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Identificação e controle da traça-da-videira-sul-americana

Nesta publicação são apresentados aspectos biológicos da praga, caracteri- zando seu ciclo de desenvolvimento na cultura da videira (Vitis spp.) e os da- nos causados


Hoje a curadoria Agro insight, traz como tema a Lasiothyris luminosa, traça-da-videira-sul-americana. O material foi escrito pelo pesquisador da Embrapa, Tiago Cardoso da Costa-Lima.

Em junho de 2015, produtores de uva de mesa de Lagoa Grande, PE relataram danos em flores e bagas causados por uma pequena lagarta. Esta foi identificada como Lasiothyris luminosa (Razowski & Becker) (Lepidoptera: Tortricidae), espécie até então não conhecida como um inseto-praga (Costa- Lima et al., 2016). O único registro existente da espécie, havia sido feito em 1969, no município de Brusque, SC (Razowski; Becker, 1983). Portanto, até o momento, trata-se de uma praga descrita apenas no Brasil.

Considerando-se os danos causados por L. luminosa, em 2017, a espécie foi incluída na lista de alerta da Organização Europeia e Mediterrânea para Proteção de Plantas (EPPO, 2017). Em 2019, Argentina, Uruguai e Paraguai incluíram restrições fitossanitárias direcionadas a L. luminosa para importa- ção de uvas do Brasil (Mercosul, 2019).

Nesta publicação são apresentados aspectos biológicos da praga, caracterizando seu ciclo de desenvolvimento na cultura da videira (Vitis spp.) e os danos causados. Assim como, métodos de controle, com ênfase para o controle biológico com o parasitoide de ovos, Trichogramma pretiosum Riley. 

Nome vulgar - Adotaremos "traça-da-videira-sul-americana" como sugestão de nome vulgar da espécie. 

                                                                                                                   Foto: Tiago Cardoso da Costa Lima

Métodos de Controle/Cultural -  O raleio na prefloração é uma prática já adotada por alguns produtores, re- tirando flores com os dedos ("pinicado") (Figura 15A). Desta forma, o futuro cacho se tornará menos compactado e com bagas mais desenvolvidas. Essa prática permite também que a inflorescência se torne mais aberta e, conse- quentemente, a lagarta mais exposta ao controle químico ou biológico. Nessa fase de prefloração há apenas lagartas recém-eclodidas de L. luminosa. A prática de retirar os botões florais com os dedos provoca mortalidade das lagartas. Outro ponto positivo é que ao efetuar o raleio na prefloração reduz a necessidade da prática do raleio de bagas. Nesta fase, as bagas que ficam no solo podem ter lagartas próximas de pupar, e, consequentemente, poderá aumentar a população da praga na área. Desta forma, reduzir a necessidade de raleio de bagas favorece o controle da traça-da-videira-sul-americana.

Outra prática já conhecida dos produtores de uva de mesa é a limpeza de cachos na fase de maturação (Figura 15B). Com esta prática, são removidas bagas com qualquer defeito, inclusive decorrente do ataque de pragas. No Submédio do Vale do São Francisco, a limpeza dos cachos é amplamen- te adotada para o controle de moscas-das-frutas. Para isso, as bagas são acondicionadas em bandejas para, posteriormente, serem enterradas à uma profundidade mínima de 20 cm, com solo bem compactado (Paranhos et al., 2013). O mesmo método deve ser implementado para também reduzir a ocor- rência de L. luminosa, por meio da quebra do ciclo da praga.

Químico - Atualmente, o inseticida espinetoram é o único princípio ativo registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de L. luminosa. De qualquer forma, mesmo com o registro de novos produtos, salien- ta-se a importância do momento correto de se iniciar as pulverizações. A primeira infestação da traça-da-videira-sul-americana, ainda no botão floral, é o momento que a praga se encontra mais suscetível ao controle químico. Nesta fase, as lagartas ainda não iniciaram a formação de aglomerados de estruturas florais, que a tornam mais protegidas e difíceis de serem atingidas por pulverizações. Na fase de baga, o controle é muito comprometido, considerando-se que a traça dificilmente fica exposta, logo, o produto químico não consegue atingir a lagarta.
Biológico - O parasitoide de ovos de mariposas, T. pretiosum, é um inimigo natural disponível comercialmente e já utilizado em diversas culturas no Brasil (Parra; Coelho Júnior, 2019). Este inimigo natural parasita o ovo da mariposa e após alguns dias este se torna escurecido. Desta maneira, não ocorre a eclosão da lagarta, ao invés disso, emerge um novo parasitoide. Em estudo em laboratório, confirmou-se a capacidade de T. pretiosum de parasitar ovos de L. lumino- sa. Após 5 dias ocorre o escurecimento dos ovos e com 10 dias emerge um novo parasitoide (25°C) (Figura 16)Em campo, realizou a liberação de 200 mil parasitoides/ha, obtendo-se média de controle de aproximadamente 70%. Verificou-se também que T. pretiosum parasita ovos da traça-dos-cachos.

Recomendações para uso de Trichogramma pretiosum em videira:

  • Primeira liberação: na fase de botão
  • Dose de liberação: 200 mil parasitoides/ha (outras doses de liberação podem ser avaliadas).
  • Intervalo de liberação: 7 dias ou subdividir duas liberações por semana de 100 mil parasitoides/ha.
  • Número de liberações: ficará a critério do monitoramento da ocorrência de L. luminosa na área.
  • Distribuição das cartelas espaçadas a cada 15 m, fixando sob o arame condutor da
  • Realizar a liberação apenas no final da tarde, após as
  • Observar a compatibilidade de pretiosum com os inseticidas utilizados em videira, informação fornecida pelas empresas de controle biológico.
  •                                                                                                     Fotos: Tiago Cardoso da Costa-Lima
  • Considerações finais - A traça-da-videira-sul-americana é uma praga de difícil controle que exige a adoção de diferentes estratégias para reduzir os danos. No caso, o que se conhece como o manejo integrado de pragas (MIP). Para isso, torna-se ne- cessário um monitoramento criterioso, desde a fase de botão floral, até a im- plementação de diferentes métodos de controle cultural, químico e biológico.
  • Bibliografia e links relacionados:  TIAGO CARDOSO DA COSTA LIMA, CPATSA. Reconhecimento e controle da traça-da-videira-sulamericana, Lasiothyris luminosa. Petrolina, PE: Embrapa Semiárido, 2020. 14p. BOTTON, M.; OLIVEIRA, J. E. de M.; RINGENBERG, R.; CARVALHO, A. N. M. de; FERNANDES, H. de  A. Biologia, monitoramento e controle da traça-dos-cachos da videira. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2013. (Embrapa Uva e Vinho. Circular Técnica 99). COSTA-LIMA, T. C.; MOREIRA, G. R. P.; GONÇALVES, G. L.; SPECHT, A. Lasiothyris luminosa (Razowski & Becker) (Lepidoptera: Tortricidae): a new grapevine pest in Northeastern Brazil. Neotropical Entomology, v. 45, p. 336-339, 2016. EPPO. European and Mediterranean Plant Protection Organization. New data on quarantine pests and pests of the EPPO Alert List. Paris, 2017. Disponível em: https://gd.eppo.int/taxon/ LASTLU. Acesso em: 11 ago. 2020. MERCOSUL. Sub-standard 3. 7. 19 Requisitos ?tossanitários para Vitis vinifera (videira) segundo país de destino e origem, para os estados partes. Buenos Aires, 2019. Disponível em: https://normas.mercosur.int/simfiles/normativas/73328_RES_022-2019_PT_Sub%20 Estandar%20videira.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. PARRA, J. R. P.; COELHO JUNIOR, A. Applied biological control in Brazil: from laboratory assays to field application. Journal of Insect Science, v. 19, p. 1-6, 2019. PARANHOS, B. A. J.; COSTA-LIMA, T. C.; GAMA, F. de C. Controle de moscas-das-frutas no Vale do São Francisco. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2013. (Embrapa Semiárido. Instruções Técnicas, 111). Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/97895/1/ INT111.pdf. Acesso em: 4 maio 2020. RAZOWSKI, J.; BECKER, V. O. Brazilian Cochylidii (Lepidoptera, Tortricidae). Acta Zoologica Cracoviensia, v. 26, p. 421-464, 1983.

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