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Entenda o greening, doença que pode devastar os pomares de laranja

Sem cura e com crescimento vertiginoso no Brasil, doença precisa de manejo adequado


greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, é uma doença que ataca todos as lavouras de cítricos, não apenas no Brasil, mas em outros 130 países. Ela não tem cura e já consumiu mais de US$ 2 bilhões nos EUA na tentativa de ser controlada.

Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a incidência do greening cresceu 56% e passou de 24,4% em 2022, para 38,06% em média em 2023. 

O que é o greening? - É uma doença causada por uma bactéria transmitida pelo psilídeo Diaphorina citri , conhecido dos citricultores há 20 anos.O inseto tem coloração branca acinzentada e manchas escuras nas asas, com comprimento de 2 mm a 3 mm, e muito frequente nos pomares nas épocas de brotação das plantas. 

Como tudo começou - Encontrado pela primeira vez na Ásia há mais de 100 anos, o greening foi identificado no Brasil em 2004, nas regiões Centro e Leste do Estado de São Paulo. Hoje, está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e pomares de Minas Gerais e Paraná, além de Argentina e Paraguai, na América do Sul, em quase todos os países da América Central e Caribe, e México e Estados Unidos, na América do Norte.

Os pomares com alta incidência da doença e sem o adequado controle do inseto vetor representam uma séria ameaça aos pomares vizinhos, porque as plantas doentes servem como fonte da bactéria, que será adquirida pelos psilídeos ao se alimentarem ou se reproduzirem nelas. Ao se alimentarem em plantas sadias, os insetos disseminam a bactéria e a doença pelo próprio pomar e para outras propriedades da região. 

Ciclo - Plantas infectadas e psilídeos com a bactéria são os responsáveis pela sobrevivência e disseminação da doença. Tanto a bactéria quanto o psilídeo se reproduzem em todos os tipos de citros (laranjas, tangerinas, mexericas, limas-ácidas e limões). Psilídeos também se reproduzem na planta ornamental Murraya paniculata, conhecida como murta, falsa murta ou dama da noite e que é muito utilizada na arborização urbana e como cerca viva.

A bactéria vive nas 'veias' das plantas (vasos do floema), por meio das quais ela se espalha rapidamente para todas as partes da árvore: raízes, ramos, folhas e frutos. Quando há sintomas nas folhas ou frutos da extremidade dos galhos, a bactéria já se espalhou para toda a planta, inclusive parte baixa do tronco e raízes. É por isso que a poda de ramos com sintomas é inútil e até perigosa. Além de não curar a planta, as brotações que surgem após a poda servem como atrativo para o inseto vetor, que irá adquirir a bactéria e disseminá-la para plantas sadias, provocando novas infecções.

Folhas manchadas são sintomas de greening - Foto: Fundecitrus/Divulgação

Após a transmissão da bactéria pelo psilídeo, os sintomas do greening começam a aparecer nas folhas das árvores mais ou menos quatro meses depois e continuam a aparecer ao longo do ano. Uma planta infectada, mas ainda sem sintomas, já pode servir de fonte da bactéria para plantas sadias. É por isto que as laranjeiras devem ser vistoriadas frequentemente por pessoas que conheçam bem os sintomas do greening para que, ao longo do tempo, as plantas doentes sejam totalmente eliminadas de uma determinada área.

O psilídeo passa por seis estágios de desenvolvimento de ovo a adulto. Ele adquire a bactéria ao se alimentar nas plantas doentes e a transmite ao se alimentar nas sadias. Tanto a aquisição quanto a transmissão da bactéria ocorrem depois de 15 minutos de alimentação, mas quanto mais tempo ele se alimenta, maiores são as taxas.

A aquisição também é maior quando o psilídeo está na fase de ninfa, e a transmissão maior em brotos do que em folhas maduras. Por isso é que não se deve deixar plantas doentes no pomar. Praticamente todos os psilídeos que se alimentarem e reproduzirem nela irão disseminar a bactéria da doença.

O correto é eliminar a árvore com greening onde quer que ela esteja localizada no pomar e tão logo seja encontrada. Como o psilídeo prefere brotações para se alimentar e reproduzir, a única maneira de proteger uma planta sadia de ficar doente é pulverizá-la com inseticidas. E a aplicação deve ser constante devido ao rápido crescimento dos brotos.

É importante lembrar que a bactéria também pode ser transmitida pela enxertia de borbulhas infectadas em plantas sadias e que mudas contaminadas pelo greening são um importante meio de disseminação da doença. Por esse motivo, é necessário que tenham procedência idônea e sejam produzidas em viveiros telados. Diferente da bactéria do cancro cítrico, a bactéria do greening não é disseminada por sementes, vento, água ou qualquer instrumento agrícola. 

Quais os sintomas do greening? - Os sintomas do greening podem ser vistos durante o ano todo, com maior frequência entre o final do verão e o início da primavera. Primeiramente, observa-se a presença de um ou mais ramos com folhas amareladas, quando jovens, e mosqueadas, quando maduradas.

O mosqueado se caracteriza por manchas irregulares no limbo foliar, que alternam gradativamente entre o verde e o amarelo, sem simetria entre as duas metades da folha. As folhas afetadas tendem a cair e em seu lugar surgem novas brotações pequenas com folhas na posição vertical, como "orelhas de coelho". Em alguns casos, a nervura da folha fica grossa e mais clara (amarelada), podendo também ficar áspera (corticosa).

Laranja infectada com greening - Foto: Fundecitrus/Divulgação

Os frutos de ramos com sintomas do greening não amadurecem normalmente, adquirem uma coloração verde clara manchada e caem precocemente. Geralmente, ficam deformados, pequenos e assimétricos em relação à columela central. Na região de inserção do pedúnculo, observa-se uma coloração alaranjada.

Ao cortar o fruto, é possível verificar internamente filetes alaranjados na columela a partir da região do pedúnculo, sementes abortadas (necrosadas) e o albedo (parte branca da casca) com espessura maior que a de um fruto sadio. O suco das frutas doentes tem sabor mais ácido, menos doce e mais amargo.

Em plantas novas, a árvore fica toda comprometida em um ou dois anos. Plantas mais velhas podem levar de três a cinco anos para serem tomadas pelos sintomas. 

Como controlar o greening - A eliminação de plantas sintomáticas é obrigatória até o oitavo ano após o plantio, segundo recomendação do Fundecitrus. A decisão de eliminar ou manter plantas doentes com mais de oito anos cabe ao citricultor, mas, caso opte pela manutenção, é compulsório o controle eficiente do inseto vetor Diaphorina citri.Também é importante eliminar plantas sintomáticas em pomares não comerciais e quintais.

Dentre os pilares fundamentais de controle do psilídeo estão: uso de inseticidas e doses eficazes, rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, intervalos entre aplicações menores ou iguais a 7 dias nos períodos de brotação e aplicações de qualidade em todas as partes da planta.

Dentre esses, o que mais contribuiu para a ineficiência do controle do psilídeo e, consequentemente, para o aumento da incidência de greening, foi o uso intensivo e seguido de inseticidas dos grupos piretroide e neonicotinoide que apresentaram ocorrência comprovada de psilídeos resistentes.

A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por grande parte dos citricultores, levou à rápida seleção de populações do psilídeo resistentes a esses dois grupos de inseticidas e, a consequente, perda de eficácia desses produtos no campo, diz a Fundecitrus. Para reverter este quadro é preciso que haja a interrupção do uso desses inseticidas por todos os citricultores das regiões com problema de controle por no mínimo três meses e que se adote a rotação de inseticidas de outros grupos químicos com 3 a 4 modos de ação diferentes.

O clima também ajuda a entender o cenário de aumento da incidência da doença. Chuvas mais frequentes e temperaturas menos quentes durante a primavera e verão favorecem o aumento do psilídeo e disseminação da bactéria. *Fernanda Pressinott/São Paulo/GR e Fundecitrus. 

Cancro cítrico Podcast - O 31º episódio do Fundecitrus Podcast trata sobre o manejo do cancro cítrico, doença que causa desfolha das plantas e prejuízos à produtividade do pomar.

A conversa é com o pesquisador do Fundecitrus Franklin Behlau e com o engenheiro-agrônomo e coordenador do departamento de Transferência de Tecnologia do Fundecitrus, Ivaldo Sala. 

Assista no canal do Fundecitrus no YouTube: https://youtu.be/vQfRZwJ6IGE?si=u6yKRZfVfG5YVX_x

Escute nas principais plataformas de áudio: https://pod.link/1618971312

Citricultura - Entrega de relatório Cancro/Greening aponta mais de 214 milhões de plantas inspecionadas 

O prazo estabelecido para entrega do relatório Cancro/HLB (Greening) encerrou-se na última segunda feira, 15 de janeiro e de acordo com dados do sistema informatizado de Gestão Animal e Vegetal (GEVADE) da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), 96,6% dos produtores do Estado já informaram os resultados das vistorias realizadas em seus pomares durante o 2° semestre de 2023. Ao todo, foram entregues 10.330 (dez mil, trezentos e trinta) relatórios e cerca de 214,9 milhões de plantas foram inspecionadas. Destas, mais de dois milhões foram erradicadas com sintomas de Greening. 

A partir de agora, a Defesa Agropecuária irá acionar os inadimplentes para regularizarem a situação de sua propriedade. "O produtor ainda pode realizar a entrega fora do prazo do relatório referente ao 2° semestre de 2023 até o dia 31 de março e, caso necessário, esse mesmo prazo pode ser utilizado para retificar as informações prestadas", comenta Alexandre Paloschi, engenheiro agrônomo e diretor do Departamento de Defesa Sanitária e Inspeção Vegetal (DDSIV). 

"A entrega do relatório pelo produtor é fundamental para o planejamento de ações de defesa sanitária vegetal voltadas para a manutenção da sanidade do setor citrícola", acrescenta o diretor.  

Todos os procedimentos são realizados via sistema GEDAVE e em caso de qualquer dúvida ou dificuldade, o produtor deve procurar a CDA Regional que atende o município em que se localiza a sua propriedade. Os endereços das 40 regionais da Defesa Agropecuária podem ser acessados em https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/enderecos/.  

Cancro cítrico - O cancro cítrico é causado pela bactéria Xanthomonas citri pv. citri que ataca todas as variedades e espécies de citros, provoca lesões em folhas, frutos e ramos e, quando em alta incidência, provoca desfolha e queda de frutos. É praga restritiva comercialização de frutos para outros Estados e também para a exportação. 

Desde 2017, com a publicação da Resolução do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) nº 4, de 22 de março, o estado de São Paulo encontra-se reconhecido como área sob Sistema de Mitigação de Risco (SMR) para o cancro cítrico. Este procedimento possibilita a adoção de medidas fitossanitárias com o objetivo de reduzir o potencial de inoculo da praga e manter um nível apropriado de proteção contra a doença, viabilizando a comercialização de frutos sem sintomas tanto no mercado interno como no mercado internacional. 

HLB (greening) - No caso do HLB (greening), há registro de sua ocorrência em todo estado de São Paulo. A doença é causada pela bactéria Candidatus Liberibacter spp. e disseminada pelo psilídeo (Diaphorina citri). É considerada a maior ameaça a sustentabilidade da citricultura. *Felipe Nunes/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo/SP - [email protected]

 

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