Iapar divulga nova técnica para combater doença do maracujá
E na próxima semana (23/04), em Lidianópolis, terá encontro regional com produtores da fruta no Paraná
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) lançou boletim técnico que detalha nova técnica para o cultivo de maracujá-amarelo, desenvolvida com o objetivo de viabilizar a produção em áreas onde ocorre a doença chamada de "endurecimento dos frutos".
A doença, causada pelo vírus Cowpea aphid-borne mosaic virus, foi detectada pela primeira vez em território paranaense no município de Godoy Moreira, em 2014, e já está presente nos principais polos de produção do Paraná, com alto potencial destrutivo. "A disseminação é muito rápida, em quatro meses pode infectar todas as plantas de uma lavoura", disse o pesquisador Pedro Antonio Martins Auler, coordenador de pesquisas em fruticultura do Iapar.
Os últimos dados consolidados, de 2017, apontam no Paraná uma área pouco superior a 1,1 mil hectares cultivados com maracujá-amarelo, com uma produção de 20,4 mil toneladas. "É uma importante opção de renda na agricultura, especialmente para o segmento da agricultura familiar", afirma Auler.
Essa produção é destinada ao consumo in natura, fabricação de polpa e suco, culinária e, ainda, para a indústria farmacêutica e de cosméticos.
Um ciclo - A nova proposta tecnológica, chamada pelos especialistas de "modelo de um ciclo", preconiza o plantio das mudas após o risco de geadas, entre a segunda quinzena de agosto e a primeira de setembro. O período de colheita ocorre entre os meses de janeiro a julho.
Após a colheita, todas as plantas são eliminadas para um período de vazio sanitário, no mês de agosto. O objetivo dessa estratégia é reduzir a incidência do vírus nos primeiros meses após a implantação do pomar.
Apenas para comparação, no sistema de produção atualmente utilizado são obtidas duas safras a partir de um só plantio. O pomar é implantado em setembro e os frutos são colhidos entre os meses de março a julho, a chamada "safrinha". A segunda e maior colheita ocorre entre dezembro e o mês de julho do ano seguinte.
A chave do novo modelo é a utilização de mudas maiores, com cerca de dois metros, que são produzidas de março a agosto em ambiente protegido (telado) para evitar a presença dos pulgões - vetores que transmitem a doença - e a consequente contaminação pelo vírus.
A utilização de mudas maiores possibilita iniciar a colheita em janeiro, e é um aspecto fundamental para a viabilidade econômica deste sistema de produção.
Igualmente importante é a implantação do vazio sanitário, com a eliminação de todas as plantas ao término do ciclo da cultura, entre julho e agosto, prática que deve ser adotada por todos os produtores de uma determinada região para garantir a eficácia do novo modelo.
Pesquisa - O "modelo de um ciclo" foi desenvolvido pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e instituições de pesquisa parceiras do Estado de São Paulo, onde a doença está presente há mais tempo. O Iapar validou a aplicação do sistema no Paraná com o apoio da Emater e da Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Corumbataí do Sul (Coaprocor). Os ensaios foram conduzidos nos municípios de Cerro Azul, Godoy Moreira, Japurá, Londrina, Morretes, Paranavaí e Umuarama.
Aquisição - Autoria dos pesquisadores Neusa Maria Colauto Stenzel, Pedro Antonio Martins Auler, Rúbia de Oliveira Molina e Dimas Soares Jr., o boletim "Cultivo do maracujá-amarelo em áreas com ocorrência do vírus do endurecimento dos frutos (CABMV)" pode ser baixado gratuitamente em www.iapar.br. Quem prefere a versão impressa pode obtê-la nos polos de pesquisa do Iapar ou solicitar pelo e-mail [email protected] - neste caso o interessado deve pagar o custo de envio pelo correio. *ConexaoAgro/Marilayde Costa - Maio/2019.
Virose impõe novo sistema de manejo ao maracujá - O manejo do maracujazeiro, importante cultura frutífera no Paraná, passou recentemente por mudanças para minimizar os estragos causados por uma virose, detectada há alguns anos. A constatação de que o vírus CABMV (sigla em inglês para "vírus do mosaico do caupí") havia chegado ao Estado aconteceu durante um curso do SENAR-PR realizado na região Noroeste. Na ocasião, os instrutores da entidade ministravam uma aula quando constataram estranhas lesões na planta.
"Detectamos a presença durante a primeira formação do curso de maracujá, em 2015. Durante uma visita a uma propriedade, um dos participantes identificou plantas infectadas e orientou que a gente encaminhasse amostras para análise em laboratório", conta a instrutora do SENAR-PR Beatriz Meira. "As duas amostras enviadas ao laboratório voltaram com [diagnóstico] positivo para o CABMV. Ficamos perdidos na hora porque era uma doença que ainda não conhecíamos muito bem", relata a profissional.
Diante da novidade, Beatriz e outros instrutores foram em busca de mais informação sobre a doença. Para isso, contataram especialistas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e foram conhecer mais sobre a doença junto a produtores de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, que já enfrentavam a virose há mais tempo. "Nós constatamos que a melhor forma de tratamento era a erradicação da lavoura doente", relata a instrutora.
Em condições normais, o maracujazeiro é uma cultura semiperene, isto é, os mesmos pomares podem continuar produzindo ao longo de três ou quatro anos consecutivos. Sob a influência do CABMV, as plantas devem ser erradicadas anualmente sob pena de perdas severas de produção. "O estrago é grande. Tivemos áreas com problemas nutricionais onde as perdas foram de 100%", afirma o coordenador de fruticultura do IDR-PR, Eduardo dos Santos, que acompanhou o processo desde o início.
Segundo o profissional, a virose entrou no Paraná em 2004, mas só em 2014 que começou a trazer problemas aos produtores de maracujá. "Dois anos depois [do vírus chegar à área de produção da cooperativa] houve uma redução drástica na produtividade. Em 2021 conseguimos voltar a produzir o mesmo volume de antes", afirma Santos. O segredo dessa retomada, segundo ele, foi a adoção do novo manejo da fruta.
Manejo certo - O CABMV é transmitido pela picada do pulgão, que leva o vírus de uma planta infectada para outra saudável. Segundo Santos, o sistema de manejo capaz de enfrentar esse problema consiste em levar mudas maiores e, portanto, mais fortes e resistentes, para o campo. Se antes as mudas saiam com até 30 centímetros do viveiro para o pomar, hoje devem ter pelo menos 1,5 metro de altura. "A estratégia é esse manejo cultural, com as mudas maiores, e uma atenção especial na parte nutricional da planta", explica o coordenador. "Se a planta começou a florescer, então a doença já não é mais problema. Basta ir controlando com a nutrição até o final do ciclo", completa.
No caso do fruticultor José Luiz de Oliveira, de Jandaia do Sul, o plantio do maracujazeiro já começou sob este novo sistema de manejo. "Plantei uns pés há uns quatro anos para ver e acabei gostando. Quando comecei, o pessoal já falava que não dava para plantar duas vezes na mesma área, que entrava virose", lembra.
Com experiência no cultivo de uvas, Oliveira aproveitou a mesma estrutura em que cultivava as parreiras para conduzir o maracujá. "Tem que plantar e erradicar todo ano, não cheguei a pegar a fase em que rebrotava por dois até três anos", conta.
Com essa estratégia de levar as mudas mais desenvolvidas para o campo e erradicar os pomares anualmente, Oliveira vem obtendo uma produtividade média de 3,5 caixas (12 quilos) de maracujá por pé, o que representa um bom desempenho. "As frutas que ficam um pouco menores eu tiro para fazer polpa, não perco nada", afirma o produtor, que ainda mantém uma pequena área com uvas.
Curso para formação de instrutores na área do maracujazeiro - Do acordo com Santos, do IDR-PR, a erradicação dos pomares de maracujá funciona como um vazio sanitário para frear a disseminação do vírus. "É um período de 20 a 30 dias sem plantas na lavoura, enquanto a muda está protegida do pulgão que transmite o vírus no viveiro. Esse vazio ocorre normalmente no final da safra, entre julho e agosto, de acordo com cada região. Acabou de colher, já pode fazer", ensina.
A instrutora do SENAR-PR recorda que quando passaram a ser levadas a campo, essas orientações encontraram resistência por parte de produtores tradicionais da fruta. "Os produtores não foram muito receptivos a essa recomendação", recorda Beatriz. Essa postura, segundo ela, pode ter acelerado a propagação da doença no Estado. "Acredito que acabaria contaminando [outras regiões do Estado], mas não com a rapidez como aconteceu", observa. "Vimos áreas infectadas a uma distância de 30 quilômetros do foco. O fato de o produtor não conhecer a biologia e a forma de disseminação faz com que subestime o vírus. Por isso tem que fazer curso, treinamento, para entender o procedimento", avalia Santos.
Nesse sentido, o papel do SENAR-PR é estratégico. "A partir da confirmação de que o vírus estava presente nos pomares, os produtores buscaram um sistema de produção que pudesse enfrentar esse novo cenário. Foi a partir disso que elaboramos o novo curso de maracujazeiro do SENAR-PR, no qual ensinamos como conviver com a virose e ainda obter uma alta produtividade. O produtor aprende a escolher a cultivar adequada, fazer o manejo de nutrição, irrigação, manejo das mudas, levando na altura correta para o campo, e aprende a identificar os sintomas da virose, para saber se ela existe no seu pomar ou não", observa a técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR Vanessa Reinhart. "Outra parte importante do curso é, ao final do ciclo, fazer a erradicação das plantas para que a virose não sobreviva de um ciclo para o outro, não fique indo de um vizinho para o outro e não saia daquela área", complementa.
O curso "Maracujazeiro" do SENAR-PR passou por uma reformulação para contemplar o controle do CABMV e, em breve, estará disponível para os fruticultores do Estado. * Sistema Faep/Senar-PR/Francismar Lemes - Outubro/2022.
Cultivar inédita de maracujá pode aumentar produtividade em Prudentópolis - Primeira cultivar da espécie desenvolvida no Paraná, IPR Luz da Manhã se destaca pela qualidade superior e dupla possibilidade de destinação da colheita
A nova cultivar "Luz da Manhã" é a principal atração do Encontro de Fruticultores sobre a Cultura do Maracujá, que acontece nesta quarta-feira (11) em Prudentópolis (Centro-Sul do Estado). O evento é uma promoção do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná).
Primeira cultivar da espécie desenvolvida no Paraná, IPR Luz da Manhã se destaca pela qualidade superior e dupla possibilidade de destinação da colheita - tanto pode ser destinada ao mercado de frutas frescas como para a indústria de polpa congelada.
A fruta foi idealizada com o objetivo de aumentar a competitividade dos produtores paranaenses, fortalecer a indústria regional de processamento e, ainda, contribuir para o aumento da renda e da qualidade de vida no meio rural.
Obtida a partir de oito linhagens, IPR Luz da Manhã pode render até 30 toneladas por hectare, às quais é possível somar outras 50 toneladas se o produtor optar por um segundo ciclo de produção. A programação do encontro ainda contempla temas como tecnologias para fertirrigação, aspectos mercadológicos e debate sobre as perspectivas para a produção da fruta no município de Prudentópolis.
O coordenador estadual de Fruticultura do IDR-Paraná, Eduardo Augustinho dos Santos, explica que o evento será realizado em uma propriedade na qual o produtor adota alto nível de tecnologia.
"Há cerca de 10 anos o IDR-Paraná vem trabalhando a fruta na região, o potencial ali é muito grande", diz.
De acordo com Santos, são cultivados 160 hectares de maracujá no município, com predominância da pequena agricultura familiar. A produtividade média ainda é baixa, cerca de 14 toneladas por hectare, e a maior parte da produção é destinada para industrialização. O objetivo do projeto é aumentar essa produção e possibilitar aos produtores acesso ao mercado de frutas frescas, que é amplo e diversificado. *AEN - Maio/2022