Missão técnica para Europa do Projeto de Variedades de uvas resistentes à doenças (PIWI)
Estavam os pesquisadores André Luiz Kulkamp de Souza/Marco Antônio Dal Bó/Vinícius Caliari (Epagri EEV), Leocir Welter (UFSC Curitibanos) das áreas de fitotecnia (Viticultura), melhoramento vegetal e Enologia
O relatório se refere a missão técnica de pesquisadores catarinenses da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Estação Experimental de Videira, e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus Curitibanos, que ocorreu entre os dias 11 e 25 de setembro de 2022 e percorreu quatro países (Alemanha, França, Itália e Hungria).
O grupo foi composto pelos pesquisadores André Luiz Kulkamp de Souza (Epagri EEV), Leocir Welter (UFSC Curitibanos), Marco Antônio Dal Bó (Epagri EEV) e Vinicius Caliari (Epagri EEV), representando as áreas de fitotecnia (viticultura), melhoramento vegetal e enologia.
"O objetivo da viagem foi reforçar e estabelecer parcerias com institutos privados e públicos europeus, discutir instrumentos jurídicos para formalizar as parcerias já em andamento, prospectar novas parcerias e trabalhos futuros, além de proporcionar atualização técnica dos pesquisadores em relação ao que está sendo feito nos principais centros de pesquisa de viticultura da Europa", declarou André Kulkamp, pesquisador da Epagri EEV, de Videira/SC.
Na França foi visitado o INRA (Institut national de la recherche agronomique), localizado na cidade de Colmar na região da Alsácia. Este centro realiza programas de pesquisa para adquirir novos conhecimentos e desenvolver inovações para a viticultura sustentável. A unidade tem um programa de melhoramento focado na resistência a doenças, piramidação gênica e uso de seleção assistida por marcadores moleculares. Ainda trabalham na identificação e caracterização de novas fontes de resistência e na transferência de variedades ao setor produtivo e manejo de resistência. Em 2018 lançaram as variedades Floreal, Voltis, Vidoc e Artaban e em 2022 Coliris, Lilaro, Sirano, Selenor e Opalor. As primeiras 4 variedades contam com área comercial plantada de 550 hectares. Na visita foram degustados os vinhos elaborados com cada uma das variedades. A visita proporcionou possíveis parcerias para o melhoramento e intercâmbio de estudantes brasileiros.
Na Alemanha foram visitados os dois principais institutos que trabalham com melhoramento da videira, o WBI (Staatliches Weinbauinstitut Freiburg) e o JKI (Julius Kuhn Institut).
A WBI já lançou mais de uma dúzia de variedades PIWI que são consolidadas na Europa e já introduzidas e avaliadas pela Epagri e UFSC. Foi possível observar o desenvolvimento a campo e degustar vinhos experimentais e comerciais das variedades Cabernet cortis, C. carbon, C. Cantor, Souvignier Gris, Johanniter, Bronner, Helios, Solaris e Muscaris. A reunião possibilitou a intermediação para formalização da comercialização da variedade Souvignier gris no Brasil, bem adaptada em Santa Catarina e muito plantada na Europa, além da possibilidade de parceria no programa de melhoramento genético, com troca de germoplasma.
No Julius Kuhn Institut (JKI) - Siebeldingen - Alemanha, as atividades iniciaram com uma breve reunião com o melhorista do instituto, Dr. Oliver Trapp, seguido por visita aos laboratórios e campos experimentais para tratar das parcerias já existentes. Além disso, foram degustados vinhos produzidos no Brasil e na Alemanha com as variedades desenvolvidas pela JKI. Os vinhos brasileiros foram elogiados quanto a elaboração. Ainda no que diz respeito as questões enológicas, foi possível discutir alternativas de vinificações a fim de incrementar a qualidade dos vinhos elaborados no Brasil. A visita permitiu o fortalecimento da parceria com a JKI, o principal parceiro da Epagri e UFSC e avaliado como um dos grupos mais fortes da Europa pensando no futuro do melhoramento genético para resistência a doenças. Ainda, definiu-se possível envio de germoplasma para o melhoramento da videira em Santa Catarina e outras temáticas de pesquisa de interesse mútuo, com discussão de possibilidade de captação de recurso via parceira Brasil e Alemanha, com a participação da Fapesc e Fapesp.
Na Itália a missão técnica foi recebida pela Fondazione Edmund Mach de San Michele all'Adige (Trento Itália), outra referência em termos de produção de conhecimento, proporcionando desdobramentos concretos para a área dessa província da Itália. A parceria com a instituição iniciou-se a quase vinte anos com o projeto Trento que testou 36 variedades italianas em Santa Catarina. Desde então, o trabalho se consolidou e hoje é focado no teste de variedades de uvas resistentes a doenças. Na visita foi tratada de questões jurídicas para formalização de mais uma parceria para introduzir diversos novos genótipos para teste em Santa Catarina. Foram visitas vinícolas italianas que trabalham com variedades PIWI de forma comercial como a vinícola Lieselehof (Caldaro, Bolzano, Itália) e Pravis (Lasino, Trento, Itália).
Na Hungria a visita teve início numa área pertencente a um viveiro privado que faz melhoramento genético de videira. Nessa visita foi apresentada a metodologia e parte da estrutura empregadas neste trabalho. A base genética para a resistência a míldio se baseia nos genes Rpv1 e Rpv12 e, para oídio, no gene Run1. Além disso, está incorporando resistência a "black rot", que é uma doença importante na Hungria, usando como fonte de resistência descendentes de Seibel 4986 (Rayon d'Or). De modo geral, é um programa bastante focado e de pouco investimento, porém tem como base a vasta experiência de um pesquisador que é referência no tema, o Dr. Kozma. Também foi possível ver em produção algumas variedades criadas na Universidade de Pécs pelo Dr. Kozma e que foram introduzidas recentemente no Brasil. Um dos pontos de destaque das visitas foi a possibilidade de conhecer nas condições de origem as variedades Piwi de origem húngara recentemente introduzidas no Brasil. Assim foi possível antever o potencial dessas variedades, já que ainda não entraram em produção nas nossas condições. De modo geral, chamou a atenção a alta qualidade dos vinhos elaborados a partir dessas variedades e que está combinada com uma excelente sanidade das plantas. A resistência ao míldio, conforme já observamos no Brasil, é muito alta, em função da presença dos genes Rpv1 e Rpv12 na maioria das cultivares. Segundo o Dr. Kozma, as variedades mais promissoras seriam a Pinot Regina (tinta) e Abigel (branca), mas outras também mostram um grande potencial para as condições brasileiras.
Na sequência, visitou-se as dependências do Instituto de Pesquisa em Viticultura e Enologia, da Universidade de Pécs, onde houve uma reunião para tratar da parceria. Após foram degustados os vinhos e acompanhado o desempenho no vinhedo das variedades desenvolvidas pela Universidade.
De acordo com André Luiz Kulkamp de Souza, gerente da Estação Experimental de Videira, "A visita foi de extrema importância, pois permitiu visitar os mais tradicionais programas de melhoramento da videira para resistência à doenças na Europa, o que permitiu fortalecer as relações com os institutos com os quais a Epagri e UFSC já colaboram, além de ampliar a rede de possíveis parcerias com os demais institutos. Todos os institutos visitados demonstraram real interesse em estabelecer parcerias, tanto na pesquisa, quanto no melhoramento genético da videira. A parceria com estes institutos pode permitir o acesso à germoplasma de elevado interesse para o melhoramento da videira, que vem sendo selecionado há mais de um século na Europa. O acesso a este germoplasma pode acelerar o lançamento de novas variedades no Brasil. A degustação de vinhos de variedades PIWI que estão em cultivo em Santa Catarina, também possibilitou vislumbrar possíveis estratégias de vinificação em Santa Catarina".
A Epagri e a UFSC vêm desenvolvendo um programa de melhoramento da videira no Brasil de modo inovador. Ações de pré-melhoramento permitiram o desenvolvimento de seleções contendo genes de resistência ao míldio e oídio piramidados. Além disso, a parceria com o JKI permitiu a localização do primeiro loco de resistência à antracnose, que está sendo utilizado na rotina do melhoramento local. Seleções avançadas de melhoramento resistentes a doenças já estão sendo avaliadas quanto ao potencial enológico.
A visita à Europa permitiu visualizar as estratégias de melhoramento dos diferentes institutos visitados. Este conhecimento adquirido será utilizado para redefinir a organização do programa de melhoramento desenvolvido em conjunto entre UFSC e Epagri.
"A missão técnica foi bem-sucedida para estreitar as relações de confiança, fundamentais para um trabalho de longo prazo. O contato direto possibilitou o melhor entendimento no que diz respeito aos instrumentos jurídicos que estavam em negociação, além de possibilitar a prospecção de novas parcerias", finalizou Kulcamp.