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Elaboração de geleia de cagaita como método de conservação e aproveitamento de frutos do Cerrado

Produção da cagaita se concentra entre os meses de outubro a dezembro, ocorrendo cerca de 500 a 2000 frutos/planta


O Cerrado brasileiro corresponde a uma vasta área territorial com aproximadamente 2 milhões de km2 que compreende a 22 % de todo território nacional e apresenta uma ampla biodiversidade de flora com aproximadamente 12 mil espécies de plantas nativas conhecidas. Esse bioma tem despertado grande interesse por parte dos pesquisadores e ao mesmo tempo uma enorme preocupação, pois o mesmo tem sido extremamente devastado nos últimos anos, havendo assim uma grande perda da biodiversidade e consequentemente desperdício de uma boa fonte de fitoquímicos, provenientes dos frutos do cerrado.

Dentre as espécies presentes nesse bioma, se destaca a cagaita (Eugenia dysenterica Dc), a mesma pertence à família Myrtaceae, é um fruto globoso, de coloração amarelo-pálido, com 1 a 3 sementes brancas envoltas em polpa de coloração creme e de sabor acidulado. Essa fruta é rica em fitoquímicos como, por exemplo, flavonoides, carotenoides e taninos, também possui alto teor de vitamina C. Esses constituintes conferem ao fruto elevada capacidade antioxidante. Assim, os mesmos agem interagindo com os radicais livres antes que estes possam reagir com as moléculas biológicas, ajudando a prevenir inúmeras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como câncer, aterosclerose, artrite reumática, entre outras.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Brasil Food Trends 2020, os consumidores estão preferindo a ingestão de alimentos mais saudáveis com qualidades nutricionais e sensoriais que possam promover bem estar. Portanto, é interessante a inserção de formulações e produtos desenvolvidos à base de frutos do cerrado, como por exemplo da cagaita devido aos efeitos benéficos que a mesma pode proporcionar à saúde.

A produção da cagaita se concentra entre os meses de outubro a dezembro, ocorrendo cerca de 500 a 2000 frutos por planta. Entretanto, a mesma possui alta perecibilidade, o que prejudica a comercialização do fruto in natura. Assim, faz-se necessário a aplicação de métodos de conservação e aproveitamento desse fruto que permitam o seu fornecimento durante todo o ano e também possa atender a demanda do mercado por produtos saborosos e com potencial funcional.

O processamento de sorvetes, compotas e bebidas são uma boa alternativa para conservação de frutos altamente perecíveis. Outra possibilidade muito utilizada é a elaboração de geleias. De acordo com a legislação a geleia, é um produto alimentício obtido pela cocção de frutas, inteiras ou em pedaços, polpa ou suco, com açúcar e água e concentrado até consistência gelatinosa.

Em um estudo realizado pela Universidade Federal de São João Del Rei- Campus Sete Lagoas, obteve-se teores de flavonoides satisfatórios para geleia de cagaita quando comparado ao teor encontrado por Santos (2015) em frutos de cagaita in natura. É de grande interesse científico o estudo dos flavonoides devido aos efeitos benéficos à saúde humana. Tem sido relacionado à atividade antialérgica, anti-inflamatória, antiviral, antialérgica e antioxidante.

Considerando que a geleia de cagaita é um produto açucarado e que geralmente é consumida em baixa quantidade, é interessante detectar a presença de compostos bioativos, pois estes ainda que baixos, contribuem para a saúde e bem estar do consumidor.

Diante do exposto, pode-se ressaltar também a importância da preservação do Cerrado buscando, resgatar a preservação de árvores frutíferas nativas do Cerrado e a conscientização da população sobre o plantio e proteção dessas espécies. * Bárbara Teixeira Schultz, Graduanda em Engenharia de Alimentos- Universidade Federal de São João Del Rei- Campus Sete Lagoas/MG; Bárbara Moreira Silva, Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos - Universidade Federal de Viçosa, MG; * Lanamar de Almeida Carlos, Departamento de Engenharia de Alimentos - Universidade Federal de São João Del-Rei - Campus Sete lagoas/MG.

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