Uso do extrato de uva na produção avícola: uma fonte sustentável
Estudos sugerem que a adição de até 10% de bagaço de uva nas dietas não afetou o desempenho dos frangos de corte; que a suplementação com esse residuo até 10 g/kg foi eficaz na redução do colesterol
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O crescimento contínuo da população mundial tem intensificado a demanda por alimentos, pressionando os setores produtivos a buscarem soluções que garantam maior eficiência e sustentabilidade. A qualidade dos produtos de origem animal está diretamente relacionada à nutrição dos animais, que representa um dos principais desafios da produção.
Nesse contexto, o manejo nutricional torna-se um fator essencial para a competitividade no mercado, especialmente considerando que a alimentação corresponde a cerca de 75% dos custos totais de produção (Costa et al., 2022). Assim, a busca por alternativas nutricionais sustentáveis e economicamente viáveis é fundamental.
Os resíduos agroindustriais têm se destacado como uma estratégia promissora para otimizar a produção avícola e reduzir custos (Junior et al., 2014). Entre esses subprodutos, os bagaços de frutas são gerados após a prensagem ou esmagamento das frutas para a extração de sucos, sendo amplamente produzidos na indústria de processamento de frutas e vinícolas (Erinle e Adewole, 2022).
A uva (Vitis vinifera L. ssp. sativa) tem sido utilizada há milênios para diversos fins, incluindo o consumo in natura e seco, além da produção de vinho. Recentemente, seus subprodutos, como extratos das cascas e sementes, vêm ganhando destaque devido ao seu alto teor de compostos bioativos, especialmente polifenóis e resveratrol, reconhecidos por seus benefícios à saúde. Do ponto de vista ambiental, o aproveitamento integral da uva, incluindo o bagaço resultante da vinificação, representa uma alternativa sustentável para a redução de resíduos na indústria (Bail et al., 2008).
Beres et al. (2017) classificaram os tipos de polifenóis encontrados no bagaço de uva das vinícolas e os dividiram em três grupos principais como ácidos fenólicos, flavonóides e taninos. Os mais abundantes neles são as antocianinas que conferem cor vermelha às uvas após o amadurecimento, os ácidos hidroxibenzóico e hidroxicinâmico, flavanóis (catequinas e proantocianidinas), flavanóis e estilbenos. O ácido gálico e os flavanóis estão presentes principalmente nas sementes de uva. O total de compostos fenólicos extraíveis no bagaço de uva é de cerca de 60-70% nas sementes, 30-35% na casca e quase 10% ou menos na polpa. O conteúdo fenólico nas sementes de uva é de 5-8% em peso.
O extrato de uva apresenta atividade anti-inflamatória, antiapoptótica, antinecrótica, cardiovascular e anticancerígena e tem efeitos benéficos contra diversas doenças, incluindo o envelhecimento da pele. O uso de resíduo de uva diminui o estresse oxidativo e auxilia na redução da anti-inflamatória (Hosseinzadeh, 2017).
Ebrahimzadeh et al. (2018) investigaram o efeito do bagaço de uva em frangos de corte e observaram que a adição na dieta melhorou a resposta antioxidante e imunológica e também reduziu o custo com ração por kg de peso vivo. Os resultados deste estudo sugerem que a adição de até 10% de bagaço de uva nas dietas não afetou o desempenho dos frangos de corte. Aditya et al. (2018) sugeriram que a suplementação com esse residuo até 10 g/kg foi eficaz na redução do colesterol sérico e na melhoria da qualidade da carne em frangos de corte sem afetar seu desempenho de crescimento, digestibilidade de nutrientes e características de carcaça.
Kara et al. (2016) estudaram o efeito da suplementação com bagaço de uva no desempenho da dieta de poedeiras, avaliando a qualidade dos ovos, na peroxidação lipídica dos ovos e em alguns parâmetros bioquímicos. Eles concluíram que a suplementação de 4% e 6% de bagaço de uva nas dietas de galinhas poedeiras não causa quaisquer efeitos adversos no desempenho e na qualidade dos ovos; no entanto, pode melhorar a vida útil do ovo, reduzindo a concentração de malondialdeído na gema do ovo.
*Autores: Luiz Felipe Diniz Aniceto e Silva; Nathan Ferreira da Silva; Fabiana Ramos dos Santos; Marco Antônio Pereira da Silva; Guilherme Henrique Salgado; Gabriel Martins Nobre - [email protected]
Referências: Aditya, Siska et al. Supplementation of grape pomace (Vitis vinifera) in broiler diets and its effect on growth performance, apparent total tract digestibility of nutrients, blood profile, and meat quality. Animal nutrition, v. 4, n. 2, p. 210-214, 2018. Bail, S.; Stuebiger, G.; Krist, S.; Unterweger, H. e Buchbauer, G. Characterisation of various grape seed oils by volatile compounds, triacylglycerol composition, total phenols and antioxidant capacity. Food Chemistry, v. 108, p. 1122-1132. 2008 .https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2007.11.063. Beres, Carolina et al. Towards integral utilization of grape pomace from winemaking process: A review. Waste management, v. 68, p. 581-594, 2017. Costa, M. M.; Alfaia, C. M.; Lopes, P. A.; Pestana, J. M.; Prates, J. A. M. Grape By-Products as Feedstuff for Pig and Poultry Production. Animals 2022, 12, 2239. https://doi.org/10.3390/ani12172239 Ebrahimzadeh, S. K. et al. Effects of grape pomace and vitamin E on performance, antioxidant status, immune response, gut morphology and histopathological responses in broiler chickens. South African Journal of Animal Science, v. 48, n. 2, p. 324-336, 2018. Hosseinzadeh F. The healing effect of Grape seed oil enema with or without sesame oil in acetic acid induced ulcerative colitis of rats. World J Plast Surg 6(2):176-182. 2017. Junior, R. G.; Cavali, J.; Porto, M. O.; Ferreira, E.; Stachiw, R. Resíduos agroindustriais e alimentação de ruminantes. Revista Brasileira de Ciências da Amazônia, v. 3, n. 1, p. 93-104, 2014. DOI: https://doi.org/10.52945/rac.v35i2.1134 Kara, Kanber et al. Effects of grape pomace supplementation to laying hen diet on performance, egg quality, egg lipid peroxidation and some biochemical parameters. Journal of Applied Animal Research, v. 44, n. 1, p. 303-310, 2016. Erinle, T. J. e Adewole, D. I. Fruit pomaces-their nutrient and bioactive components, effects on growth and health of poultry species, and possible optimization techniques. Animal Nutrition, v. 9, p. 357-377. 2022. https://doi.org/10.1016/j.aninu.2021.11.011.