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Sistema de Condução Espaldeira Horizontal Tesser (THCE)

Ele consiste em proporcionar um modo de condução da videira que busque a qualidade que o sistema espaldeira vertical entrega, com a praticidade e facilidade de construção que o sistema latada oferece


Introdução - A evolução dos sistemas de condução ao longo do tempo teve como objetivos a melhoria do microclima, por meio do aumento da interceptação e distribuição da energia solar. A superfície foliar exposta varia em função dos componentes do sistema de condução, e quando está associada à máxima interceptação da luz solar, permite aumentar a atividade fotossintética e consequentemente a produção (Souza Leão, 2020.) atrelada à qualidade.

Os sistemas horizontais, denominados de latada ou pérgola (Figura 1 - acima), e as suas variações como o sistema em T, têm as vantagens de promover a expansão máxima da superfície foliar e maior carga de gemas. As camadas de frutos e de folhas são separadas, o que reduz os danos mecânicos causados nos frutos pelo atrito entre folhas e cachos. (Souza Leão, 2020.).

O sistema THCE proposto se justifica principalmente a regiões que possuem um alto índice pluviométrico no período de maturação das uvas e ou locais onde o relevo é muito declivoso, principalmente com presença de muito material rochoso, no qual dificulta a instalação do sistema de condução espaldeira vertical tradicional. Ele Combina elementos do espaldeira vertical e o latada, procurando unir os principais manejos e formas condutivas, o que de melhor cada um pode oferecer, sendo seu processo de construção e manejo relativamente simples.

Também, consiste em proporcionar um modo de condução da videira que busque a qualidade que o sistema Espaldeira vertical entrega, com a praticidade e facilidade de construção que o sistema Latada oferece, principalmente em terrenos dificultosos. Além do mais, o sistema, permite a cobertura dos cachos com materiais plásticos transparentes de baixo custo, impedindo o molhamento das uvas no período de maturação. Proporciona uma menor pressão de doenças e, por conseguinte, permitindo aumentar o período de maturação, em que possibilita uma maior concentração de açúcares e polifenóis totais, podendo melhorar significativamente os índices enológicos das uvas.

Construção do vinhedo - O vinhedo deve ser construído basicamente imitando o sistema latada com algumas adaptações na construção e trazendo elementos da espaldeira que colaboram para melhoria do manejo.
Primeiramente deve-se fazer a estrutura com postes de madeira ou outro material que se adapte a construção. Consiste-se em plantar quatro postes de cabeceira com diâmetro maior, entorno de 20 a 30 cm, em cada esquina do vinhedo, e os postes laterais médio, entorno de 10 a 15m de diâmetro, em cada extremidade de cada fileira e na extremidade de cada fio de sustentação da malha (portante), que podem ou não serem enterrados e para cada destes postes deve ser auxiliado com um rabicho ou morto para dar sustentação ao vinhedo.

Na conjunção de cada fio de fileira e de sustentação (portante), coloca-se um poste interno de menor diâmetro, entorno de 8 a 10 cm (figura 2 - acima), mas caso queira usar o modo de cobertura sugerido, o comprimento deve ser maior que os postes tradicionais, pois devem ter uma altura entre 50 e 70 cm além do fio de sustentação, que pode ser somente afixado sobre o solo ou enterrado. Até esta etapa o sistema segue o mesmo esquema de um vinhedo Latada, o que muda é a disposição dos arames.

Para cada fileira é esticado 1, ou 2 arames de condução, fixos um para cada lado do poste, caso se queira trabalhar com Guyot quadruplo ou 4 cordões esporonados. Também é recomendada a instalação para cada lado do poste um fio de arame sobressaliente ao fio de condução (figura 3 - acima) que servirá de fio móvel para posicionamento dos brotos no plano horizontal, semelhante ao fio móvel no sistema espaldeira vertical.

Nas entre linhas recomenda-se no mínimo 4 arames, 2 para cada lado de cada fileira para sustentação do dossel vegetativo, não sendo necessários fios de alta resistência pois servem apenas para condução dos ramos.

Formação do vinhedo e Manejo do dossel vegetativo - Este sistema de condução procura seguir os princípios de produção do sistema de espaldeira vertical, como insolação nos cachos, menor produção, maior relação de  captação de luz solar, aplicação de defensivos dirigida nos cachos, poda verde, desponte, etc. e indo ao encontro da praticidade e facilidade do sistema Latada. Com a elevação do dossel de produção da uva, principalmente em regiões quentes e de alta umidade no período de colheita, melhora-se a circulação de ventos, diminui a pressão osmótica nas bagas e facilita o manejo dos cachos.

Cada videira será conduzida até altura do arame de condução, onde será podada para emissão de 2 ou 4 ramos que serão divididos e conduzidos para cada lado da videira, em seus respectivos arames. Os ramos serão podados e conduzidos em forma de Guyot, mas podendo ser duplicado, triplicado ou quadriplicado, conforme as necessidades de cada produtor em relação a produtividade e a qualidade.

No momento em que os brotos crescerem entorno de 40 a 60 cm, poderá ser acionado o fio móvel de cada lado, ao qual irá direcionar os brotos no sentido horizontal do vinhedo e no sentido da linha para o meio da entrelinha, para os dois lados do vinhedo (figura 4 - acima). Dependendo do espaçamento entre linhas o tamanho do dossel vegetativo pode variar, não é aconselhável deixar um ramo menor que 1 metro de comprimento para não comprometer a relação folhas/cachos, isto implicaria em uma distância mínima de 2 metros entre as linhas. A distância entre os portantes, também não deve ser muito elevada, para facilitar a fixação e melhorar a eficiência do material de cobertura. Sugere-se um espaçamento de 2 metros entre os portantes, para espaçamento de 1 metro entre plantas ou 2,5 m para espaçamento de 1,25 metros entre plantas.

Em terrenos muitos declivosos, caso o produtor queira trabalhar com o Guyot duplo poderá direcionar os brotos só para um lado, de preferência para o sentido de elevada do terreno. Para facilitar os tratos culturais e a colheita. Também o sentido das videiras pode ser posicionado em função do terreno, do tipo de colheita, manual ou mecanizada. Dependendo da escolha de condução o sentido dos arames e portantes podem ser direcionados para o sistema adotado, paralelo ou perpendicular ao sentido da fileira .Para uvas que se adaptam a poda Esporonada, poderá ser utilizado este sistema em detrimento ao Guyot.

Cobertura do vinhedo - Para cobertura das uvas no período de maturação, sugere-se o seguinte modo de formação do vinhedo devido à facilidade e o baixo custo de formação, mas nada impede de o produtor construir um sistema de cobertura semelhante aos de uva de mesa, sendo construído da seguinte maneira: Na altura de 1,80 m em média, que pode variar conforme a necessidade, é feito um entalhe no poste, no sentido do alinhamento do portante, entorno de 3 a 5 cm para que o mesmo possa ser sustentado pelo poste. A parte superior dos postes, que fica sobre saliente ao vinhedo, no mínimo 50 cm acima onde passa o falso portante, servirá para fixação de outro portante em forma de telhado. Neste passarão arames perpendiculares para fixação do material plástico para cobertura do dossel vegetativo na região dos cachos. (Figura 5).

A parte final do poste, de preferência deve ser acabada em "V" invertido, com acabamento arredondado no sentido do portante, para não danificar o material de cobertura. O falso portante vai sobre saliente ao portante verdadeiro e conduzido em zigue-zague vertical (estilo capela) para que forme uma espécie de telhado para que facilite o escoamento da água da chuva, passando na extremidade superior do poste e descendo até o portante principal no meio da entre linha. Na cumeeira de cada fileira é instalado um fio de arame perpendicular, bem como um em cada lado abaixo, entorno de 40 cm de distância em relação à cumeeira ou que se adaptem a largura do material de cobertura. ( Figura 5 - acima).

A cobertura poderá ser feita somente na região dos cachos ou em toda a área foliar do vinhedo, semelhante ao que é feito, no sistema de produção de uva de mesa. Para vinhos tintos que necessitam de maior insolação nos cachos, a cobertura para evitar o molhamento das uvas, é sugerida ser colocada somente dias antes da colheita para evitar a entrada de doenças putrefativas e concentrar mais as substancias contidas nas bagas.

Com o propósito de não aumentar os custos de produção significativamente, se aconselha a utilização de filmes plásticos de baixa densidade entorno de 30 a 50 micras sem a necessidade de componentes resistentes a raios UV, pois necessitam apenas de uma vida útil de 30 a 60 dias. Estes plásticos devem ser fixados, da mesma maneira que são fixados os de cobertura para uva de mesa, a maioria utiliza o grampeamento do mesmo nos arames instalados especificamente para este fim.

No mercado é possível comprar plásticos com estas características, também foram testados os plásticos Stretch que se mostraram bem promissores, com a vantagem de serem menos onerosos.

Teste realizado na safra 2024 na cultivar Saperavi, o potencial alcoólico das uvas passou de 12,8 º Gl para 15,6º Gl com a utilização por apenas 21 dias de cobertura. A testemunha que não foi coberta passou para 13, 4º Gl, mas com perdas significativas por Botritis, Glomerela e Podridão Ácida. O extrato seco aumentou entorno de 35% e acidez total permaneceu estável, o mesmo com o Ph com um pequeno aumento de 3%.

Lembrando que este teste não tem validade científica, somente como experimentação. Observou-se, também que devido à cobertura permanecer, após a colheita ainda funcional, proporcionou uma sanidade melhor nas folhas cobertas, retardando suas quedas.

Outra vantagem do sistema THCE é que o dossel de produção fica isolado do dossel vegetativo (Figura 6 e 7 - acima), não prejudicando a incidência do sol nos cachos, pois não terá folhas acima dos cachos, como do espaldeira vertical, e por conseguinte possibilitando uma maior ventilação direta nos cachos e aplicação de defensivos agrícolas direcionados especificamente ao cacho ou somente as folhas.

Em relação aos custos para a cobertura, os gastos para a construção do vinhedo ficam semelhantes à latada convencional, pois se usa menor quantidade de estrutura de valor agregado, como fios de arame menos resistentes. O custo para colocação dos plásticos pode ser amenizado pela menor necessidade de tratamentos fitossanitários, além de proporcionar mais ganhos pela melhoria da qualidade da uva.

*Tesser Horizontal Conduter Espalier System - Paulo Adolfo Tesser/Engenheiro Agrônomo e Tecnólogo em Viticultura e Enologia - Graduação: Engenheiro Agrônomo- UFPel. Pelotas, 1986. Pós -Graduação: Especialização em Economia do Sistema Agroalimentar. Viterbo, Itália. 1989. Graduação: Tecnólogo em Viticultura e Enologia - IFRS. Bento Gonçalves. 1998. Pós-Graduação: Especialização em Gestão em Viticultura- Univille . Joinvile, 2005. Mestrado Profissional: Biotecnologia e Gestão Vitivinícola- UCS. Caxias do sul, 2013. Tese: Épocas de poda seca e sua influência na brotação, produção e qualidade das uvas Cabernet Sauvignon e Isabel na serra gaúcha. Conhecida como:" Poda Antecipada ou poda de outono" - [email protected] - Tel: (54) 99691-8333.

Referências Bibliográficas: SOUZA LEÃO. Cultivar Hortaliças e Frutas . Pelotas: Revista cultivar, Outubro 2020. MANDELLI, F.; MIELE, A. Sistemas de condução da videira: latada e espaldeira. Bento Gonçalves, Embrapa Uva e Vinho, 2016.

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