Uma mutação da cultivar de ameixa Letícia que não necessita de polinização cruzada foi identificada pelo fruticultor Hermes Coser, no município de Videira, SC, e aparenta ter vantagens significativas em relação à cultivar original. O mesmo produtor já instalou um pomar comercial e está produzindo sem nenhuma outra cultivar polinizadora.

Essa cultivar está registrada com o nome de Letícia AF (o AF vem de autofértil) e o processo de proteção está em andamento. No entanto, já deverão existir mudas disponíveis para plantio já no próximo ano.

A cultivar de ameixa Letícia é responsável, juntamente com a Fortune, pela maior parte da produção de ameixa no sul do Brasil. Foi criada na África do Sul e lançada oficialmente em 1986 com o nome de Laetitia. No Brasil tornou-se conhecida como Letícia. Teve grande aceitação por combinar alta qualidade dos frutos e resistência relativamente elevada à escaldadura das folhas, causada pela bactéria Xylella fastidiosa. O surgimento desta cultivar possibilitou o reerguimento da cultura da ameixeira no Brasil nos anos 1990, após o período de declínio causado pela introdução da escaldadura das folhas. Até hoje é a principal produtora de ameixas de maturação tardia no Brasil, sendo a colheita realizada entre meados a final de janeiro.

A característica de autocompatibilidade, ou seja, a capacidade de se autopolinizar e produzir frutos, traz uma série de vantagens para os produtores. De cara, elimina-se necessidade de ter 10-15% das plantas do pomar de cultivares polinizadoras, que geralmente não tem valor comercial. No caso da Letícia, tem uma vantagem ainda maior que é de proporcionar maior estabilidade da produção, por reduzir os efeitos de eventos climáticos desfavoráveis no período de floração. É muito comum nessa cultivar haver perdas de produção em razão de que o período de floração ocorreu em condições desfavoráveis aos insetos polinizadores, como excesso de chuva ou frio. Também, em função da floração tardia da Letícia, podem ocorrer períodos de calor seco na floração, principalmente em anos sob efeito do evento climático conhecido como "La niña". Nesse caso, o pegamento de frutos é baixo mesmo que as abelhas consigam trabalhar adequadamente.

Embora se tenham poucos anos de observação, a Letícia AF parece ser menos afetada por efeitos climáticos desfavoráveis na floração. Nas safras 2018/19 e 2019/20 foram comuns as reclamações de baixa frutificação por parte de produtores de Letícia. No caso da Letícia AF, não só a produção foi normal como houve necessidade de raleio, como pode ser observado nas fotos da última safra.

A Letícia AF foi introduzida na Epagri - Estação Experimental de Videira, SC, e está sendo comparada com a cultivar Letícia original. As plantas são jovens, ainda em crescimento. Porém, já se observa um expressivo pegamento de frutos nas plantas de Letícia AF, ao passo que na Letícia original, isso não ocorreu. A maior frutificação da Letícia AF deve levar à necessidade de se fazer raleio químico para diminuir a mão-de-obra demandada pelo raleio manual. Para isso, mais alguns estudos são necessários para o estabelecimento de doses. O produtor que identificou a mutação já vem trabalhando nesse sentido.

Ainda têm-se poucos anos de observação, mas não foi possível até agora encontrar outras alterações na Letícia mutante, além da característica de autofertilidade. Assim, as características de cultivo que são conhecidas para a Letícia original também são aplicáveis para a Letícia AF.

*Marco Antonio Dalbó, pesquisador da Epagri - Estação Experimental de Videira, SC - [email protected]

Os interessados em conhecer mais essa cultivar ou saber da disponibilidade de mudas podem se dirigir ao fruticultor Hermes Coser, através do Whtasapp (49) 99917-1450) ou por e-mail ([email protected])