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Estudo desvenda vassoura-de-bruxa, que quase destruiu a produção de cacau no Brasil

A doença propagou-se pelo sul da Bahia e fez com que a produção anual de cacau no Brasil caísse de 400 mil to na década de 1980, para apenas 100 mil ton nos anos 2000


A doença propagou-se pelo sul da Bahia e fez com que a produção anual de cacau no Brasil caísse de 400 mil toneladas na década de 1980, para apenas 100 mil toneladas nos anos 2000

Pesquisa traz novas e importantes informações sobre a vassoura-de bruxa, processo de infecção em cacaueiros causado pelo fungo Moniliophthora perniciosa. O estudo, realizado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP) e na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), com parcerias no país e no exterior, foi publicado no periódico New Phytologist.

"Demonstramos, pela primeira vez, que o fungo sintetiza o hormônio citocinina. E esse hormônio, direta ou indiretamente, altera o equilíbrio hormonal da planta, levando ao crescimento excessivo dos tecidos infectados", diz o engenheiro agrônomo Antônio Figueira, professor titular do Cena-USP e coordenador da pesquisa.

"Ocorre nesses tecidos algo semelhante a um câncer, que modifica o metabolismo e drena a energia da planta, competindo com a produção dos frutos e o crescimento das raízes. Por essa razão, a vassoura-de-bruxa debilita e leva à queda na produtividade dos cacaueiros", complementa.

Segundo pesquisador, até agora, as perdas na produção de cacau eram atribuídas, principalmente, à podridão dos frutos.

"O hormônio citocinina é reconhecido por induzir a formação de drenos metabólicos em plantas e esta parece ser a estratégia do patógeno, que, possivelmente, usa a citocinina para promover o aumento de biomassa no tecido onde ele reside. Depois, ao ocorrer a morte desse tecido infectado, o fungo oportunisticamente se utiliza da matéria seca vegetal para crescer e se reproduzir", explica Figueira.

Esses novos conhecimentos têm impacto direto nas estratégias de manejo da doença, nas quais o papel da inibição provocada pelo fungo no crescimento das raízes vinha sendo ignorado. Por outro lado, a recomendação de remover os ramos infectados, denominada poda fitossanitária, deve ser mantida e ampliada de forma a minimizar a ocorrência de drenos metabólicos.

A doença - A doença conhecida como vassoura-de-bruxa foi o motivo da maior crise já ocorrida na cacauicultura brasileira. Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, essa enfermidade provoca deformação, apodrecimento e morte nas partes afetadas dos cacaueiros, que adquirem a aparência de vassouras velhas - daí o nome que lhe foi dado.

Endêmica na região amazônica, a vassoura-de-bruxa propagou-se pelo sul da Bahia em 1989. Como decorrência, o Brasil, que chegou a ser o segundo maior produtor mundial, com safras de mais de 400 mil toneladas de cacau em meados da década de 1980, teve sua produção reduzida para cerca de 100 mil toneladas na década de 2000.

Os impactos foram desastrosos - tanto no âmbito econômico, com a queda de receita e o endividamento dos fazendeiros; quanto na escala social, com o desemprego massivo dos trabalhadores antes ocupados nas fazendas; e na esfera ambiental, pois o cacau, por ser cultivado à sombra de remanescentes da floresta Atlântica, era um importante fator para a preservação desse bioma.

Várias iniciativas foram adotadas desde então. Mas o problema não está resolvido. Plantas sadias coexistem, lado a lado, com plantas doentes. A Bahia perdeu a primazia, sendo superada pelo Pará como principal Estado produtor do país. E o Brasil fechou o ano de 2020 com uma produção total de 250 mil toneladas, ficando em sétimo lugar no ranking mundial.

Modelo de estudo - Como explica Figueira, o cacaueiro é uma árvore perene, que inicia seu florescimento e frutificação somente dois anos após o cultivo. Isso dificulta muito as análises genéticas. Além disso, devido ao seu porte, as investigações sobre a fisiologia vegetal tornam-se bastante limitadas. Esses são os motivos pelos quais poucos avanços foram alcançados empregando diretamente o cacaueiro em estudos mais controlados sobre a infecção e o desenvolvimento da enfermidade. "Para contornar essas dificuldades, no trabalho agora publicado, utilizamos uma espécie vegetal de pequeno porte e rápido crescimento também suscetível à infecção pelo mesmo fungo, o tomateiro micro-tom", relata.

O micro-tom desempenha nas pesquisas botânicas um papel análogo ao dos camundongos em estudos de biologia humana ou medicina. É um modelo vegetal com somente 15 centímetros de altura e um ciclo de vida, de semente a semente, de apenas 90 dias.

"O professor Lázaro Peres, da Esalq-USP, coautor do artigo, tem-se dedicado ao uso do micro-tom em vários estudos. E possui uma coleção de linhagens contendo diversos genes mutantes e transgênicos, inclusive uma série de mutantes com alterações para síntese ou percepção de hormônios vegetais", conta Figueira.

"Como o fungo da vassoura-de-bruxa infecta o tomateiro, e se suspeitava que, ao infectar, provocasse um desequilíbrio hormonal, investigamos uma série de mutantes, com genes de síntese ou percepção de hormônios, para saber quais não apresentariam sintomas ou seriam mais suscetíveis ao fungo. Assim, detectamos que o mutante deficiente para a citocinina não apresentava sintomas, o que indicava o envolvimento desse hormônio no aparecimento de sintoma", explica o pesquisador.

E detalha. "Confirmamos esse envolvimento por meio de diversas abordagens: quantificando as citocininas nos tecidos infectados e no micélio do fungo; aplicando hormônios sintéticos para simular os sintomas da doença; empregando inibidores sintéticos de percepção do hormônio para reverter os sintomas da doença; e usando uma linhagem transgênica que expressa um gene-repórter dirigido por um promotor induzido por citocinina. Também analisamos, por sequenciamento, a expressão de genes marcadores de sinalização por citocinina. Todos os ensaios confirmaram o papel do hormônio na patogênese da vassoura-de-bruxa."

O artigo Moniliophthoraperniciosa, the causal agent of witches' broom disease of cacao, interferes with cytokinin metabolism during infection of Micro-Tom tomato and promotes symptom development pode ser acessado em https://nph.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/nph.17386. * José Tadeu Arantes | Agência FAPESP

Manual traz orientações técnicas para produtores de cacauDocumento contém informações que podem auxiliar na implantação e no manejo

Com o objetivo de dar suporte técnico ao cacauicultor para elevar a produção dessa secular atividade que é o cultivo do cacaueiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), publicou no Boletim Técnico nº 221 o "Manual do Cacauicultor: Perguntas e Respostas".

O documento é resultado da reedição do livro que leva o mesmo título, publicado em 2004 pelo engenheiro agrônomo Walter Silva Serra. Agora, em formato de Boletim Técnico, a publicação também é assinada pelo pesquisador da Ceplac, George Andrade Sodré. O trabalho contou com o apoio de pesquisadores, profissionais da assistência técnica, além de professores e discentes do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Para atualizar os termos utilizados na primeira edição e introduzir diferentes questões, considerando novas práticas e pesquisas, os autores realizaram entrevistas com especialistas, que resultaram em um total de 591 perguntas, divididas em 12 áreas de conhecimento em cacauicultura.

"As perguntas foram elaboradas de forma direta e as respostas em linguagem acessível e com foco nas principais demandas e gargalos de uma propriedade cacaueira, independente de qual região ou agroecossistema esteja localizada", afirmam os autores.

O Brasil já foi o segundo maior produtor de cacau do mundo. Hoje, depois de enfrentar desafios, como pragas e quedas de preço, vive uma fase de recuperação e novas perspectivas. Atualmente, o país ocupa a 7ª posição no mercado mundial, com produção aproximada de 230 mil toneladas/ano, puxada, principalmente, pelos estados do Pará e da Bahia.

De acordo com os autores do novo manual, a melhor estratégia para aumentar a produção de cacau no país é o uso de tecnologia, gerada a partir da realização de pesquisas e assistência técnica focadas em conservação ambiental e produtividade. Para atender o crescente interesse do mercado consumidor por cacau de qualidade, três pontos merecem atenção: o plantio de material genético produtivo e resistente a doenças, aliado ao adequado manejo geral do cultivo e o correto beneficiamento de amêndoas.

A coordenadora-geral de Pesquisa e Inovação da Ceplac, Lucimara Chiari, destaca que o documento é uma importante ferramenta para ajudar o produtor nas diversas etapas. "Este manual traz informações que podem auxiliar na implantação e no manejo geral da atividade cacaueira e foi pensado para atender as principais demandas dos produtores".

O manual está dividido em blocos que contemplam as seguintes temáticas: Exigências Edafoclimáticas (relativas ao solo e clima); Características Reprodutivas e Genética; Implantação e Manejo; Adubação e Nutrição; Métodos e Técnicas de Propagação; Controle de Plantas Daninhas; Irrigação e Fertirrigação; Pragas; Doenças; Rotinas nas Áreas de Cultivo; Colheita e Beneficiamento; e Saúde, Alimentos e Agroindústria do Cacau. *MAPA

AIPC alerta produtores quanto importância de se controlar a monilíase do cacau - Doença foi detectada pela primeira vez no Brasil no Acre e é mais agressiva que a vassoura de bruxa - A identificação da presença da doença Monilíase pela primeira vez no Brasil ligou o alerta na cadeia produtiva do cacau. A doença foi detectada no Acre, numa área urbana e o foco foi considerado sob controle, ainda assim a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) alerta os produtores para a importância de se ficar atento com a proliferação dessa praga, presente na América Central e em países como Venezuela, Colômbia e Bolívia e com potencial agressivo maior do que a conhecida vassoura de bruxa. 

Com o objetivo de orientar o produtor, a AIPC pretende divulgar um informativo em áudio que será distribuído via WhatsApp, trazendo uma série de informações e dicas sobre  como prevenir a Monilíase. A doença infecta o fruto e é causada por um fungo com potencial de reduzir em até 80% a produção. O informativo estará também disponível no site da AIPC (www.aipc.com.br).

Um dos principais pontos é ressaltar a necessidade de o produtor monitorar os frutos para evitar a doença, que se expressa pelo inchaço do cacau e o aparecimento de manchas de coloração chocolate ou castanho-escuro. Caso haja algo suspeito, o produtor não deve retirar os frutos, mas comunicar imediatamente a agência de defesa agropecuária da sua região ou a Ceplac. 

O fungo que ataca o cacau pode produzir até 7 bilhões de esporos em um único fruto. Esses esporos infectam outros frutos e são facilmente carregados pelo vento, prendendo-se também a roupas e veículos. Por isso, é importante lavar as mãos antes e depois do manejo com o cacau, desinfetar as roupas e evitar trazer frutos de países nos quais a praga é presente. Para saber mais sobre a doença e as medidas de prevenção consulte o Protocolo de Biossegurança Doméstica e a cartilha sobre a Monilíase do Cacaueiro disponíveis no site da Ceplac, clicando AQUI/CLIQUE AQUI PARA OUVIR O BOLETIM

*Eduardo Savanachi - email: [email protected]

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