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Pesquisador do Instituto Biológico participa da criação de método mais rápido e eficaz para análise de resíduos em alimentos

Megamétodo pode ser utilizado para avaliar vários contaminantes de uma só vez e garantir segurança para o consumidor


Uma pesquisa internacional contou com a participação de pesquisador do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, no desenvolvimento de uma nova metodologia para identificar e quantificar contaminantes químicos em alimentos. Considerado um "megamétodo", o processo une diversos tipos de análises e é capaz de identificar, ao mesmo tempo, um grande número de compostos exigidos pela legislação brasileira.

"Esse trabalho é a evolução de um método que revolucionou a área de análise de resíduos de contaminantes", diz o pesquisador do IB Sérgio Monteiro, que participou da pesquisa durante seu pós-doutorado no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Conforme explica, no laboratório onde atuou, havia sido criada há alguns anos uma metodologia inovadora que possibilitava a análise de diversos tipos de resíduos em alimentos ao mesmo tempo. A tecnologia, conhecida pela sigla QuEChERS (em inglês: rápido, fácil, barato, efetivo, robusto e seguro) já vem sendo utilizada amplamente desde 2003 quando foi desenvolvida pelos pesquisadores Michelangelo Anastassiades e Steven Lehotay. "Juntamente com Lehotay, que desenvolveu esse método, comecei a melhorá-lo", conta Monteiro. Surgia, assim, uma nova versão - o QuEChERSER, que significa "mais do que QuEChERS".

O pesquisador do IB explica que a análise de resíduos de contaminantes em alimentos envolve algumas fases: preparo da amostra, extração, purificação e a análise cromatográfica. No novo método que ajudou a desenvolver, a principal inovação é a automatização de parte destas etapas, com o uso de robôs, além do aperfeiçoamento de todo processo. "No nosso caso, o método utiliza dois tipos de análises cromatográficas ao mesmo tempo, líquida e gasosa, os quais quantificam mais de 250 princípios ativos, por isso chamamos de megamétodo", detalha Monteiro. De acordo com o especialista, isso permite que seja feita uma varredura bastante ampla, identificando vários resíduos químicos que possam estar presentes nos alimentos, desde pesticidas a drogas veterinárias e contaminantes ambientais. "Conseguimos analisar tudo em um único método, o que, anteriormente, iria requerer diversas análises", alega o especialista. "Isso diminui principalmente o tempo de análise e a mão-de-obra empregada até termos os resultados", complementa.

Desenvolvido o método, o pesquisador do IB lembra que é preciso testá-lo para os diferentes tipos de alimentos (matrizes), a fim de comprovar sua eficiência para cada caso - a chamada validação. Em sua pesquisa, Monteiro trabalhou inicialmente com a carne bovina, levando em conta a importância que o mercado tem para o Brasil, 2° maior produtor mundial. Em seguida, ampliou a análise também para peixes. "O objetivo era que o método abrangesse o máximo possível de compostos que fazem parte do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (PNCRC/MAPA), solicitado aqui no país para controle de contaminantes em carne", comenta o especialista. "Atualmente, temos que fazer vários tipos de análises para cobrir todos aqueles compostos que são exigidos", agrega.

Os resultados obtidos foram bastante animadores, na opinião do pesquisador, e o QuEChERSER se mostrou eficaz para a análise de 85% dos 259 contaminantes testados - uma porcentagem significativa para metodologias do tipo multirresíduos. Com base na pesquisa, foram publicados dois artigos em revista científica internacional (acesse  aqui aqui, em inglês). Como próximos passos, Monteiro diz que, em breve, devem ser publicados novos trabalhos, tratando da aplicação da metodologia a outros tipos de carnes.

Tecnologia para um alimento seguro - De acordo com o especialista, a análise de contaminantes em alimentos não é uma mera formalidade, mas algo que pode ter impacto direto na vida da população. "A análise de resíduos é importante principalmente para garantir que o alimento que você está consumindo é seguro, que os níveis de resíduos presentes estejam abaixo dos limites máximos de resíduos estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores, nacionais e internacionais", informa Monteiro. No caso da carne, elucida, é feita uma vistoria tanto para pesticidas - aplicados no combate a carrapatos, ingeridos através do milho na ração, ou até mesmo no pasto -, quanto para os antibióticos, que são ministrados para a saúde do animal.

Além da saúde da população, esse tipo de análise é fundamental do ponto de vista econômico, em virtude das barreiras comerciais impostas à exportação de alimentos. "Além de grande produtor, o Brasil é grande exportador de carne. Se os produtos exportados chegam com resíduos de contaminantes no país que importou, eles podem ser barrados e não conseguir entrar", alerta Monteiro. Como consequência, são gerados entraves econômicos e acaba-se perdendo dinheiro, tanto por parte de quem está comercializando quanto pela não arrecadação de impostos, que deixam de retornar para a sociedade.

Como pontua o especialista, isso não é necessário apenas para a carne, mas para alimentos em geral. O Laboratório de Resíduos de Pesticidas do IB, onde Monteiro trabalha, realiza também análises destes contaminantes em frutas, verduras, legumes, cereais, leite e ovos (alimentos de origem vegetal e animal em geral), atendendo empresas, produtores rurais, exportadores e instituições acadêmicas. O laboratório é acreditado para fazer as análises de resíduos de pesticidas pela norma NBR ISO/IEC 17025, que atesta que o serviço prestado é confiável, com reconhecimento internacional. "Estamos trabalhando para poder aumentar o nosso escopo, atendendo também as análises de antibióticos e contaminantes ambientais no monitoramento dos alimentos", assegura o pesquisador. Contando com equipe técnica altamente qualificada, em casos mais específicos, o Laboratório desenvolve ainda métodos de análise próprios visando atender as necessidades do cliente. "Ainda não temos a tecnologia do QuEChERSER disponível no Brasil, mas estamos buscando, com o apoio do novo Secretário de Agricultura e Abastecimento, Itamar Borges, o qual visitou o laboratório há poucos dias, para que seja possível obter os equipamentos no futuro e utilizá-los em nossas pesquisas e prestação de serviços no IB", finaliza Monteiro.

Mais informações sobre os serviços prestados pelo Laboratório podem ser obtidas no  site da Instituição. *Gustavo Almeida/Assessoria de Imprensa - APTA

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