Frutas nativas brasileiras. O potencial que ainda passa desapercebido
Algumas frutas, como açaí, goiaba, abacaxi, caju e cupuaçu são exemplos de fruteiras nativas brasileiras já consagradas
O aumento do cultivo e oferta dessas frutas ainda está muito a quem do potencial existente na flora brasileira. O aumento de sua exploração passa pela necessidade de investimento em estudos que possibilitem o alcance da seleção, melhoramento e divulgação de conhecimento para melhorar o aproveitamento destas fruteiras por parte dos agricultores e comunidades. Ampliar o conhecimento é importante para a produção, principalmente na agricultura familiar e também para os consumidores, que muitas vezes não possuem a mínima informação sobre esses alimentos, principalmente quando relacionado as possibilidades de uso.
Portanto, a exploração comercial dessas frutas pode representar fonte de renda para agricultura familiar dentro de um ecossistema sustentável. Sim, estas fruteiras carregam em seu genótipo alta capacidade de adaptação e rusticidade, produzindo em diversas condições que permitem serem utilizadas sistemas de plantio comercial, em sistemas agroecológicos e agroflorestais por exemplo.
Algumas frutas, como açaí, goiaba, abacaxi, caju e cupuaçu são exemplos de fruteiras nativas brasileiras já consagradas, pois possuem uma exploração mais avançada e conhecida. Por outro lado, o conhecimento sobre a maioria dessas é reduzido, limitando-se ao consumo local/regional. Cerca de 300 frutas nativas brasileiras registradas, ainda são pouco consumidas e/ou conhecidas pela população. Estas frutas possuem potencial para geração de empregos e renda, uma vez que 27% da mão de obra agrícola do país é empregada para o cultivo de frutas (Gobbi, 202). Entre estas frutas, citam-se as da família Myrtaceaes (jabuticaba, pitanga, araçá, guabiroba, sete-capotes, uvaia, cereja do mato etc) (Figura 1). A potencialidade econômica para comercialização é grande, pois essas frutas apresentam notáveis características sensoriais para consumo in natura, ou para a utilização no processamento de alimentos ou pela utilização de seus óleos essenciais (fármacos) etc.
Figura 1 - Frutas nativas Myrtaceaes (guabiroba, guabiju, uvaia, sete capotes, jabuticaba,
pitanga, feijoa ou goiaba serrana (flor e fruto), araçá amarelo e cereja do mato - Fonte: Américo Wagner Jr.
As frutas nativas brasileiras são conhecidas pela peculiaridade de suas características, formas de consumo e potencialidades nutricionais e mesmo medicinais. A utilização se dá não somente por meio das frutas de forma in natura. Também, pelas polpas, sementes, cascas, caules, folhas, e raízes, pois podem conter propriedades importantes como atividade antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória e anticancerígena.
A produção ainda se dá de forma modesta em fundo de quintal e o consumo/aproveitamento é feito de modo empírico, como alimento ou "medicamento".
Se considerarmos todas essas informações, por que ainda não demos a devida importância para as nossas frutas nativas brasileiras e continuamos investindo somente nas exóticas? Na era da informação rápida pelas mídias, ainda não se despertou o interesse pela divulgação de nossas frutas, diferente do que o que acontece com as informações vinculadas ao veganismo, por exemplo. Um dos meios mais potentes da divulgação e engajamento de conhecimento tem sido as mídias e/ou redes sociais. Estudos buscando avaliar o interesse dos consumidores, a partir do uso das mídias sociais, tem sido feitos com o propósito de pesquisa de mercado, potencial de consumo, tendências alimentares, etc.
Neste sentido, quantas e quais seriam as informações que circulam entre os usuários de rede social sobre potencialidades de consumo e utilização de frutas nativas brasileiras?
Para avaliarmos esta percepção dos usuários/consumidores foi necessário pesquisarmos por termos e textos relacionados a frutas nativas brasileiras, considerando aspectos positivos, negativos ou neutros. Em nossa pesquisa, escolhemos o Instagram, onde há mais citações sobre o tema e é uma das mídias mais utilizadas atualmente no país. Foram utilizadas 10 hashtags: frutas nativas, frutas nativas do brasil, frutas nativas brasileiras, frutas brasileiras, frutas regionais, pitanga, jabuticaba, araçá, açaí e cupuaçu. Estas buscas geraram palavras chaves, as quais permitiram a construção de um infograma (https://infogram.com) (Figura 2). No infograma, os termos mais citados aparecem em tamanho de fonte maior. As palavras encontradas permitiram classificar em 4 categorias, nas quais foram divididas em 1. pesquisa e desenvolvimento; 2. sustentabilidade/agricultura familiar/ecoturismo; 3. saudabilidade/saúde e, 4. Espécies.
Fonte: https://infogram.com
O número de citações e ou menções dos termos relacionados à frutas nativas é muito reduzido, se compararmos a outros estudos já realizados em condições semelhantes. Por exemplo, um estudo sobre de veganismo e dietas à base de plantas em mídias sociais mostra milhares de citações e termos relacionados ao tema (Aleixo et al., 2021). Em nosso estudo tivemos algumas dezenas e centenas de menções para alguns, considerando a citação de espécies. Os índices de percepção relacionada aos termos sobre fruteiras nativas brasileiras são reduzidos e foram menores que as citações das espécies (Figura 2). Isto mostra o pouco conhecimento e divulgação para a comunidade geral, se considerarmos o alcance das mídias e outros alimentos já estudados por estas metodologias, principalmente se associado as potencialidades que as fruteiras nativas proporcionam.
Diante disso, nossa investigação pelas mídias sociais demonstra uma reduzida exploração e conhecimento acerca das frutas nativas brasileiras. O levantamento de dados mostra poucas informações acerca de alimentos à base dessas frutas. Algumas fruteiras nativas ou poucas espécies são conhecidas, porém o que surpreende é que a maioria não são citadas. Se consideramos a importância que as mídias sociais possuem na atualidade, temos uma lacuna significativa a ser preenchida para popularizar e informar sobre o potencial das frutas nativas brasileiras, com a divulgação dos estudos que vem sendo realizados.
As políticas públicas para desenvolvimento de um setor de produção de alimentos passam pelo conhecimento e demanda pelos consumidores. Temos uma quantidade significativa de conhecimento sobre produção e aproveitamento das frutas nativas que ainda não chegou ao mercado consumidor. As mídias e redes sociais são ferramentas fundamentais neste processo de divulgação.
Referências: ALEIXO, Marina GB et al. Using Twitter® as source of information for dietary market research: a study on veganism and plant?based diets. International Journal of Food Science & Technology, v. 56, n. 1, p. 61-68, 2021. KÖHLER, M.; BRACK, P. Frutas nativas no Rio Grande do Sul: cultivando e valorizando a diversidade. Agriculturas, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 6-15, 2016. MARQUETTI, C., T.B. DOS SANTOS, K.F.C. KAIPERS, B.R. BÖGER, I.B. TONIAL, et al. 2018. Jaboticaba skin flour: analysis and sustainable alternative source to incorporate bioactive compounds and increase the nutritional value of cookies. Food Sci. Technol. 38(4): 629-638. doi: 10.1590/FST.06717. VANIN, C.D.R., R.F. DOS SANTOS, I.B. TONIAL, T.B. DOS SANTOS, A. WAGNER JUNIOR, et al. 2020. "Yellow Araçá" flour (Psidium cattleyanum cv. Ya-cy) in cereal bars - nutritional and functional potential. Food Sci. Technol. doi: 10.1590/FST.29320. SOCIAL SEARCHER - Motor de busca de mídia social gratuito. Disponível em: https://www.social-searcher.com/. Acesso em: março, 2022. "CONECTE-SE". Infogram. Disponível em: https://infogram.com/app/#/library. Acesso em: 19 de agosto de 2022. *Autores: Bruna Gomes das Virgens Gobbi; Sarah Nicolle Carvalho de Lima; Natalia Gatto, Americo Wagner Jr; Cleusa Ines Weber; Luciano Lucchetta.
**Prof. Dr. Luciano LUCCHETTA - Fone: 46 99141-7791 - [email protected] - UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - CAMPUS FRANCISCO BELTRÃO