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Ferrugem em pomares de mirtilo do cultivar Climax em Santa Catarina

A identificação precoce da ferrugem é fundamental para o sucesso do manejo, pois esta é uma doença foliar de difícil controle devido à grande produção de esporos


Em Santa Catarina, no ano de 2020, foram observados vários mirtileiros do cultivar Climax com sintomas típicos da ferrugem em três pomares, sendo dois comerciais, um conduzido no sistema orgânico (São Joaquim, 28°14'33.62''S, 50°09'07.59''O, Altitude 1.142m), outro no convencional (Bom Retiro, 27°47'13.31''S, 49°29'19.28'', Altitude 904m) e um experimental (São Joaquim, 28º17'39 "S, 49º55'56" W, 1.415m altitude) (Figura 1).

Assim, o laboratório de fitopatologia da Epagri em parceria com o laboratório Agronômica realizaram vários estudos e análises para confirmar a presença de Thekopsora minima nos pomares catarinenses de mirtileiro. Observações morfológicas e moleculares, bem como teste de patogenicidade foram consistentes em mostrar que T. minima é o agente causal da ferrugem nos pomares de mirtilo (Figuras 1 e 2).

Diante da confirmação de T. minima no mirtileiro, fruticultores terão um grande desafio para manejar a ferrugem nos pomares catarinenses devido às condições ambientais adequadas à doença e a predominância de cultivares suscetíveis ao patógeno. A identificação precoce da ferrugem é fundamental para o sucesso do manejo, pois esta é uma doença foliar de difícil controle devido à grande produção de esporos pelo fungo em curto espaço de tempo.

Figura 1. Sintomas de ferrugem causado por Thekopsora minima na superfície abaxial (A, C, F) e adaxial (B, F) de folhas do mirtileiro cultivar Climax. Setas vermelhas (A, C) indicam pústulas com urediniósporos. Em estágios mais avançados da doença é possível observar o amarelecimento das folhas (asteriscos) com consequente desfolha (D, E, F) em fevereiro

Nos países que convivem com a ferrugem são utilizadas diferentes estratégias de controle fomentadas na produção integrada de fruteiras de clima temperado com o objetivo de maximizar e racionalizar o uso dos fungicidas. Geralmente T. minima sobrevive exclusivamente em mirtilos de ciclo a ciclo, pois em vários países produtores da fruta não há relatos de hospedeiros alternativos do fungo. Assim, uma forma de quebrar o ciclo do patógeno é durante o inverno, quando plantas caducifólias, a exemplo do mirtileiro, perdem as folhas. Portanto, em pomares de mirtilo que as plantas ainda mantêm folhas entre final de abril e início de maio, recomenda-se utilizar produtos para acelerar a queda de folhas a exemplo dos cúpricos. Além disso, sabe-se que temperaturas entre 17 e 22°C e a alta umidade favorecem a infecção de T. minima e formação de pústulas em folhas de mirtilo. Desta maneira deve-se evitar água livre sobre folhas por meio de poda abrindo o dossel para secagem rápida dos tecidos no interior dos arbustos do mirtileiro. Uma boa manutenção do controle das plantas invasoras na fileira de plantio, espaçamento adequado entre plantas (alta densidade pode favorecer a ferrugem) e verificação da necessidade ou não do uso de quebra-ventos também contribuem para reduzir o microclima no interior das plantas.

Figura 2. Sintomas (A) e sinais (B) de ferrugem causado por Thekopsora minima na superfície abaxial (B) e adaxial (B) de folhas do mirtileiro cultivar Climax em alta magnificação. Setas vermelhas (B, F) indicam pústulas com urediniósporos.  Urediniósporos equinulados em alta ampliação (C, D). Sintomas (seta preta) e sinais aos 6 (E) e 11 (F) dias após a inoculação nos ensaios para comprovação dos postulados de Koch. Barras: 5 (B) e 20 (A) mm; 20?m (C, D)

A rotação dos grupos químicos dos fungicidas utilizados, momento da aplicação (preferencialmente antes de períodos chuvosos) e boa cobertura na folhagem são fundamentais para prevenir a infecção de T. minima em pomares com cultivares suscetíveis e condições ambientais favoráveis à ferrugem. Geralmente folhas novas são mais suscetíveis à infecção por T. mínima, assim a ferrugem ocorre mais cedo do que as outras doenças foliares e pode exigir aplicações de fungicidas já no início do verão. Em pomares convencionais com alta incidência de ferrugem são realizadas pulverizações com fungicidas a cada 10-14 dias com os seguintes grupos químicos: clorotalonil, ditianona, mancozeb, (multissítios) e azoxistrobina, azoxistrobina+ciproconazol, boscalida+piraclostrobina, fenbuconazol, propiconazol e tebuconazol (sítio-específicos). Já em pomares orgânicos os principais grupos químicos utilizados são os cúpricos, calda bordalesa e Bacillus spp.

Assim, em caso de dúvida sobre a diagnose da doença procure os laboratórios de fitopatologia da Epagri (49) 3233-8438 ou Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário e Consultoria (51) 2131-6262. Maiores informações sobre o tema, consulte o trabalho original em https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/view/1168

*Leonardo Araujo, e-mail: [email protected]

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