Artigos Técnicos

Estratégias para conservação de jabuticaba pós-colheita

De maneira geral, a refrigeração, os tratamentos pós-colheita e também a união destes tem alto potencial de auxílio na conservação de frutas, pois não representam um investimento tão alto


Jabuticaba brasileira, produzida em várias regiões do País

Destaque: a refrigeração é essencial para prolongamento da vida de prateleira e o ácido salicílico, especialmente na dosagem de 3,0 mM, também contribuiu para mitigar a ocorrência de podridão e perda de massa.

A jabuticabeira, frutífera nativa brasileira, tem ocorrência em quase todo território nacional. É conhecida por sua peculiaridade em frutificar em troncos e ramos. Seus frutos são amplamente apreciados, tanto in natura, quanto como base para a produção de derivados, sendo uma alternativa para a comercialização entre safras e diminuição do desperdício.

O fruto é rico em vitaminas, minerais, carboidratos e compostos bioativos como como os fenólicos dos quais se destacam as antocianinas e taninos presentes principalmente na casca. As jabuticabas são frutas não climatéricas, tendo um período pós-colheita bastante reduzido. O controle da respiração através de fatores extrínsecos como temperatura, umidade relativa e tratamentos químicos, são essenciais para a manutenção da qualidade pós-colheita e extensão da vida de prateleira dos frutos, de três a 4 dias.

O manejo pós-colheita de frutas nativas brasileiras como o caso da jabuticaba, ainda carece de estudos para conservação in natura. A refrigeração é o método de conservação mais amplamente utilizado devido à sua capacidade de desacelerar as reações metabólicas e retardar a senescência. Outras estratégias podem ser utilizadas de tratamentos pós-colheita, de preferência naturais para que tenhamos uma fruta livre de qualquer tipo de resíduo. Neste sentido, o ácido salicílico (AS) é um composto fenólico natural, também tratado como "fitohormônio" que, tem sido utilizado e possui a capacidade de induzir a resistência a patógenos e reduzir a atividade metabólica pós-colheita. Isso resulta em auxílio no prolongamento da vida de prateleira das frutas. O AS tem sido usado para algumas frutas para com relativo sucesso. Também, a radiação ultravioleta-C (UV-C), tem sido testada com grande êxito na conservação de frutas. Esta radiação reduz a carga de microrganismos nas frutas, mas principalmente induz a biossíntese de compostos que participam do sistema de defesa dos vegetais. De maneira geral, a refrigeração, os tratamentos pós-colheita e também a união destes tem alto potencial de auxílio na conservação de frutas, pois não representam um investimento tão alto e são de fácil aplicação. Esses tratamentos já vêm sendo testados em jabuticaba, mas de forma isolada, não considerando potenciais sinergismo de resultados. Por isso, desenvolveu-se um estudo onde demonstrou-se o potencial de utilização de refrigeração, ácido salicílico e UV-C de forma conjunta.

Experimentação e resultados observados - Um estudo foi conduzido no laboratório de frutas e hortaliças da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Francisco Beltrão (UTFPR-FB). Utilizou-se jabuticabas (Plinia cauliflora), variedade Sabará, proveniente de um pomar didático da UTFPR - Dois Vizinhos. Os frutos maduros foram colhidos, selecionados e higienizados com água clorada antes do início do experimento.

Num pré-teste observou-se que, o banho em solução de AS em concentrações de 3mM demonstra auxiliar na redução da ocorrência de podridão nas jabuticabas que ficaram armazenadas a temperatura ambiente. Neste tratamento, as frutas foram submersas em solução de AS por 1 minuto. A partir dessa informação, estudou-se a utilização conjunta de AS, da refrigeração e de radiação UV-C por 8 minutos.

As frutas foram embaladas em bandeja de isopor, recoberto com filme PVC e armazenadas a temperatura ambiente (AMB) (23 ± 1°C) e refrigeração (REF) (5°C). As avaliações foram feitas durante 8 dias.

A qualidade das frutas normalmente é medida por meio dos parâmetros físico-químicos e sensoriais. Além disso, podemos mensurar o estado de conservação e condições de qualidade pelos parâmetros de ocorrência de podridões ou ataque de
microrganismos, bem como a perda de massa. A perda de massa impacta não somente na qualidade sensorial, mas também na perda de produto e consequentemente econômica.

Figura 1. Incidência de podridão e perda de massa de jabuticabas Sabará tratadas com UV-C, Ácido salicílico armazenadas por 8 dias

Apresentamos duas figuras que representam parte dos resultados encontrados no estudo realizado e armazenados por 8 dias. Evidenciamos duas informações importantes: a refrigeração (REF) foi imprescindível na inibição da ocorrência de podridões e perda de massa. As frutas armazenadas em refrigeração, com UV-C e AS tiveram conservação semelhante. Em temperatura ambiente, apenas AS demonstrou potencial para auxiliar na conservação, diminuindo podridão e perda de massa, embora os indices ainda sejam altos (Figura 1A).

Os níveis de perda de massa nos tratamentos que ficaram em temperatura ambiente também são considerados inadequados, pois indices acima de 8% resultam representam perda de qualidade e perda econômica significativa (Figura 1B).
Portanto, a refrigeração foi essencial na prevenção da podridão e na redução da perda de massa. O ácido salicílico, especialmente na dosagem de 3,0 mM, também contribuiu para mitigar a ocorrência de podridão, principalmente em temperatura ambiente. O uso de UV-C não demonstrou ter resultados efetivos nesse estudo, porém, se consideramos outros estudos, possivelmente se aumentarmos o tempo de tratamento é possível ter resultados melhores.

Autores: Natalia Moraes de Oliveira, Bruna Gomes das Virgens Gobbi, Sarah Nicolle Carvalho de Lima, Otavio Camara, Americo Wagner Jr, *Luciano Lucchetta Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Francisco Beltrão-PR, Brasil, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Francisco Beltrão/Londrina *Prof. Dr. Luciano LUCCHETTA - Fone: (46) 99141-7791 - [email protected] -Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Francisco Beltrão

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