Eventos

Vitivinicultura brasileira perde o pesquisador Alberto Miele

Ao longo desses quase 46 anos, dedicou-se a pesquisar a uva e seus derivados, como vinho, espumantes e suco de uva


Nesta terça-feira, dia 2 de março, Alberto Miele, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, faleceu  em decorrência de complicações pós-cirúrgicas, em Porto Alegre (RS).

A trajetória do agrônomo Alberto Miele se confunde com a própria história da Embrapa Uva e Vinho. Ele foi um dos primeiros pesquisadores, atuando desde a implantação da Unidade em Bento Gonçalves, no ano de 1975. Ao longo desses quase 46 anos, dedicou-se a pesquisar a uva e seus derivados, como vinho, espumantes e suco de uva, especialmente nas áreas de Ciência e Tecnologia de Alimentos - composição físico-química e análise sensorial - e Fisiologia de Produção da videira.

Não apenas as suas pesquisas foram fundamentais para o desenvolvimento do setor vitivinícola brasileiro e da Embrapa, mas a sua atuação na orientação de novos pesquisadores foi marcante, tendo sido orientador de diversos profissionais que posteriormente vieram a se tornar seus colegas de pesquisa na Embrapa Uva e Vinho, como é o caso de Jorge Tonietto.

Como outro legado, podemos citar sua vasta lista de publicações técnicas, com mais de 80 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais, todos tentando desvendar a composição dos vinhos e suco. Em parceria com o empresário Adriano Miolo, do Miolo Wine Group, lançou em 2003 o livro " O sabor do Vinho", uma obra ilustrada, que ao longo das mais de cem páginas aborda desde a história do vinho até a harmonização da bebida.

Ele também foi editor-chefe da Revista Brasileira de Viticultura e Enologia e prestou importante serviço como assessor de diversas revistas científicas, como Ciência e Tecnologia de Alimentos; Revista Brasileira de Fruticultura; Ciência Rural; Scientia Agricola; Ciência e Agrotecnologia; Revista Brasileira de Agrociência; Brazilian Journal of Microbiology; Pesquisa Agropecuária Científica. Também colaborava com outras instituições, como a Editora Universidade Federal do Paraná e a Associação Dr. Bartholomeu Tacchini.

Também merece destaque na sua trajetória a sua atuação como consultor 'ad hoc' do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além dos orientados de pós-graduação, também repassou seus ensinamentos aos alunos do Curso de Viticultura e Enologia, do atual Instituto Federal do Rio Grande do Sul - Bento Gonçalves.

Foi idealizador e fundador da Confraria Cavaleiros do Vinho da Serra Gaúcha e membro do Grupo de Degustação do Conselho Regulador da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e do Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia. Em 2015, recebeu o Troféu Vitis - Destaque Enológico, da Associação Brasileira de Enologia, em reconhecimento ao seu trabalho em prol da Vitivinicultura nacional.

Alberto Miele era natural de Bento Gonçalves e iria completar 80 anos no dia oito de julho. Formou-se agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1965), cursou mestrado em Fisiologia Vegetal pela University of California at Davis (1977) e doutorado em Viticultura e Enologia pela Université de Bordeaux II, na França (1986). Era sócio de instituições científicas como a American Society for Enology and Viticulture, International Society for Horticultural Science, Sociedade Brasileira de Fruticultura, Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Sociedade Brasileira de Fisiologia Vegetal e da Associação Brasileira de Enologia). Miele deixa a esposa Divete, os filhos Eduardo, Marcelo e Luciana, Noras e genro Mariana, Patrícia e André, e os netos Davi, Caio e Rodrigo.

Os atos fúnebres ocorrem na quarta-feira, dia 03. Em função da pandemia serão restritos à família.

"A passagem de um colega sempre nos faz lembrar a efemeridade da nossa existência e o quanto é importante deixarmos um legado ao longo da nossa trajetória. E o legado deixado para a vitivinicultura pelo pesquisador Alberto Miele é inquestionável. Não apenas para a brasileira, mas foi nosso representante em diversos fóruns internacionais. É uma grande perda", Chefias da Embrapa Uva e Vinho.

"A Associação Brasileira de Enologia, em seus quase 45 anos, atravessou safras, escrevendo a evolução do vinho brasileiro. E isso somente aconteceu porque muitos foram os protagonistas deste universo científico e cultural que é a vitivinicultura. Hoje, o mundo do vinho está insípido. Perdemos um grande nome da pesquisa no setor. Alberto Miele, Doutor em Viticultura e Enologia pela Université de Bordeaux II, nos deixa órfãos de um conhecimento incomparável. O editor-chefe da Revista Brasileira de Viticultura e Enologia, publicada pela ABE desde 2008, é dono de um currículo invejável marcado por méritos alcançados pelo estudo, pesquisa e dedicação em torno da uva e do vinho. São mais de 55 anos de trabalho junto ao setor. Nos conforta, mesmo que seja irreparável a perda, lembrar que o homenageamos com o Troféu Vitis Destaque Enológico em 2015. Perdemos um associado, perdemos um investigador, um estudioso, um amigo do vinho brasileiro."  Diretoria Associação Brasileira de Enologia

"Alberto Miele foi meu orientador no mestrado realizado na UFPEL em 1978/79, no tema do uso dos reguladores de crescimento em viticultura, linha de pesquisa importante na época, da qual era especialista, com formação na Universidade de Davis, Califórnia. Miele primava pelo rigor científico, incluindo os delineamentos experimentais e análises estatísticas. Através dele, realizei minhas primeiras pesquisas na então UEPAE de Bento Gonçalves, hoje Embrapa Uva e Vinho, o que possibilitou, na sequência, vir a integrar o quadro de pesquisadores da Unidade, que era o meu maior desejo para o exercício da carreira profissional. Lembro também que Miele fez renascer o Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia que tinha tido sua última edição no início da década de 1950." Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho

*Viviane Zanella - Embrapa Uva e Vinho - Contatos para a imprensa: [email protected]

 

Comentários