Artigos Técnicos

Micropropagação de Kiwizeiros (Actinidia arguta, Actinidia deliciosa e Actinidia chinensis)

Para micropropagar kiwizeiros com sucesso, é de suma importância dispor de protocolos validados nas condições brasileiras


Introdução - O kiwizeiro pode ser propagado por método sexual (sementes) ou assexual (estaquia, alporquia, enxertia ou micropropagação). As plantas obtidas de sementes são, em sua maioria (até 80 %), masculinas. Além disso, a variabilidade de plantas obtidas por sementes, devido à segregação genética, inviabiliza a obtenção de clones, não recomendando-se o plantio das mesmas para obtenção da planta produtora. No sul do Brasil, normalmente a variedade produtora (copa) é enxertada sobre o porta-enxerto, o qual costuma ser propagado de forma sexuada (Saquet; Brackmann, 1995; Souza et al., 1996).        

Existem dois importantes métodos de propagação para a produção em larga escala de mudas de qualidade, que garantem a preservação das características da planta mãe de geração a geração: estaquia e micropropagação. Entretanto, a estaquia só é viável em uma época restrita do ano, sendo necessário o uso da micropropagação no restante do tempo.

Os patógenos do sistema vascular são graves ameaças aos plantios comerciais de kiwi no Sul do Brasil, sendo Ceratocystis fimbriata (Ell. & Halst.) responsável pelo extermínio anual de 15 % dos plantios na Serra do Nordeste do estado do Rio Grande do Sul (Silveira et al., 2012; Soares, 2017). A micropropagação permite gerar e manter matrizes isentas de patógenos, assegurando o fornecimento de mudas sadias aos agricultores.

Para micropropagar kiwizeiros com sucesso, é de suma importância dispor de protocolos validados nas condições brasileiras. Um protocolo de micropropagação foi ajustado, testando-se recipientes e substratos disponíveis no Brasil para promover a simultaneidade das etapas de enraizamento e aclimatização de mudas de kiwizeiro das espécies Actinidia arguta ((A. Chev.) E.F. Liang & A.R. Ferguson), Actinidia deliciosa ((A. Chev.) E.F. Liang & A.R. Ferguson) e Actinidia chinensis (Planch.). Esta tecnologia pode ser consultada na Circular Técnica número 150, publicada em julho de 2020, da Embrapa Uva e Vinho, que pode ser acessada no sítio <https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1123819/micropropagacao-de-kiwizeiros-actinidia-arguta-actinidia-deliciosa-e-actinidia-chinensis>.

Etapas da micropropagação - A micropropagação envolve quatro etapas: indução de explantes iniciais, multiplicação de brotações, enraizamento de brotações e aclimatização ex vitro da muda (Grattaplaglia e Machado, 1998). Destas, a etapa de enraizamento é a mais problemática para o kiwi, pois as raízes formadas in vitro não são funcionais (Pedroso et al., 1992). O enraizamento ex vitro foi demonstrado viável e vantajoso para micropropagação comercial de várias espécies, como teca (Fermino Jr. et al., 2011), carvalho-vermelho (Meier-Dinkel et al., 1993), macieira (Pedrotti & Voltolini, 2001), amoreira-preta (Pelizza et al., 2013), eucalipto (Xavier & Comério, 1996) e ornamentais (Debergh & Maene, 1981), tornando o processo menos oneroso e mais eficiente.

  • A viabilidade do enraizamento de brotações geradas in vitro em substrato foi demonstrada para batata por Rigato et al. (2001) e ajustada para kiwi conforme citação em Rigato (2006), motivando a execução do trabalho apresentado na Circular Técnica número 150, que permite desonerar e abreviar com sucesso o protocolo de produção comercial de mudas de kiwizeiro no Brasil.
  • O enraizamento de brotos micropropagados é uma etapa realizada classicamente in vitro (Álvares et al., 1989; Harbage & Stimart, 1996; De Klerk et al., 1997). O enraizamento ex vitro diretamente na aclimatização em substrato reduz custos e mão-de-obra na propagação de mudas (Augusto et al., 2006), ocorrendo formação de novas raízes em substratos porosos, com condições físicas e nutricionais adequadas (Pedrotti & Voltolini, 2001). Como estratégias adaptativas, as plantas aclimatizadas devem desenvolver mecanismos de controle da transpiração e condutância estomática (Diaz-Perez et al., 1995; Pospisilová et al., 1999), ativar os mecanismos de controle de perda de água pelas células (Sutter, 1988) e aumentar a taxa fotossintética (Van Telgen et al., 1992).

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Samar Velho da Silveira[1], Lia Rosane Rodrigues[2], Flavio Bello Fialho1 - [1]Embrapa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95701-008, Bento Gonçalves, RS. E?mail:[email protected], [email protected]; [1]Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]

 

 

 

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