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Agricultores buscam nos biofertilizantes uma alternativa para reduzir os custos na adubação das lavouras

A disparada do preço dos fertilizantes em 2021 tem levado muitos produtores a procurarem soluções mais econômicas sem comprometer a produtividade


A disparada do preço dos fertilizantes em 2021 tem levado muitos produtores a procurarem soluções mais econômicas para adubar as lavouras, sem comprometer a produtividade. Com isso, tem crescido o interesse pelo uso de práticas agroecológicas e biofertilizantes, principalmente nas pequenas propriedades.

Por conta da crescente demanda na área a Emater-MG está promovendo cursos e treinamentos como o 1º Encontro sobre Transição Agroecológica, realizado em Cataguases, na Zona da Mata.

No encontro, os técnicos tem apresentado aos participantes um novo conceito de fertilização do solo, com a produção livre de agrotóxicos, por meio de preparos, compostos e biofertilizantes, que são adubos produzidos na propriedade, utilizando materiais existentes no local como esterco, leite, cinzas e outros.

"Com a alta de preço dos fertilizantes industrializados, está havendo muita procura por práticas e técnicas agroecológicas. Produtores que nunca pensaram em usar biofertilizantes estão passando a usar, principalmente em pequenas áreas", comenta Fernando Tinoco, coordenador da Emater-MG.

Os agricultores aprendem também o passo a passo das principais caldas e adubos orgânicos. Além da aula prática, os participantes receberam uma apostila com informações e receitas para utilizarem no dia a dia de suas propriedades. "A partir dessa iniciativa, pretendemos disseminar estas práticas para mais produtores do município", diz o extensionista local, Luiz Fernando Godinho.

Preços dos fertilizantes dobraram - Segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o valor dos fertilizantes subiu mais de 100%, de janeiro a setembro deste ano. No período, os preços da ureia, do MAP (fosfato monoamônico) e do KCL (cloreto de potássio) subiram 70,1%, 74,8% e 152,6%, respectivamente. A forte alta se deve a uma combinação de preços internacionais elevados, grande demanda, escassez da oferta mundial e problemas logísticos. E como se trata de componentes fundamentais para o plantio das safras agrícolas, os custos da produção agropecuária foram para as alturas.

Fernando Tinoco diz que o ideal é que a migração do sistema tradicional para o agroecológico seja feita com o acompanhamento de um profissional da área, como os extensionistas da Emater-MG. Mas o coordenador dá algumas orientações para o produtor que trabalha no modo tradicional e está interessado em adotar técnicas agroecológicas.  "Ele pode iniciar fazendo a compostagem, que é a decomposição de materiais orgânicos. Como adubo de plantio, dá para fazer a mistura de esterco de vaca ou galinha, palhada (bagaço de cana ou capim picado) e /ou acrescentar minerais. Para algumas culturas, a gente pode usar a mistura não só para o plantio, como também na adubação de cobertura", explica.

Já os biofertilizantes líquidos são mais indicados como adubos de cobertura. "O mais simples e fácil de preparar são os biofertilizantes a base de esterco fresco de vaca e de cama de frango, acrescido também de alguns minerais, dependendo da cultura. Aí deixamos fermentar em caixas plásticas ou bombonas por um período aproximado de 30 dias", diz Tinoco.

Bioinseticidas - A compostagem leva cerca de 90 dias para fermentar e estar apta para o uso. Tinoco explica que não é bom usar o esterco fresco diretamente na planta, por ter algumas bactérias e outros microrganismos que podem contaminar os alimentos.

"Além de serem utilizados como adubo foliar e de cobertura, os biofertilizantes também são considerados repelentes de insetos pelo forte cheiro. Eles ajudam ainda no aumento da vida do solo, pois a flora microbiana possibilita a melhor liberação e absorção de minerais do solo, que antes estavam pouco disponíveis. Com isso, melhora a absorção desses elementos pelo sistema radicular das plantas e, com o passar do tempo, elas se tornam mais vigorosas e produtivas", argumenta Tinoco.

Nos últimos anos, no Brasil, tem crescido bastante o uso de bioinsumos. Além de compostos orgânicos, há micro-organismos utilizados para o controle de pragas e doenças, que também integram a linha agroecológica. Também entram nessa família a criação e multiplicação de insetos, fungos e bactérias que são usados no controle de pragas e doenças, em substituição aos agrotóxicos.  *Emater MG

"Hoje em dia, existem muitos produtores no país, inclusive de grandes fazendas, eliminando gradativamente ou na totalidade os defensivos e insumos químicos. E o que vemos é que eles estão obtendo excelentes resultados, diminuindo custos de produção e, em muitos casos, melhorando até mesmo a produtividade", assegura Tinoco.

BNDES vai financiar bioinsumos - Financiamento pode diminuir dependência de insumos do mercado externo

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar a produção e a comercialização de bioinsumos por meio do BNDES Finem (produto voltado a operações superiores a R$ 20 milhões) e do BNDES Crédito Rural Custeio (acessível a produtores de menor porte, inclusive pessoas físicas). A iniciativa contribui para o meio ambiente ao estimular aproveitamento de resíduos na própria atividade agropecuária. Além disso, reduz a dependência externa de insumos utilizados no campo.

Bioinsumos são produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana que contribuem positivamente para a produtividade agropecuária. Como exemplo, podem ser citados os biofertilizantes, que diferentemente dos fertilizantes sintéticos, são gerados a partir de resíduos da atividade agropecuária.

Com a iniciativa, o BNDES passa a oferecer crédito de maneira estável para bioinsumos, tornando permanente um incentivo que estava disponível desde julho por meio do ABC, Pronaf Custeio e Pronamp Custeio. No caso destes três programas, os financiamentos ficam limitados à execução do orçamento definido anualmente, o que não ocorre com a nova linha, de caráter permanente. Além disso, diferente dos programas citados, no BNDES Finem o apoio não estará restrito aos produtores rurais, incluindo por exemplo os segmentos de produção de insumos agropecuários e de processamento agroindustrial.

O apoio do BNDES está em linha com o Programa Nacional de Bioinsumos, lançado em junho de 2020 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Ele tem como objetivo ampliar e fortalecer a utilização dos bioinsumos para promoção do desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira.

Para o diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do banco de fomento, Bruno Aranha, a novidade conjuga benefícios econômicos e ambientais para o país. "O BNDES tem como prioridade estratégica estimular a adoção de práticas cada vez mais sustentáveis no agronegócio brasileiro, o que vai contribuir para mitigar os impactos ambientais e ainda fortalecer nossa competitividade internacional. Foi por esta razão que resolvemos ampliar o escopo de instrumentos de fomento ao uso de bioinsumos agropecuários, reforçando e intensificando o apoio do BNDES ao Plano Nacional de Bioinsumos", explica.

Além do efeito positivo para o meio ambiente, os bioinsumos podem contribuir para a diminuição da dependência do setor externo no fornecimento de fertilizantes. O Brasil é um dos maiores importadores mundiais de produtos químicos, especialmente fertilizantes e defensivos agrícolas. Em 2020, o déficit total da balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 30,4 bilhões. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o Brasil importou praticamente US$ 7,2 bilhões em intermediários para fertilizantes em 2020 e eles corresponderam a 61,7% das 51,5 milhões de toneladas de compras externas de produtos químicos. Estudo do BNDES, baseado em dados de 2015, indica que resíduos gerados no processo produtivo dos setores sucroalcooleiro, suínos e aves teriam o potencial para fornecer aproximadamente 14% da demanda nacional por fertilizantes à base de nitrogênio, fósforo e potássio.

"Além do impacto socioambiental positivo, estamos falando de um mercado potencial superior a US$ 1 bilhão por ano apenas em relação aos setores sucroalcooleiro, suínos e aves", complementa Bruno Aranha. *Assessoria de Imprensa

 

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