Notícias do Pomar

Escaldadura pelo Sol em Frutos de Macieiras

O uso de tela reduz a radiação solar incidente e, portanto, o excesso de energia solar sobre a fruta


Em várias regiões do mundo, a escaldadura pelo sol, também conhecida como dano ou queimadura pelo sol, causa sérias perdas econômicas. O dano ocorre devido ao aumento da temperatura da superfície dos frutos e pela radiação ultravioleta. Temperaturas do ar acima de 27ºC podem resultar acima de 41ºC na superfície da fruta. É importante lembrar que esses danos pela temperatura elevada não somente afetam a fruta, mas também os ramos e em especial as plantas de viveiros e pomares novos.

Atualmente, os pomares para produção de maçãs na região Sul são estabelecidos com alta densidade de plantio, com mais de 2.000 plantas por hectare, com o uso de porta-enxertos anões ou semi-anões. Isto reduz a relação folha/fruto e, consequentemente, aumenta a exposição das maçãs ao sol, o que, sob condições propícias, facilita a incidência de escaldadura pelo sol (Figura 1; WÜNSCHE et al., 2004).

O dano pelo sol varia desde uma pequena alteração na coloração da epiderme do fruto até a necrose dos tecidos (Figuras 2 e 3). Por exemplo, no ciclo 2021-2022, ocorreram 16 dias com risco para dano de sol grave (29ºC por no mínimo 5 horas), concentrados entre 12 de dezembro de 2021 e 16 de fevereiro de 2022 (Figura 4). Enquanto isso, no ciclo 2022/2023, durante todo o ciclo, considerando até final de março, foram 17 dias com risco grave para dano de sol, sendo no mês de março 3 destes dias (Figura 5). O dano de sol foi mais severo no ciclo de 2021/2022 devido a associação da temperatura com radiação solar elevada, baixa umidade do ar e pouca disponibilidade de água no solo.

Nos trabalhos realizados nos últimos 10 anos em Vacaria-RS, a Proterra constatou que os produtores não atribuem importância ao dano silencioso do estresse ambiental (umidade relativa baixa e temperatura >10ºC), o qual se expressa na produção abaixo do esperado, aumento de refugo/indústria e menor porcentagem de frutos nas melhores categorias. Nos levantamentos das perdas pelo dano de sol verificou-se que a soma do que se perde no pomar, armazenagem e vida de prateleira dos frutos podem atingir 32% da produção.

Entre os sistemas de controle para o dano de sol se encontram a utilização de protetores solares e a instalação de telas nos pomares. O uso de tela reduz a radiação solar incidente e, portanto, o excesso de energia solar sobre a fruta. Isso se traduz na redução do dano, pois nesse ambiente haverá um pouco mais de umidade relativa e menor temperatura. No entanto, um excesso de sombreamento prejudicará o desenvolvimento da cor vermelha do fruto e poderá comprometer a indução floral para o ciclo seguinte.

No ciclo 2022/2023, na cv Fuji Mishima sobre porta-enxerto Marubakaido com filtro de EM9, plantio 2010, sob tela anti-granizo preta, verificou-se que na colheita comercial a presença do dano de sol foi de 43,18%, enquanto que na mesma quadra, sem tela, o dano de sol atingiu 57,42%. A avaliação deu-se através da escala de dano de sol desenvolvida por Yuri et al. (2004) e adaptada para a cultivar (Figura 2). Assim, as telas anti-granizo contribuem para reduzir os danos pelo sol, mas não os suprimem.

A aplicação de produtos à base de partículas refletoras forma um filme na superfície da planta que bloqueia a energia solar incidente em folhas e frutos. Nas condições de Vacaria-RS tem se constatado que aplicações a partir do primeiro risco de queima (5 h com temperatura de 29°C ou mais) têm reduzido o dano na fruta. O protetor solar Deccoshield na dose de 1,5% mostrou esses benefícios. Além disso, os filmes protetores reduzem a temperatura dos frutos e das folhas, permitem trocas gasosas, aumentando a fotossíntese. Consequentemente, a qualidade dos frutos, como a coloração e o conteúdo de sólidos solúveis, será menos afetada.

A redução da temperatura das folhas também proporciona menor estresse térmico e, portanto, permite que a planta acumule mais energia e reservas para a safra em curso e a seguinte. Outro efeito observado com o uso dos protetores solares é a redução das podridões de verão nas áreas tratadas (Sanhueza et al., 2016).

Por esses benefícios, recomenda-se incluir no programa anual de manejo das macieiras o uso de protetores solares, tanto em pomares recém implantados, como nos que estejam em produção.

*Rosa Maria Valdebenito Sanhueza - [email protected]/Vinícius Bartnicki - [email protected]/Centro de Pesquisa Proterra

Considerações finais:  Sob condições climáticas críticas para produção deve ser realizado manejo adequado das macieiras para não aumentar a exposição da fruta ao sol; Quando ocorre maior exposição dos frutos ao sol, como em sistemas de condução em alta densidade ou após a realização da poda verde, deverá ocorrer uso de protetor solar nos frutos; Com o objetivo de manter a capacidade produtiva do pomar e a qualidade da fruta, deve-se definir inicialmente áreas para uso de protetores solares.

Referências consultadas: RACSKO, J.; SCHRADER, L.E. Sunburn of Apple Fruit: Historical Background, Recent Advances and Future Perspectives. Critical Reviews in Plant Sciences, 31:455-504, 2012. DOI: 10.1080/07352689.2012.696453 SEPULVEDA, A., ARENAS, L. YURI, J.A. Clima y Calidad de Manzanas- GUÍA PARA ENFRENTAR LA INCERTIDUMBRE CLIMÁTICA, 2019. http://bibliotecadigital.fia.cl/bitstream/handle/20.500.11944/146928/Clima_y_calidad%20de%20manzanas_PYT-2015-0213.pdf?sequence=1&isAllowed=y. SEPULVEDA, A. INFORMATIVO CLIMÁTICO (utalca.cl). Mallas_y_Reflectantes_en_Frutales_Bol_Tec_Marzo_2018-.pdf (utalca.cl). VALDEBENITO-SANHUEZA, R.M.; CANTILLANO, R. F. F.; BARTNICKI, V.A.; SPOLTI, P. Protetor solar diminui a incidência das podridões 'olho-de-boi' e 'branca' em maçãs 'Fuji Standard' e 'Pink Lady'. Revista Brasileira de Fruticultura, v.38, n.1, 2016. https://doi.org/10.1590/0100-2945-263/14 WÜNSCHE, J.N.; J. BOWEN; FERGUSON, I.; WOOLF, Y.A. Sunburn on apples-causes and control mechanisms. Acta Horticulturae, Leuven, v.636, p.631-636, 2004. YURI, J.A. El golpe de sol em manzanas. http://pomaceas.utalca.cl/html/Docs/pdf/2009_09_06.pdf. 2009. YURI, J.A. El daño por sol em manzanas. Revista Fruticola, Santiago, v.22, n.3, p.89-96, 2004.

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