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Menos veneno e mais uva: UFSC revela segredo de revolução silenciosa de vinhedos de SC

Videiras com melhoramento genético apresentam maior resistência aos fungos e necessitam de menor aplicação de agrotóxicos


Vinhedos de SC passam por revolução silenciosa com melhoramento genético de videiras

Um estudo desenvolvido na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) demonstrou, de forma inédita, que a evolução genética foi um dos principais fatores para o crescimento da produção de uva e vinho no Planalto de Santa Catarina.

As "variedades Piwi", videiras com melhoramento genético necessitam de menor utilização de agrotóxicos, devido à sua resistência a diversos patógenos, como os fungos. Dessa forma, prometem revolucionar a vitivinícola do estado.

A pesquisa foi desenvolvida como tese de doutorado de Gil Karlos Ferri, no Programa de Pós-Graduação em História, e foi defendida em novembro de 2024. O trabalho foi intitulado "Variedades Piwi: a vitivinicultura no Planalto de Santa Catarina (Brasil) e as pesquisas de melhoramento genético de videiras sob a perspectiva da História Ambiental Global".

A vitivinicultura, que engloba o cultivo de videiras e a produção de vinhos, é uma atividade econômica bem desenvolvida em Santa Catarina. Segundo a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), o estado é responsável por 6,2% da produção nacional do setor.

Pesquisa foi desenvolvida por Gil Karlos Ferri, como tese de doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina - Foto: Divulgação/UFSC/ND

Segundo o pesquisador, um dos maiores obstáculos da vitinicultura em Santa Catarina é a alta umidade, que ocasiona a proliferação dos fungos. As variedades Piwi podem conseguir reduzir a utilização de químicos em 50% a 70%. A eficiência, porém, depende do nível de umidade a que o vinhedo é exposto. 

Sustentabilidade nos vinhedos de SC - As primeiras videiras Piwi foram introduzidas nos vinhedos de SC em 2014, para testes. O plantio iniciou em 2015, em parceria entre UFSC e Epagri e cooperação de institutos da Alemanha e Itália.

Por iniciativa das instituições, em 2024, foram lançadas as primeiras variedades, chamadas Calardis Blanc e Felícia, no mercado catarinense. Até o momento, porém, a maioria das videiras Piwi é mantida em fase de testes, retrocruzamentos e vinificações experimentais.

"Essas variedades seriam interessantes por terem resistência a fungos que surgem na umidade, sendo mais adequadas, ao necessitarem de menos tratamento com agrodefensivos e tratamentos químicos para poder cultivar", explica o pesquisador.

Vinhedos em SC podem reduzir uso de agrotóxicos pela metade com as videiras "variedades Piwi" - Foto: Divulgação

Apesar de não tornar as plantas totalmente imunes aos fungos, a estimativa de Ferri sobre as Piwi é bem positiva. Essa resistência poderia reduzir pela metade as aplicações de agrodefensivos e agroquímicos no setor.

"Pode haver safras que não vão requerer tratamento nenhum. Pode ser que, com pouca umidade, a variedade resistente consiga manter o bloqueio aos fungos. Mas, em anos que chova muito durante a maturação até a época da colheita, pode ser que se necessitem alguns tratamentos", estima.

A pesquisa prevê que, caso se expandam, as variedades Piwi poderão ter significativo impacto positivo nesse cenário, contribuindo com a qualidade socioambiental da vitivinicultura no estado, além de possuírem potencial para o investimento empresarial. *Kauê Alberguini/NDMais - 29/06/2025.

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