Originário do continente americano e utilizado por seus povos originários há mais de nove mil anos, hoje o abacate compõe a dieta de milhões de pessoas ao redor do globo. Seu consumo vem crescendo devido à popularização da culinária mexicana e mesoamericana, mas também por ser considerado uma superfruta.

Com polpa amarelo-esverdeada que contém um perfil de óleos insaturados invejável e de textura amanteigada, o abacate (P. americana Mill.) recentemente ganha maior popularização devido aos influencers da internet ligados ao ramo da saúde e fitness idolatrarem a fruta, corroborados pelos resultados das pesquisas da área da nutrição que associam o abacate com dietas saudáveis, fatos que fizeram a fruta ser tachada como a 'fruta da moda'. 

Frutos de abacate Hass colhidos na safra de 2023. Município de Nova Trento/SC. Foto de Gabriel C. Castro, 23 de março de 2023

Em 2021, a cultura do abacate obteve produção de 8,69 milhões de toneladas, sendo sua cadeia econômica avaliada em 3,3 bilhões de dólares, entre frutos frescos e produtos processados (GVR, 2023). A demanda pela fruta se confirma pela produção que dobrou na última década - 4,07 milhões de toneladas em 2011 para 8,06 milhões de toneladas em 2020 (FAOSTAT, 2020) - e aos preços estáveis em faixas relativamente altas. Dessa forma, a cultura possui um vasto terreno a ser explorado pelos produtores a fim de atender demandas domésticas e externas ao Brasil.

Vista do pomar experimental de abacate Hass implantado em meia encosta. Foto de Gabriel C. Castro, 23 de março de 2023

O mercado brasileiro ainda dá preferência para o consumo de frutos grandes e pesados com menor conteúdo de óleo na polpa, típico dos perfis varietais tropicais e seu consumo se dá majoritariamente acompanhado de açúcar ou mesmo em vitaminas. Entretanto, existe uma forte tendência de que o consumo mundial seja padronizado em variedades de frutos menores, com casca mais espessa e de polpa que contenha maior teor de óleo, passando também a ser consumido junto a saladas e utilizado em receitas culinárias típicas, como no guacamole.

Mundialmente, a variedade de abacate mais consumida é a Hass, ou simplesmente avocado como os norte-americanos chamam-na. A fruta do Hass possui todos os atributos requisitados pelas novas demandas de consumo, acrescido da característica de troca da cor da epiderme quando o fruto está maduro, passando do verde escuro ao púrpura, o que facilita o seu consumo em condições ótimas de maturação. Em razão da variedade ser a mais plantada e conhecida no mundo, é a mais recomendada para o cultivo comercial se a intenção do produtor for acessar o mercado externo através da exportação dos frutos.

Devido à herança da linhagem mexicana, o Hass suporta bem o frio, sendo relatado a tolerância de temperaturas próximas a 0º C por algum período, desempenhando melhor nas faixas entre 16-25 ºC e, como as demais variedades de abacates, é sensível à geadas. De maneira geral, a cultura não sofre muito com períodos de déficit hídricos, porém se recomenda um regime médio de precipitação de aproximadamente 1500mm, desde que bem distribuídos durante o ano (ZARO et al. 2014).

Visando aproveitar o bom momento para o cultivo dessa cultura e oferecer ao fruticultor do Sul do país mais uma opção de atividade rentável, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina realizam desde 2020 o acompanhamento de um pomar com a variedade Hass implantado no município de Nova Trento - SC (27°15?34?S, 48°56?54?O, altitude de 78m, clima subtropical úmido - Cfa), no litoral catarinense, com o intuito de caracterizar a fenologia, pegamento (fruit set), produção e qualidade de frutos de abacate Hass frente às condições da região.

O pomar monovarietal com abacate Hass foi implantado em condições de meia encosta, com espaçamento adensado de 4x4 m entre linhas e entre plantas e conta com grande disponibilidade de abelhas melíferas nas proximidades. A cultura não necessita de grande quantidade de horas-homem para manejá-la, tendo as maiores parcelas do custo de produção relativo à roçada do terreno e controle de formigas cortadeiras (Atta sp. e Achromirmex sp.). O período crítico para bons rendimentos produtivos é a floração, momento em que a adubação, controle da antracnose e polinização devem ser garantidos.

A primeira colheita ocorreu após o segundo ano de implantação da cultura, antecipando o período de três a cinco anos de idade apontado pela literatura (GREENUPSIDE, 2023). O diâmetro médio dos frutos ficou em 6,9 ± 0,5 cm, enquanto o comprimento médio dos frutos ficou entre 9,1 ± 1,0 cm. Mesmo sob primeira colheita, algumas plantas foram capazes de atingir índices produtivos maiores que 10t/ha, e o peso dos frutos apresentaram média - 212,8 ± 42,8 g - semelhante àqueles esperados para a variedade (SCHAFFER, WOLSTENHOLME, & WHILEY, 2013). Além disso, a distribuição dos pesos de frutos bem como os padrões de classificação de abacates Hass em alguns dos principais países produtores encontra-se na tabela 2.

A média de produtividade [kg/ha] ficou entre 2,1 ton/ha, porém em um subgrupo de plantas de maior porte e consideradas de desenvolvimento mais avançado houve produtividade média de 6,9 ton/ha. A heterogeneidade da produção era esperada devido ao a juvenilidade do pomar de abacates Hass e a tendência é que a produção de frutos dos próximos ciclos cresça conforme aumente o tamanho das plantas e, por consequência, o número de gemas produtivas no pomar.

A disponibilidade hídrica de regiões subtropicais úmidas (Cfa), como o litoral sul brasileiro, pode resultar em vantagem competitiva frente às maiores áreas de produção do mundo da atualidade, como a Califórnia, a província de Michoacán-MEX, e o oeste da australiano, que vêm sofrendo sequencialmente com déficits hídricos, chegando algumas delas a utilizar água salobra para irrigação de seus pomares (KOURGIALAS & DOKOU, 2021; BERKESSA, 2020).

Apesar da continuação das análises e acompanhamento na referida área, os resultados até então obtidos são promissores. Os pesquisadores acreditam que o cultivo de abacate Hass em regiões de clima subtropical úmido de Santa Catarina possuem condições suficientes para suportar o cultivo comercial do abacate Hass de maneira satisfatória, com perspectivas desta atividade tornar-se mais uma opção de cultivo e fonte de diversificação de renda para o agricultor situado nesses locais em futuro próximo.

*Gabriel Cubas Castro, Carolina Muller Zimmermann, Ricardo Cipriani, , Aparecido Lima da Silva, Alberto Fontanella Brighenti

Referências: ALCARAZ, M. L.; THORP, T.G.; HORMAZA, J.I. Phenological growth stages of avocado (Persea americana) according to the BBCH scale. Scientia Horticulturae, v. 164, p. 434-439, 2013.
BERKESSA, A. J. Salinity and Avocado Production, A Review.International Journal of Forestry and Horticulture (IJFH), v. 6, p.32-38, 2020 FAOSTAT. Avocado data - Production and Value of Agricultural Production years 2018 and 2020. Disponível em: <https://www.fao.org/faostat/en/#data>. Acesso 18/11/2022. GREENUPSIDE. When does an avocado tree produces fruit? Disponível em:
<https://greenupside.com/when-does-an-avocado-tree-producefruit/#:~: text=An%20avocado%20tree%20will%20produce,tree%20to%20start%20producing%20fruit.>. Acesso em 15/4/23. GVR - Grand View Research. Global Avocado Market Size, Share & Trends Analysis Report By Form (Fresh, Processed) 2022-2030. Disponível em: https://www.grandviewresearch.com/industry-analysis/fresh-avocado-market-report. Acesso em 02/04/2023. KOURGIALAS, N. N.; DOKOU, Z. Water management and salinity adaptation approaches of Avocado trees: A review for hot-summer Mediterranean climate. Agricultural water management, v. 252, p. 106923, 2021. RAMÍREZ-GIL, Joaquín Guillermo; FRANCO, German; HENAO-ROJAS, Juan Camilo. Review of the concept of quality in Hass avocado and the pre-harvest and harvest factors that determine it under tropical conditions. Revista Colombiana de Ciencias Hortícolas, v. 13, n. 3, p. 359-370, 2019. SCHAFFER, Bruce; WOLSTENHOLME, B. Nigel; WHILEY, Antony William (Ed.). The avocado: botany, production and uses. CABI, 2013. ZARO et al. Zoneamento Agroclimático para a Cultura do Abacateiro no Estado do Paraná. Rev. Bras. Frutic. 36 (2), Jun 2014. Doi:10.1590/0100-2945-286/13