Recentemente todas as variedades comerciais de macieiras existentes haviam sido desenvolvidas em regiões cujo inverno é longo e intenso. Em condições naturais do Brasil estas variedades não expressam todo seu potencial de produção e qualidade, além da existência de problemas fitossanitários. Entretanto, graças a um intenso e exitoso esforço de pesquisa ocorridos no Brasil produziram-se tecnologias eficientes que permitiram a produção de maçãs de qualidade em nossas condições. Soma-se a isso o grande esforço dos pomicultores que em poucos anos tornaram o Brasil um dos grandes produtores de maçã no Mundo.

Entretanto o bom desempenho destas variedades ocorre somente nos locais mais frios. Isso limita as regiões produtoras, impede naturalmente colheitas precoces, ocasionado um período de pouca oferta entre o término e o início da nova safra. Este fato aliado a necessidade de se ter variedades mais adaptadas, menos exigentes em frio para quebra de dormência, mais produtivas, e de melhor qualidade em nossas condições estimularam o surgimento de programas de melhoramento genético no Brasil e em outros locais. CVF Mirage, selecionada pela Clone Viveiros e protegida no Ministério de Agricultura sob o número 20170150, foi selecionada com esta finalidade. Necessita de 350-400 unidades de frio e tem ampla adaptação no Sul e Sudeste do Brasil, semelhante a cultivar Eva. A menos que haja sistema de proteção para geadas, a principal limitação da variedade é a ocorrência de geadas severas no final do mês de julho e agosto. CVF Mirage produz bem com auxílio de quebra de dormência em regiões com invernos secos, mesmo sem ocorrência de temperaturas baixas, como no Nordeste do Brasil.

Frutas de CVF Mirage se caracterizam por serem visualmente muito atrativas, tem a casca de cor vermelho vivo e marcadamente estriada. A excelente coloração cobre quase a totalidade do fruto e é expresso mesmo em pomares protegidos sob tela.

CVF Mirage é originária de uma mutação da variedade IPR Eva da qual mantêm todas as características da variedade, exceto a coloração das frutas. Esta mutação foi identificada pela primeira vez em 2012 em alguns galhos de uma planta de IPR Eva em 2012 num pomar pertencente a Clone Viveiros no município de Araucária, Paraná. Dos 78 clones inicialmente identificados, após experimentos em 3 localidades avaliando produção, estabilidade em cor, capacidade de armazenamento e vida de prateleira, um clone foi nominado CVF Mirage.

CVF Mirage é incrivelmente produtiva, e entra em produção excecionalmente cedo, podendo ter produções significativas já na segunda brotação. As frutas são grandes com raleio adequado, marcadamente estriados e altamente coloridos com excelente valor de mercado. Dependendo do local a colheita pode ser iniciada em dezembro prolongando-se até início de janeiro.

A floração ocorre em julho e início de agosto, e é definida pela data de quebra de dormência. Plantas adultas, maduras com pouco crescimento do ano, brotam e frutificam naturalmente em regiões como a metropolitana de Curitiba. Entretanto o tratamento para quebra de dormência artificial é importante para uniformizar a floração e consequentemente tornar mais efetivo o raleio químico e uniformizar a colheita. Floresce e frutifica em esporões, brindilhas e ramos do ano, estes mesmo que vigorosos.

Embora CVF Mirage produza com pouca polinização, nestas condições os frutos são alongados e de menor diâmetro. Julieta e Princesa, e CVF Kiss podem ser utilizados como polinizadoras. Floração de Julieta coincide melhor com CVF Mirage; Princesa floresce poucos dias após o início da floração de CVF Mirage. Frutos de Julieta devem ser manuseados cuidadosamente. Princesa mostra maiores problemas fitossanitários, mas os frutos têm bom sabor e vida pós-colheita. CVF Kiss é mais tardia que CVF Mirage e as demais polinizadoras. A melhor polinização de CVF Mirage é conseguida com inter plantio de 2 polinizadoras.

Pegamento das frutas é excecionalmente elevado. Poda criteriosa é necessária para eliminar parte destes frutos. Ela responde a raleantes químicos desde que feito precocemente. O protocolo de raleio químico se assemelha ao efetuado em Fuji Suprema, mas responde bem ao tratamento com ANA próximo da plena florada. Requer normalmente 3 ou mais colheitas para se obter maturação uniforme e frutos de boa qualidade. Os frutos são firmes e resistentes ao transporte no período de entressafra, cuja produção se destina. Entretanto pode ser armazenado por curto período.

CVF Mirage requer um programa de tratamentos fitossanitário planejado e eficiente para a manutenção da sanidade da planta e dos frutos, embora menos intenso que outras variedades como Gala ou Fuji. Tem menos problemas com ácaro, mosca da fruta, oídio, podridão carpelar e sarna do que Princesa. Marsonina e glomerela podem ser problemas quando ocorrem falhas nos tratamentos. A desfolha completa das plantas no outono/inverno, que é problemática em áreas sem a presença de geadas rigorosas, é fator importante para se conseguir boa sanidade nos pomares. Seca prolongada, excesso de chuvas, ou presença de outras condições que alternadamente paralisem e acelerem crescimento dos frutos, a colheita tardia, podem ocasionar rachaduras das frutas de forma circular perto do pedúnculo.

Além de CVF Mirage, as cultivares CVF Eva Rubi, CVF Kiss, Glamour, Karisma, CVF Fuji Rubi, CVF Gala Rubi, e Gala Real 2 são outras cultivares de macieira criadas e desenvolvidas pela empresa. Nosso programa de melhoramento genético em macieira está hoje na 4ª e 5ª geração de retrocruzamento com diversas seleções promissoras sendo avaliadas. Iniciado nos anos 70, nosso programa inclui também outras espécies de frutas de clima temperado.

*Roberto Hauagge/Engenheiro Agrônomo, PhD - Clone Viveiros e Fruticultura Ltda - Tel: (41) 3253 2940 - [email protected]