O manejo integrado de irrigação (ou manejo integrado de água)
Ao adotar essa abordagem integrada, os irrigantes não apenas otimizam o uso da água, mas também promovem sustentabilidade e ganhos econômicos
O Brasil não é um país com muita tradição quando o assunto é irrigação. A ANA (Agência Nacional de Águas) estima que em 2021 possuíamos uma área irrigada aproximada de 8,2 milhões de hectares, o que nos leva a não tão orgulhosa 6ª posição. Ficamos atrás de países com menos exposição agrícola como o Paquistão e o Irã, por exemplo.
No entanto, esse cenário vem mudando. Seja por anomalias climáticas, pela maior conscientização dos produtores ou por ambos, a área irrigada no Brasil tem crescido a cada ano.
Junto a área irrigada, o grau de tecnologia adotada em campo também vem crescendo. O que antigamente eram apenas sistemas de "molhação", com menos eficiência de aplicação de água, hoje tem empregado em seus equipamentos tecnologias de acionamento remoto, monitoramento a distância e até mesmo avaliação da necessidade de irrigação.
Essas tecnologias estão criando um pensamento nos irrigantes e desenvolvendo o que chamamos de "Consciência de Irrigante", onde a água passa ser um "insumo de produção".
Mas o que significa, "ter a consciência de irrigante"? Vamos citar alguns exemplos:
O fertilizante é um insumo de produção. Correto? Quando realizamos uma recomendação de adubação, normalmente, nós solicitamos uma análise química do solo, onde através dela recomendamos os nutrientes e a quantidade necessária para a nutrição das plantas. Para os inseticidas, solicitamos um levantamento populacional de pragas, para tomarmos a decisão se a praga atingiu o nível crítico de controle. Para irrigação é o mesmo pensamento, se a água é um insumo de produção precisamos de ferramentas que nos auxiliem no momento de irrigar e a quantidade de água a aplicar.
E no mercado, há várias ferramentas que nos auxiliam nesse diagnóstico, desde os métodos mais simples e práticos até aos mais complexos e assertivos.
Um dos métodos mais básicoa é a análise sensorial, onde através do contato físico, o avaliador pode concluir se o solo está saturado, úmido ou seco. Conforme representado na foto 01, abaixo.
Foto 01. Levantamento sensorial
Esse método, é excelente, no entanto tem suas limitações. Pois é uma metodologia que depende muito da experiência e sensibilidade do avaliador. E dizer que o solo está úmido, não significa que a água está facilmente disponível para as plantas.
Também temos as ferramentas de mensuração de umidade e tensão da água no solo, como por exemplo a sonda e o tensiômetro, respectivamente.
A sonda de TDR (Time Domain Reflectometry) tem sido usado como um método para medida da constante dielétrica e condutividade elétrica do solo pela determinação do tempo de trânsito e dissipação, respectivamente, de um pulso eletromagnético lançado ao longo de sondas metálicas paralelas inseridas no solo. A propagação de sinais elétricos no solo é influenciada pela umidade e condutividade elétrica.
E o manejo da irrigação pode ser determinado pela quantidade (%volume) de água que há no solo. Como demonstrado abaixo (foto 02 e 03).
Foto 02. Exemplos de sonda
Foto 03. Manejo realizado por sondas
Já o tensiômetro é constituído por uma cápsula de cerâmica porosa, conectada a um mecanismo de leitura através de um tubo de PVC com um diâmetro pré-estabelecido.
Seu funcionamento é meramente físico, pois o seu interior é preenchido com água e quando colocado no solo, a água contida na cápsula tende a entrar em equilíbrio com a água presente no solo.
Qualquer alteração na quantidade de água do solo (secamento ou umedecimento) será transmitida à água no interior da cápsula, sendo que essa alteração é registrada pelo medidor (tensímetro).
No entanto, vale lembrar que o tensiômetro mede a tensão da água, ou seja, a "força" que a planta necessita fazer para retirar essa água do solo, quanto maior a força, mais seco o solo está. Foto 04 e 05.
Foto 04. Exemplos de tensiômetro
Foto 05. Manejo realizado por tensiômetria
Além dessas ferramentas temos também as estações meteorológicas e as planilhas de balanço hídrico, que apesar de não mensurar a umidade do solo, elas nos fornecem informações necessárias para auxiliar na decisão.
Quando questionado sobre a melhor ferramenta de trabalho, a recomendação é que seja utilizada ao menos uma. O que diferencia a molhação de uma irrigação é a análise e o uso das informações técnicas para a tomada de decisão quanto ao manejo.
O ideal é que sejam utilizadas ferramentas que deem uma base para análise, como a estação meteorológica ou as plataformas de balanço hídrico. No entanto, já é um diferencial o uso de sensores de umidade de solo como os tensiômetros ou sondas. Realizando o que se pode denominar de Manejo Integrado de Irrigação (MII).
O Manejo Integrado de Irrigação (MII) não é apenas uma prática, mas uma mudança de mentalidade que transforma a supervisão em um processo estratégico e eficiente. Ele reúne ferramentas tecnológicas e métodos de análise que colocam a água no mesmo patamar de outros insumos essenciais à produção agrícola, como fertilizantes e defensivos. Ao adotar essa abordagem integrada, os irrigantes não apenas otimizam o uso da água, mas também promovem sustentabilidade e ganhos econômicos. O futuro da agricultura brasileira depende da expansão dessa consciência, onde a união entre tecnologia, conhecimento e boas práticas pode alavancar nossa competitividade no cenário global, garantindo um uso responsável e eficaz dos recursos hídricos. *Daniel Pedroso, especialista agronômico sênior da Netafim Brasil
Sobre a Netafim - Fundada em um pequeno kibbutz em Israel há quase 60 anos, a Netafim é pioneira e líder mundial em soluções para irrigação. Com atuação em mais de 110 países, chegou ao Brasil na década de 1990, com um portfólio completo de produtos e soluções inovadoras de irrigação por gotejamento, que visam contribuir com o eficiente uso da água, aumentando a produtividade na agricultura e trazendo mais tranquilidade ao produtor rural.
*Mariana Cremasco - (019) 2136-3500/99781-6909 - www.alfapress.com.br | mariana.cremasco@alfapress.