Especial Semana do Meio Ambiente: melhoramento genético da Epagri desenvolve macieiras que usam menos fungicida
Tanto a Gala Gui, como a Galidia e a Lorenzo são resistentes à mancha foliar de glomerella (MFG), a mais agressiva doença de verão que ocorre na cultura da macieira em Santa Catarina
A maçã é uma preferência popular. A macieira é a mais importante frutífera de clima temperado do mundo, respondendo por 12,45% da produção global de frutas. Citada até na bíblia, essa fruta se destaca por suas qualidades nutracêuticas
Maçã Lorenzo é um cultivar de colheita precoce e com menor exigência em frio (Fotos: Divulgação/Epagri)
"Coma uma maçã por dia e mantenha o médico distante". Essa antiga máxima da sabedoria popular, repetida há gerações, tem base científica. Estudos mostram que o consumo de maçã está associado a efeito benéfico no combate ao Alzheimer, no aumento da produção de enzimas antioxidantes, na redução do risco ao câncer, na saúde óssea, nas doenças coronárias, no diabetes, na proteção gastrointestinal à ingestão de remédios e em algumas desordens do pulmão.
Santa Catarina é o maior produtor de maçãs do Brasil. A expectativa da Epagri/Cepa é de que o Estado encerre a safra 2022/23 com uma colheita de 556.977 toneladas. Parte desse resultado se deve ao trabalho da Epagri, que é a única empresa pública do país a fazer melhoramento genético da macieira.
Melhoramento genético é um trabalho que demanda anos de estudo, onde os pesquisadores buscam aprimorar uma planta, até chegar a um cultivar que tenha aspectos pré-definidos, como adequação à condições climáticas específicas, resistência a alguma doença, ou que produza frutos com características desejadas, por exemplo. A Epagri já desenvolveu 30 cultivares de maçã, alguns deles plantados até no exterior.
Maçã Galídia faz parte do grupo Gala, o mais plantado no Brasil
Nesta matéria especial da Semana do Meio Ambiente, a Epagri apresenta os cultivares de maçã SCS441 Gala Gui, SCS448 Galidia e SCS449 Lorenzo, desenvolvidos por meio de melhoramento genético pelo pesquisador Ivan Faoro, da Estação Experimental da Epagri em Caçador, e lançados recentemente. As duas primeiras maçãs são do grupo Gala, o mais plantado em Santa Catarina. A Lorenzo é um cultivar de colheita precoce e com menor exigência em frio.
Tanto a Gala Gui, como a Galidia e a Lorenzo são resistentes à mancha foliar de glomerella (MFG), a mais agressiva doença de verão que ocorre na cultura da macieira em Santa Catarina. A MFG pode causar desfolhamento severo de plantas se não forem tratadas adequadamente com fungicidas, afetando a produtividade da planta.
Os três novos cultivares apresentam resistência (tipo imunidade) à MFG. "O termo imunidade significa que elas não expressam nenhum sintoma da doença nas folhas", explica Ivan.
Redução de 55% nos fungicidas - Segundo o pesquisador, caso todos os pomares de maçã do grupo Gala no Brasil fossem substituídos por plantas reistentes à MGF, poderia haver uma redução de 1,1 mil toneladas no uso de fungicidas (55,1%). A economia para os produtores seria de R$150,4 milhões por ano, o que representa 68% a menos na comparação com gastos atuais com esses produtos.
Os cultivares Gala Gui e Galidia são mutações originárias de outras mutações de Gala. Já o cultivar Lorenzo é uma mutação do cultivar Condessa, também lançado pela Epagri. Essas mutações espontâneas foram observadas primeiro por produtores rurais em suas propriedades, que explanaram as vantagens delas aos profissionais da Epagri.
Com base nestes relatos, teve início o trabalho de melhoramento genético na Estação Experimental da Epagri em Caçador. Foi preciso avaliar a estabilidade das mutações e comprovar a resistência genética em condições controladas, ou seja, em laboratório.
Gala Gui é um dos cultivares que apresentou resistência tipo imunidade à MFG
"No laboratório, temperatura e umidade foram mantidas constantes, para estimular o crescimento do fungo, sendo aplicado uma enorme quantidade do fungo que ocasiona a MFG. Este processo se chama inoculação. Foram realizadas pelo menos três a cinco inoculações durante o melhoramento genético, que demorou de cinco a sete anos", descreve Ivan. Em todas as inoculações no laboratório, os ramos e folhas dos cultivares nunca mostraram qualquer sintoma da doença.
Os cultivares também foram plantados a campo, para observar o surgimento de algum sintoma da doença, mas eles nunca apareceram. "Essas duas situações comprovaram que os cultivares tinham resistência genética tipo imunidade à MFG", conclui o pesquisador.
Observar a natureza e aprender com ela é um caminho para o desenvolvimento sustentável do planeta. Graças à parceria entre produtores rurais e a equipe da Epagri, foi possível desenvolver cultivares que demandam bem menos fungicidas, para entregar aos consumidores um alimento saudável e cada vez mais limpo.
Informações e entrevista: Ivan Faoro, pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Caçador - (49) 35616835 - [email protected]
Clique aqui para ouvir conteúdo da rádio da Epagri sobre esse tema.
*Gisele Dias, assessoria de comunicação Epagri - (48) 3665-5147/99989-2992