O frio histórico e a geada fora de época que passaram por Santa Catarina, nesta primeira semana de novembro, levou os produtores de uvas de Curitibanos, no Meio-Oeste de Santa Catarina, a utilizar uma técnica milenar para salvar a safra do fruto deste ano.

Cerca de 150 fogueiras foram acessas em meio às plantações de uva da vinícola Berto Aguiar, com o objetivo de evitar o congelamento das frutas e aumentar a temperatura no local. Sete pessoas monitoraram as chamas.

Amaury Silva, produtor de uvas, contou que a manobra precisou ser realizada entre a noite de terça (1º) e madrugada de quarta (2). Hoje, cerca de 40 agricultores cultivam uvas em Curitibanos.

"Essa técnica é utilizada no mundo inteiro, e evita que as uvas congelem e morram, pois com o calor do fogo não tem como ocorrer o congelamento", explicou o produtor ao jornal A Semana.

Por que acender milhares de fogueiras no meio dos vinhedos?

Os botões são muito sensíveis às temperaturas negativas e às geadas. Se ao amanhecer o botão estiver envolto com uma camada de gelo, esse gelo vai atuar como uma lupa, fazendo com que a luz do Sol queime o botão.

Assim, os viticultores se organizam - centenas deles, muitos voluntários - para espalharem pequenos montes de palha entre as fileiras de videiras durante a madrugada, acendidas com velas antes do Sol nascer. O objetivo? Aumentar a temperatura do solo em dois ou três graus Celsius e produzir o máximo de fumaça possível de forma que a luz solar não queime esses preciosos botões.

A utilização desse método de proteção das videiras já era comum em regiões mais frias como Chablis, a mais setentrional região vinícola da Borgonha, e em Champagne, a mais setentrional das regiões vinícolas da França. Mas na Côte d'Or, mais ao Sul, ela vem se tornando necessária desde 2016. As informações são do Portal Simonde.

Projeto local - Em setembro, a prefeitura de Curitibanos iniciou a distribuição de 11,6 mil mudas de uvas para ampliar a produção local, por meio do programa de incentivo a viticultura na região, que iniciou em 2013. Foram entregues várias espécies, como Bordo, Niágara branca e rosa, Merlot, Cabernet Saouvignon, Isabel, Moscato, Tannat, Malbec e Vermentino.

O projeto de apoio ao cultivo de uvas na região não se restringe apenas ao incentivo da produção do fruto, mas de seus derivados. Com o aumento anual das safras, foi criada uma cooperativa em Curitibanos, que produz vinhos e sucos, e que já tem escoamento para diversas cidades do Estado.

Desde o início do projeto, as uvas que mais se adequaram a região são da espécie Bordô e Niagara, mas hoje, os produtores já contam com mais de 20 variedades de uva. No município também há o cultivo de uvas viníferas, para a produção de vinhos finos, além de uvas sem semente, melhor avaliadas no mercado. *Willian Ricardo-Chapecó/NDmais