Nas primeiras horas do dia, enquanto prepara o café da manhã, o agricultor e prestador de serviços rurais, Adriano Valim, lê mensagens, vê cotações e a previsão do tempo, tudo na tela do celular.  A internet chegou à propriedade rural, no município de São João da Boa Vista, a 218 quilômetros da capital paulista, em 2012. Naquele momento, o acesso era pelo computador de mesa, com o auxílio de seus filhos.  Mas foi no começo de 2016 que o agricultor substituiu o telefone celular simples por um smartphone.

Com a tecnologia em mãos, ele viu oportunidades para ampliar seus negócios. Como prestador de serviços de beneficiamento de grãos, nos últimos anos, Valim tem fechado contratos de trabalho por Whatsapp. "Converso com produtores da região sobre o serviço por mensagem, não precisa nem ligar", conta o empresário rural, animado com a novidade tecnológica.

Aparelhos móveis - No Brasil, é o smartphone que encabeça o uso da internet no campo: 61% dos produtores rurais acessam à web pelo aparelho celular, como aponta a 7ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), realizada em 2016. Um crescimento de 46% em comparação a edição anterior do levantamento, feito em 2013.

O Whatsapp é o aplicativo preferido pelos agricultores, 96% dos entrevistados da pesquisa feita pela ABMRA utilizam o sistema de mensagens instantâneas. Depois vem o Facebook, com 67%, e o Youtube, com 24%. Assim, além das conversas de socialização, produtores rurais têm usado as redes sociais como canais para divulgar e vender serviços e produtos. Para o diretor de Pesquisas da ABMRA, Ricardo Nicodemos, este número está em crescimento. "Além de políticas públicas e a ampliação de atuação dos provedores no campo, outro dado que explica o aumento da internet na área rural, é o uso do smartphone, dispositivo muito utilizado pelos agricultores", explica Nicodemos.

Em muitas propriedades, nem sempre o sinal das operadoras móveis chega com facilidade. O 3G ou ainda 4G, já bem desenvolvidos em médias e grandes cidades do país, estão longe de se tornar realidade. Sendo assim, a internet via rádio é uma alternativa para quem vive na zona rural. 

Na região de São João da Boa Vista, uma empresa local oferece plano de internet a partir de R$ 35 mensais para quem está no campo. "Atendemos exclusivamente os agricultores e moradores da zona rural -- são mais de 500 clientes de sítios e fazendas", comenta Antônio Maurício Neto, proprietário da Iconnect Telecomunicações.

Sempre online - Em Lençóis Paulista, a 289 quilômetros de São Paulo, o agronegócio de Douglas Amaral já nasceu conectado. Produtor de banana há cinco anos, desde o início usa ferramentas digitais para facilitar as atividades nas lavouras. Ano passado, para ajudar com as questões climáticas, tão importantes no dia-a-dia no campo, Amaral baixou em seu smartphone o aplicativo Agritempo, da Embrapa.

Para programar as atividades na propriedade, Amaral, que é formado em sistema de informação, acessa o serviço online diariamente. "Vejo a previsão do tempo do Agritempo. Se vai chover amanhã, antecipo a adubação, por exemplo, pois a chuva absorve o adubo", explica.

A previsão do tempo, índices de seca e chuva são alguns dados que o agricultor tem no aplicativo. "Podemos acessar no campo para tomada de decisões rápidas, sem precisar de um computador. Apesar de alguns problemas de atualização, o aplicativo no celular facilita as atividades, principalmente para os pequenos", afirma Amaral.

Aplicativos para o campo - O Agritempo nasceu na web, mas em 2015 ganhou uma versão mobile. "A demanda em criar uma versão para smartphone veio dos agricultores", afirma a pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária, em Campinas, Luciana Romani, que participou do desenvolvimento do serviço digital. É crescente o número de empresas e instituições públicas que estão lançando serviços mobile para empresários rurais.

Segundo Nicodemos, da ABMRA, os aplicativos estão ganhando espaço no campo. Há apps que ajudam o produtor em sua rotina diária. Dos mais simples, com agenda, até os mais complexos, que identificam tipos de pragas. "Estamos mais conectados, nosso trabalho foi facilitado e está ficando melhor", afirma o agricultor Valim.

*Jeferson Batista - Revista da Fruta - www.revistadafruta.com.br