constituição do Peru para que os pequenos produtores fossem guindados à categoria de proprietários rurais, donos de suas próprias terras. Depois, o empresariado uniu-se para importar a tecnologia que fez do país um dos maiores exportadores latino-americanos em produtos do agro. 

Mas o Peru já enfrenta problemas, como o da oferta de água para a irrigação, que se reduziu e do alto preço dos terrenos ? um hectare, na zona rural peruana custa até US$ 100 mil. 

Além disto, há a cena política de hoje naquele país andino, que aponta para dificuldades que terá a iniciativa privada, impactando a sua fruticultura, que é grande produtor e exportador de uva, de mirtilo e de abacate, frutas que já se provaram de produção viável na região da Ibiapaba, no Ceará. 

?Essas dificuldades que começam a enfrentar os fruticultores peruanos são, do meu ponto de vista, prenúncios positivos para o Brasil, especialmente para o Ceará, que tem regiões onde o mirtilo e o abacate já se provaram, técnica e cientificamente, apropriados para o seu desenvolvimento, como é o caso da Chapada da Ibiapaba, onde essas duas culturas já recebem investimentos de agricultores cearenses?, analisa Carlos Matos.

Por sua vez, o secretário Executivo do Agronegócio do Governo do Ceará, agrônomo Sílvio Carlos Ribeiro, que integrou a missão empresarial cearense, também aposta na viabilidade da cultura do mirtilo e do abacate na Ibiapaba. 

?É algo que já se mostrou viável tanto do ponto de vista agrícola quanto da biotecnologia. O solo ibiapabano é bom, já respondeu bem às primeiras experiências de cultivo das duas frutas, faltando agora que médios e grandes fruticultores invistam nesse negócio, que é altamente rentável, tendo em vista que o mirtilo e o abacate são produtos de alto valor agregado?, comentou Sílvio Carlos Ribeiro. *Egídio Serpa/Diário do Nordeste/Fortaleza/CE - 13/12/2023. 

Missão do agro cearense esteve no Peru, que exporta US$ 10 bi em frutas - Em 25 anos, os fruticultores peruanos transformaram seu país num dos maiores produtores e exportadores mundiais de uva e mirtilo. Os cearenses querem copiar esse modelo

Uma missão empresarial cearense, liderada pelo consultor Carlos Matos, esteve desde segunda-feira em Lima, no Peru, cumprindo uma programação toda ela dedicada a contatos com empresas e empresários da fruticultura peruana.

O Peru produz e exporta anualmente em frutas o equivalente a US$ 10 bilhões; as exportações de frutas do Brasil não passam de US$ 1 bilhão. 

O time cearense, do qual fizeram parte o secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Sílvio Carlos Ribeiro, e o superintende do Senar-Ceará, Sérgio Oliveira, abriu sua programação reunindo-se com a Properu, a agência que promove e incentiva as exportações peruanas. 

O esforço exportador daquele país andino começou há 25 anos com uma mudança importante no texto de sua Constituição, que reconheceu a propriedade privada na zoina rural, beneficiando milhares de pequenos agricultores. Ao longo desses cinco lustros, as vendas das frutas peruanas para o mercado internacional foram sendo multiplicadas.

Carlos Matos posa com um cacho de uvas produzidas no Peru e destinadas à exportação. O Brasil pode copiar o modelo da fruticultura peruana - Foto: Divulgação

A produção de mirtilo, em regiões não tradicionais da fruta no Brasil, foi destaque também na RF, com matérias e artigos técnicos há cinco anos

Mirtilo, fruta de alto valor agregado, que a serra da Ibiapaba produz, é o segundo produto mais exportado pela fruticultura do Peru

A fruta mais exportada pelo Peru é a uva, com vendas que hoje chegam a US$ 1,5 bilhão; o mirtilo vem em seguida, com US$ 1,4 bilhão. As exportações de uva deverão crescer neste ano e em 2024, porque o governo do Peru acaba de abrir o mercado japonês para o seu produto.

Em seguida, a missão cearense reuniu-se com a Procitrus, uma associação que reúne empresas produtoras e exportadores de laranja, limão e tangerina, cuja produção ocupa 80 mil hectares, dos quais 11 mil são cultivados por associados da entidade.     Ontem, houve um encontro com uma executiva brasileira que é diretora de compras de uma das grandes redes de supermercados do Peru, com 900 lojas, que abriu negociações para a possibilidade de importação de produtos cearenses ? agrícolas e industriais. 

Também houve reunião com diretores da Provid, a entidade peruana que congrega 25 produtores de uva que operam uma área de 22 mil hectares.

Em mensagem a esta coluna, Carlos Matos informou que os fruticultores peruanos não aumentaram a área plantada, mas cresceram em produtividade graças a inovações tecnológicas, permitindo o desenvolvimento de novas variedades de uva. 

E o futuro é promissor para os fruticultores do Peru: está perto de ser inaugurado um novo porto marítimo, construído pela parceria da chinesa Cosco Shipping com a Volcan, uma mineradora peruana. Com esse porto, de grande profundidade, os navios, que hoje levam até 46 dias para navegar do Peru à China, levarão apenas 23 dias, pois serão eliminadas as escalas de transbordo na Califórnia e no México. Assim, as viagens serão diretas.

A missão empresarial cearense foi integrada por Carlos Matos ? CEO da Trainer Dg, organizadora da viagem; Silvio Carlos  Ribeiro ? secretário executivo do agronegócio do governo do Ceará; Sérgio Oliveira, superintendente do Senar-Ceará, representando a Federação da Agricultura (Faec); deputado Felipe Mota ? da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa; Alcides Bonella, maior produtor de abacate do Brasil; Elmo Monte, prefeito de Varjota; Luiz Felipe Santiago, gerente Executivo do Projeto de Irrigação Jaguaribe-Apodi; e Oswaldo Yamanishi, especialista em produção de mirtilo e abacate. Os cearenses foram acompanhados pela Adida Comercial da Embaixada do Brasil no Peru, Ângela Peres.

A programação da missa empresarial do Ceará prosseguiu até quarta-feira. *Egídio Serpa/Diário do Nordeste/Fortaleza/CE - 06/12/2023. 

Porto de Fortaleza quase dobra capacidade de exportação de frutas com novas rotas - Londres e Roterdã estão entre os destinos; aumento de capacidade tem relação com nova área de arrendamento - O Porto de Fortaleza, conhecido também como Porto do Mucuripe, está com quatro novas rotas de exportação de frutas nesta safra de 2023/2024 (que vai de setembro a fevereiro). São elas: Londres, Roterdã, Le Havre (França) e Vigo (Espanha).

Recentemente, o equipamento também abriu no novo gate, chamado de corredor da fruta, ou seja, um portão exclusivo para embarque de frutas, que melhora o tráfego no entorno e atende às medidas de segurança e critérios de alfandegamento.

Melhorias no Porto do Mucuripe preveem maior capacidade de escoamento da produção - Foto: Igor Machado/CDC

O porto é reconhecido por escoar a safra principalmente de melão, da região limítrofe entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte, compreendendo as cidades de Icapuí e Mossoró e arredores.

Segundo Rinaldo Lira, coordenador de Gestão de Negócios da Companhia Docas do Ceará, autoridade portuária que administra o Porto de Fortaleza, a administração tem feito um grande esforço para captar investimentos e um exemplo disto é uma área de arrendamento voltada com exclusividade para a exportação da fruta.

?É importante salientar que o porto tem um histórico de escoamento de exportação das frutas para a Europa há mais de duas décadas, mas o que estamos fazendo agora é olhando para o futuro e trabalhando na nossa consolidação neste mercado.?

Ele destaca que só com as ações pontuais feitas neste ano o volume da carga exportada quase dobrou no ano passado em comparação com 2022.

?Até pouco tempo atrás a nossa média de exportação de fruta em TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) era de 50 mil. Com o novo arrendamento dedicado ao terminal de contêineres de frutas, só esse ano (2023) já vamos movimentar algo próximo a 90 mil TEUs.?

Lira também aponta que um plano de ação está sendo construído a médio prazo, para possibilitar um aumento ainda maior de carga exportada pelo local. 

?Estamos estruturando um novo arrendamento para o terminal de frutas que está em fase de estudos no nosso poder concedente, que é o Ministério de Portos e Aeroportos. Com isso, estamos falando de uma perspectiva de, em até 25 anos, atingir 300 mil TEU/ano em contêiner refrigerado que é o especializado para o transporte de frutas.?

Melhorias de Logística - Por estar dentro da área urbana de Fortaleza, o coordenador de Gestão de Negócios da Companhia Docas revela que melhorias na infraestrutura de logística terrestre também estão sendo estudadas e projetadas.

Para um futuro próximo, ele cita a questão de pré-agendamento de caminhões e a construção de um pátio de caminhões e novos acessos (gates) ?para evitar, realmente, o engarrafamento de um maior fluxo de caminhões dentro da cidade de Fortaleza?. 

?O porto vem se estruturando, principalmente levando em consideração o fato de que somos um porto-cidade encravado dentro da malha urbana da região metropolitana de Fortaleza. Assim, precisamos prover eficiência para esse fluxo não impactar a região, por isso os estudos de novas ações.? *Paloma Vargas/Diário do Nordeste ? 02/01/2024

 





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