Utilização da tecnologia blockchain na rastreabilidade de alimentos: uma revisão de literatura
A tecnologia blockchain oferece segurança, transparência e rastreabilidade em tempo real, suprindo deficiências nos sistemas tradicionais
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Introdução - A rastreabilidade refere-se à capacidade de monitorar o histórico, a localização e a trajetória de um produto ao longo da cadeia produtiva, desde sua origem até o destino final. Para garantir esse controle, governos e organizações de saúde ao redor do mundo estabelecem regras, diretrizes e padrões específicos para a rastreabilidade dos alimentos.
Na Europa, por exemplo, a Diretiva Europeia 178/2002 tornou obrigatória a rastreabilidade dos produtos alimentícios a partir de 1º de janeiro de 2005 (DEMESTICHAS et al., 2020).
Segundo Casino et al. (2021), a rastreabilidade passou a ser considerada um novo índice de qualidade na indústria alimentícia, sendo os sistemas de rastreamento essenciais para que as empresas identifiquem a causa e a extensão de problemas relacionados à segurança dos alimentos. No entanto, apesar da existência de sistemas tradicionais de rastreabilidade, observa-se que a maioria deles é centralizada, pouco ágil e transparente, além de ultrapassada em termos de compartilhamento de dados (DEMESTICHAS et al., 2020).
A FAO (2017) estabelece que um sistema de rastreabilidade deve: (i) possibilitar a identificação do produto por meio de um código, como o número do lote, associando-o aos lotes de ingredientes, matérias-primas e materiais de embalagem de contato direto e indireto; (ii) ser capaz de rastrear o produto desde o cliente, retornando por todas as etapas do processo até o fornecedor dos ingredientes, matérias-primas e embalagens, incluindo o transporte; (iii) permitir o rastreamento no sentido oposto, do fornecedor até o cliente, garantindo um controle eficiente em toda a cadeia de suprimentos. Dessa forma, a rastreabilidade completa do produto deve abranger toda a cadeia alimentar, incluindo a etapa de transporte.
Considerando que o modelo tradicional de rastreamento no transporte não oferece segurança alimentar, transparência e rastreabilidade em tempo real (DEMESTICHAS et al., 2020), o blockchain surge como uma ferramenta promissora para modernizar esse processo. Com seu potencial para transformar permanentemente os sistemas tradicionais, essa tecnologia possibilita um modelo mais eficiente, ágil, seguro e transparente, promovendo avanços significativos na segurança dos alimentos (PANDEY; PANT; SNASEL, 2022).
O que é o BLOCKCHAIN? - A crescente preocupação dos consumidores com a procedência e qualidade dos alimentos impulsionou a adoção da rastreabilidade, um conjunto de técnicas que registra informações sobre a origem, tratamentos e processamentos dos produtos (Corallo et al., 2018). A valorização da qualidade é tamanha que muitos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos rastreados (Badia-Melis et al., 2015). Além disso, há uma busca por informações detalhadas sobre a obtenção, impactos ambientais e bem-estar animal na produção de alimentos (Vital et al., 2018).
Casos de fraude alimentar e contaminações reforçaram a necessidade de rastreabilidade. Em 2011, na China, um escândalo de rotulagem incorreta envolveu carne de burro fraudada com carne de raposa, enquanto, nos EUA, um surto de Salmonella em 2017 foi associado ao consumo de mamões contaminados. No Canadá, milhões de pessoas foram afetadas por doenças alimentares (Westerlund et al., 2021).
Tais eventos reduziram a confiança do consumidor na qualidade dos produtos, gerando uma demanda por certificações confiáveis para rastrear a origem dos alimentos, do campo até a mesa (Patelli; Mandrioli, 2020). Assim, tornou-se necessário um sistema de rastreabilidade eficiente que possibilite rastrear produtos tanto para trás (upstream) quanto para frente (downstream) na cadeia produtiva (Tanwar et al., 2022).
O blockchain surge como uma solução inovadora para aprimorar a rastreabilidade. Trata-se de um banco de dados digital descentralizado onde cada transação é permanentemente registrada em blocos interligados por códigos únicos (hashes), tornando a adulteração inviável (Garg & Kumar, 2021; Monfared, 2016). Diferente dos sistemas convencionais, o blockchain não possui uma autoridade central e permite acesso igualitário a todos os participantes da rede (Monfared, 2016).
A tecnologia blockchain oferece segurança, transparência e rastreabilidade em tempo real, suprindo deficiências nos sistemas tradicionais (Nakamoto, 2009). Sua aplicação na rastreabilidade de alimentos possibilita um acompanhamento detalhado da cadeia produtiva, garantindo credibilidade ao consumidor e agregando valor ao produto (Yiannas, 2018). Grandes empresas do setor alimentício, como Walmart, McDonald's, Nestlé e JBS, investem no blockchain para otimizar a rastreabilidade e reduzir o tempo de rastreamento (Wong et al., 2020; Kshetri, 2018).
Além disso, o blockchain contribui para a sustentabilidade, rastreando e validando dados sobre a neutralidade de carbono de produtos e empresas (Ju et al., 2022). Seu funcionamento baseia-se em três etapas principais: criptografia de dados, ledger para bloqueio de alterações e contratos inteligentes que automatizam ações dentro da rede (Friedman; Ormiston, 2022; Tharatipyakul; Pongnumkul, 2021).
Dada sua imutabilidade e descentralização, o blockchain é uma solução eficaz para fraudes, promovendo maior transparência na rastreabilidade alimentar (Chen et al., 2021). Sua adoção continua a crescer no setor privado, consolidando-se como ferramenta essencial na logística de rastreamento (Singh et al., 2020). Com a capacidade de armazenar e rastrear dados em todas as etapas da produção, essa tecnologia moderniza a rastreabilidade alimentar e fortalece a confiança do consumidor (Kamilaris et al., 2019).
Considerações Finais: A tecnologia blockchain é uma base de dados distribuída que permite o registro de transações em blocos interligados, garantindo a segurança e a integridade dos dados. Além disso, ela permite que os usuários tenham acesso a informações precisas e confiáveis sobre a origem dos produtos alimentícios, desde o produtor até o consumidor final. Com isso, é possível rastrear a cadeia de produção e distribuição dos alimentos, garantindo maior transparência e confiança aos consumidores. A tecnologia blockchain tem o potencial de revolucionar a forma como as empresas gerenciam seus negócios e como os consumidores interagem com os produtos que consomem. *Autores: Guilherme Henrique Salgado; Luiz Felipe Diniz Aniceto e Silva; Stephani Borges da Silva; Marco Antonio Pereira da Silva; Andreia Santos Cezario - guilherme.salgado1@ estudante.ifgoiano.edu.br