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Avaliação de protetor solar Sun Protect em macieiras Gala

Tem sido sugerido que os danos ocasionados pelo sol na epiderme são caracterizados como um estresse abiótico, tornando os frutos mais suscetíveis às infecções por patógenos


  1. Introdução - Em várias regiões do mundo, a escaldadura pelo sol, também conhecida como dano ou queimadura pelo sol causa sérias perdas econômicas em maçãs (WARNER, 1997; SCHRADER, 2011; WÜNSCHE et al., 2004). No lado exposto ao sol, temperaturas do ar acima de 27ºC aumentam em até 14ºC na da superfície da fruta.

As injúrias nas maçãs pelo sol são atribuídas ao aumento da temperatura da superfície (BROOKS e FISHER, 1926) e, mais recentemente, como efeito da radiação solar (RABINOWICH et al., 1986; FELICETTI e SCHRADER, 2008). No Brasil, a única ferramenta disponível para prevenção da escaldadura pelo sol em maçãs são as telas anti-granizo. As telas pretas reduzem a intensidade do distúrbio, mas reduzem o desenvolvimento de coloração vermelha na epiderme dos frutos (IGLESIAS e ALEGRE, 2006), porém nas brancas o defeito ainda pode ocorrer.

Tem sido sugerido que os danos ocasionados pelo sol na epiderme são caracterizados como um estresse abiótico, tornando os frutos mais suscetíveis às infecções por patógenos (SCHNOENEWEISS, 1975). Isto pode aumentar a predisposição das maçãs à infecção por Cryptosporiopsis perennans, agente causal da podridão olho de boi, doença importante da macieira no Brasil (VALDEBENITO-SANHUEZA, et al., 2010). Apesar de sintomas dessas podridões serem observados em pré-colheita, os maiores danos ocorrem na fase de armazenamento dos frutos (VALDEBENITO-SANHUEZA et al., 2010).

Entre os problemas de qualidade das maçãs no Brasil, têm destaque os danos causados pela escaldadura pelo sol, sendo que um dos produtos recomendados no país para diminuir a perda de maçãs por esse defeito é o produto comercial Deccoshield.

Desde 1999 produtores de maçãs nos USA tem usado Surround (marca registrada) WP nos pomares. O uso se dá durante o crescimento do fruto, antes das condições para dano de sol e reaplicações quando necessárias. O caulim calcinado deste produto reflete a radiação ultravioleta e infravermelha danosa que aumentaria a temperatura da superfície da fruta. Aplicações de Surround (marca registrada) proporcionam redução de até 5ºC na epiderme de maçãs. Além disso, o produto aumenta a deflexão de luz dentro do dossel, melhorando a coloração das frutas. Em um experimento realizado em Washington no ano de 2008, Surround (marca registrada) foi o mais efetivo entre os 3 produtos mais utilizados na redução do dano de sol em maçãs 'Granny Smith'. Enquanto a testemunha sem tratar apresentou 40,75% da produção afetada pelo dano de sol, macieiras tratadas com Surround (marca registrada) apresentaram somente 13,50%. A viabilidade econômica do uso deste produto foi o ganho adicional de $2000,00 por acre, com um custo total de $150 do uso de Surround (marca registrada) considerando 5 aplicações no ciclo. O valor por bin foi de $250.

No ciclo 2021/2022, macieiras 'Gala', mesmo sendo tratadas somente a partir de janeiro, apresentaram frutos com menor temperatura da epiderme, maior massa média na colheita, menor incidência e severidade de dano de sol, sendo a redução da incidência na colheita de 41,32%; em pós-colheita houve menor porcentagem de podridão olho-de-boi nos frutos tratados com Sun Protect (marca registrada) no pomar.

Na cultivar Fuji, o tratamento com Sun Protect (marca registrada) no pomar promoveu maior teor de clorofila/fotossíntese nas folhas das macieiras; reduziu a temperatura da epiderme dos frutos e aumentou a massa dos frutos; em pós-colheita diminuiu o total de podridões e a incidência de podridão carpelar.

  1. Objetivo - O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do protetor solar SUN PROTECT® em uma área de produção de macieiras 'Gala' pelo terceiro ano no Rio Grande do Sul sobre o dano de sol, coloração, infecções e qualidade em frutos.

 Material e Métodos - 3.1. Descrição do produto - Sun Protect (marca registrada)SC - 3.2 Descrição do Experimento - 3.2.1 Local - O experimento foi realizado em pomar de macieiras 'Galaxy' sobre porta-enxerto Marubakaido com filtro de EM9, conduzido em líder central, em Vacaria-RS, apresentando como coordenadas geográficas 28°36'06.4" de latitude sul e 50°46'33.9" de longitude oeste.

3.2.2 Tratamentos Os tratamentos comparados estão descritos na tabela 1.

As macieiras receberam pulverizações dos tratamentos a partir do primeiro período de risco de escaldadura pelo sol detectado a partir de dezembro de 2023. As pulverizações seguintes foram realizadas a cada 15 dias até a colheita. A ocorrência de condições de risco foi monitorada na estação meteorológica automática. Os períodos críticos ocorrem quando a temperatura do ar permanece acima de 29ºC por mais de 5 horas (YURI, 2009).

  • Análises na colheita - Na colheita comercial (02/02/2024) foram colhidas 120 maçãs de cada bloco, totalizando 960 frutos por tratamento. Nestes frutos foi determinado o dano de sol, massa média e podridões. O dano de sol foi avaliado conforme escala de Yuri adaptada para a cv Gala (2004, Figura 1; 2022, Figura 2).

Após as avaliações acima descritas, 20 frutos - sem sinais de danos - foram utilizados para análise de firmeza de polpa e teor de sólidos solúveis.

  • Análises após armazenamento refrigerado - Os frutos foram armazenados por 90 dias em frio comum, sendo que após esse período foram avaliados quanto a qualidade e podridões.

 Delineamento e estatística O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, 3 tratamentos com 8 repetições cada. Os dados foram submetidos a análise de variância e, quando significativa, ao teste de comparação de médias (P<0,05).

  1. Resultados e Discussão -  A qualidade das maçãs produzidas nessa primavera foi menor que a dos outros ciclos pelas chuvas frequentes e seu alto volume durante e após a floração. Além disso, as reservas e qualidade das gemas foram prejudicadas pelas condições dos estresses dos ciclos passados. Essa condição fez com que a produção efetiva fosse possível em flores de menor qualidade, resultando em má formação da cutícula e maior quantidade de fruta menor.

Durante o estádio de crescimento das maçãs se observaram vários períodos de risco para queima das maçãs (Figura 2).

As macieiras receberam a primeira pulverização em 14/12/2023, após o primeiro período de risco de escaldadura pelo sol detectado, que ocorreu em 01 de dezembro de 2023. As pulverizações seguintes foram realizadas a cada 15 dias ou 60 mm de precipitação até a colheita.

A clorofila/fotossíntese foi igual nos tratamentos na avaliação realizada em 25/01, sendo os valores próximos do máximo referenciado. A temperatura da epiderme na ocasião da avaliação da clorofila variou de 20 a 21°C e estava dentro dos limites ideais para não ter problemas celulares (Tabela 2).

A incidência de dano de sol foi baixa, sendo de 11.8 a 13.4% nos tratamentos avaliados, sendo que o dano de sol leve predominou nos tratamentos (Tabela 3). Durante o período pré-colheita (02/02/2024), ocorreram apenas 6 períodos de risco que se deve considerar para ocorrência de dano de sol (temperatura igual ou maior que 29ºC por mais ou igual a 5 horas). Sabe-se que quanto mais próximo da colheita, maior é a suscetibilidade ao dano de sol, sendo que em janeiro ocorreram apenas 3 períodos de risco de dano de sol (09, 10 e 14/01). Entre 27/12 a 07/01, o acumulado de chuva foi de 43,1 mm e entre 08 a 15/01, 46,4 mm. Nos 5 dias anteriores a 09/01, a precipitação acumulada foi de 22,6mm, e 10,5mm no intervalo entre 10 e 14/01. Assim, havia potencial hídrico para a maior exigência de água, evitando estresse oxidativo com maior potencial. Além disso, no ciclo 2023/2024 foi saliente o elevado período chuvoso nos meses de setembro, outubro e novembro (acumulado de aproximadamente 400mm mensal), e em janeiro, este último prévio a colheita, onde a fruta apresenta maior suscetibilidade.

O dano de sol moderado variou de 1,7 a 2,4% nos tratamentos, enquanto que o dano severo foi de 0.54 a 1.08%. Não houve diferença entre os tratamentos avaliados quanto a incidência do dano leve e moderado. O tratamento com Sun Protect na dose de 4L/hectare reduziu 50% da incidência de sol severo, sendo de 0.54% no tratamento e 1.08% na testemunha. Esse é um resultado importante, principalmente em anos mais secos e com maior incidência.

As maçãs Galaxy da área do experimento não foram afetadas pelos tratamentos na colheita até após 14 dias quanto a cor vermelha, firmeza, sólidos solúveis (ºBrix) e frutos com podridões (Tabelas 4 e 5).

Entretanto, nessa avaliação o Sun Protect (marca registrada) na dose de 4,0L/hectare apresentou um incremento de 8,1% na massa das maçãs, tendo como impacto o aumento da colheita de 4034,6 kg por hectare, considerando na área do produtor 50 toneladas por hectare. Esse resultado coincide com o efeito detectado no ciclo 2021/2022, no qual um dos fatores estimulados pelo produto foi a maior massa média das maçãs. Na ocasião, com a dose de 2L/hectare, porém em uma situação de estresse severa.

Períodos de temperatura alta causam também estresse nas plantas e o uso de Protetor Solar terá também a função de diminuir as alterações metabólicas causadas por esse excesso térmico. Sendo que esses períodos foram em dias consecutivos, é provável que tenha afetado a taxa de crescimento das maçãs visto que nessa condição, os estômatos se fecham e com isso a fotossíntese é detida.

A firmeza e o ºBrix também não foram afetados pelos tratamentos após a frigorificação por 90 dias com e sem período de prateleira. Não se constatou diferença de perda de peso durante a armazenagem (Tabela 6).

A incidência de podridões das maçãs foi baixa na colheita e após a armazenagem. Nessa condição, somente se observou efeito dos tratamentos após a frigorificação e 7 dias de prateleira (Tabela 6). O tratamento de 4L/ha de Sun Protect (marca registrada) reduziu 1,51% a incidência das podridões (75% do total observado). Essa redução numa área com potencial de 50 ton/ha corresponde a um ganho de 755kg de maçãs/ha. 

Tabela 2. Clorofila/índice SPAD em folhas e temperatura na epiderme de frutos de macieiras 'Galaxy'. Vacaria, RS.

Tabela 3. Incidência e severidade de dano de sol na colheita nos diferentes tratamentos em 'Galaxy'. Ciclo 2023/2024. Vacaria, RS.

Tabela 4. Qualidade e podridões de frutos de macieiras 'Galaxy' submetidas a diferentes tratamentos no pomar e avaliadas na colheita. Ciclo 2023/2024.

Tabela 5. Qualidade e podridões de frutos de macieiras 'Galaxy' submetidas a diferentes tratamentos no pomar e avaliadas 14 dias após a colheita. Ciclo 2023/2024.

Tabela 6. Qualidade e podridão de frutos de macieiras 'Galaxy' submetidas a diferentes tratamentos no pomar, armazenadas por 90 dias e avaliadas na saída da câmara fria e após 7 dias a 20ºC. Ciclo 2023/2024.

 Figura 5. Foto das macieiras 'Galaxy' na colheita de uma parcela da testemunha e do tratamento Sun Protect (marca registrada) 4L por hectare.

A pulverização dos tratamentos de Sun Protect (marca registrada) não causou sintomas e sinais de fitotoxicidade nas folhas e frutos de macieiras 'Galaxy'.

  1. Considerações e Conclusões -  5.1 Frutos de macieiras 'Galaxy' pulverizados no pomar com Sun Protect (marca registrada) 4L/hectare a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita, no ciclo 2023/2024, apresentaram menor porcentagem de dano de sol severo. 5.2 Os tratamentos com Sun Protect® a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita nas macieiras 'Galaxy' no ciclo 2023/2024 não tiveram efeito na firmeza, sólidos solúveis, cor vermelha, nem na perda de peso durante a frigorificação. 5.3 O tratamento com Sun Protect® na dose de 4L/hectare a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita, nas macieiras 'Galaxy' no ciclo 2023/2024 aumentou a massa dos frutos e reduziu as podridões nas frutas armazenadas. 5.4 O benefício do uso de Sun Protect (marca registrada) na dose de 4L/hectare a cada 15 dias, a partir de dezembro até a colheita, foi de 4789,6 Kg de maçãs/hectare se considerado uma produtividade de 50 toneladas/hectare de macieiras 'Galaxy' no ciclo 2023/2024. 5.5 A pulverização dos tratamentos de Sun Protect® não foi fitotóxico nem manchou as maçãs.
  2.  
  3. Literatura Consultada  -  BROOKS, C., FISHER, D.F. Some high-temperature effects in apples: Contrasts in the two sides of an apple. Journal Agricultural Research, Victoria, v.32, p.1-16, 1926. FELICETTI, D.A.; SCHRADER, L.E. Photoxidative sunburn of apples: Characterization of a third type of apple sunburn. International Journal Fruit Science, Louisiana, v.8, n.3, p.160-172, 2008. RABINOWITCH, H.D.; BEN-DAVID, B.; FRIEDMANN, M. Light is essential for sunscald induction in cucumber and pepper fruits, whereas heat conditioning provides protection. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v.29, p.21-29, 1986. RACSKO, J.; SCHRADER, L.E. Sunburn of Apple Fruit: Historical Background, Recent Advances and Future Perspectives. Critical Reviews in Plant Sciences, 31:455-504, 2012. DOI: 10.1080/07352689.2012.696453 SCHOENEWEISS, D.F. Predisposition, stress, and plant disease. Annual Review Phytopathology, Palo Alto, v.13, p.193-211, 1975. SCHRADER, L.E. Scientific basis of a unique formulation for reducing sunburn of fruits. HortScience, Alexandria, v.46, n.1, p.6-11, 2011. VALDEBENITO-SANHUEZA, RM; CANTILLANO, RFF; BARTNICKI, VA; SPOLTI, P. Protetor solar diminui a incidência das podridões 'olho-de-boi' e 'branca' em maçãs 'Fuji Standard' e 'Pink Lady'. Revista Brasileira de Fruticultura, v.38, n.1, 2016. https://doi.org/10.1590/0100-2945-263/14 - VALDEBENITO-SANHUEZA, R.M.; SPOLTI, P.; DEL PONTE, E.M. Controle do inóculo inicial para redução dos danos pela podridão olho-de-boi em macieiras. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.32, n.4, p.1044-1054, 2010. WARNER, G. Sunburn is a hot topic in orchards of Washington. Good Fruit Grower, Yakima, v.48, p.22-23, 1997. WÜNSCHE, J.N.; J. BOWEN; FERGUSON, I.; WOOLF, Y.A. Sunburn on apples-causes and control mechanisms. Acta Horticulturae, Leuven, v.636, p.631-636, 2004. YURI, J.A. El daño por sol em manzanas. Revista Fruticola, Santiago, v.22, n.3, p.89-96, 2004. YURI, J.A. El golpe de sol em manzanas. http://pomaceas.utalca.cl/html/Docs/pdf/2009_09_06.pdf. 2009. HTTPS://WWW.NOVASOURCE.COM/EN.

 

  1. Vacaria, 10 de setembro de 2024. *Dra. Rosa Maria Valdebenito Sanhueza/Engª Agrônoma Dra em Fitopatologia/Responsável Técnica do Laboratório/Centro de Pesquisas Proterra - CPPro/CREA Nº 121.663 SP - Dr. Vinicius Adão Bartnicki/Eng. Agrônomo Dr. em Produção Vegetal/Centro de Pesquisas Proterra/CPPro - Co-autor: Anderson Vieira/Técnico Agropecuária, cursando Agronomia na UERGS/Centro de Pesquisa Proterra. 

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