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Pomicultura do Futuro: Estamos Preparados para os Pomares 4.0 ?

Outra questão com a qual temos que nos preocupar são os maquinários que necessitamos para realizar os procedimentos nos pomares novos


O meu pensamento nestes últimos anos, como consultor e pomicultor, tem atravessado frequentes tempestades, redemoinhos de ideias, mudanças de ventos... até alguns granizos tenho enfrentado. As mudanças estão ocorrendo muito rapidamente. O que fazíamos 5 anos atrás nos pomares, já não fazemos da mesma maneira. As formas como implantávamos os pomares já estão sendo revistas, os espaçamentos entre filas estão diminuindo, e vão diminuir ainda mais. Porta-enxertos novos, variedades resistentes estão sendo testadas, sistemas de condução modernos estão pipocando pelas diferentes regiões produtoras... muita coisa para minha cabeça, será?

Nestes últimos dias que antecederam a elaboração desta matéria, tive a oportunidade e a honra de acompanhar um grande amigo da família, Mauricio Frías Giaconi, grande amigo de meu pai, e hoje posso dizer, um grande amigo meu. Mauricio é chileno, consultor privado, que trabalha com maçãs, kiwi e cereja. Tem, hoje, cerca de 3 mil ha sob sua consultoria no Chile e também presta consultoria em outros países. Nesta oportunidade de vinda para o Brasil, para prestar consultoria para empresas do setor da maçã, pudemos abordar intensamente os problemas que estamos enfrentando com os pomares do futuro. Pudemos, também, mostrar muitas coisas boas que temos na região.

Quando pergunto se estamos preparados para os pomares 4.0, não questiono a nossa capacidade como técnicos e nem como produtores, pois estamos caminhando, diga-se de passagem, a passos largos para o futuro, mas digo como um todo.

Slide retirado da palestra de Mauricio Frías demonstrando que necessitamos primeiramente formar a estrutura de produção e depois pensarmos na produtividade

No Brasil hoje, temos basicamente quatro sistemas novos de condução em teste: V-Trelis, Prateleira e Multi-Líder, que podemos dividir em Guyot e Multi-Axis. Esses sistemas são basicamente o que outros países também já testaram, implementaram e utilizam em escalas comerciais. Esses sistemas planos de condução, dentro de suas variações horizontais e verticais, possuem suas particularidades, e é neste ponto que me ocorre o questionamento que coloco no título deste artigo.

Como citei anteriormente, nesta semana em que estivemos acompanhando o nosso professor Mauricio, vimos quão longo ainda é o caminho que temos de percorrer para atingirmos o ápice da fruticultura moderna. Estamos, sim, caminhando a passos largos, entendendo quais seriam os porta-enxertos mais aptos para cada sistema, tentando achar o pacote tecnológico de cada propriedade, de cada técnico que está engajado com os pomares 4.0. Mas o que está ainda nos faltando é o "Timing", o momento da intervenção de cada trabalho, a qualidade necessária para que seja evitado o retrabalho. A intervenção no momento junto de adubação ou de arqueamento, ou a irrigação quando necessário for, são imprescindíveis para atingirmos a altura adequada de cada sistema e de cada pomar. 

Slide retirado da palestra de Mauricio Frias demonstrando a precisão na ramificação de galhos em sistemas horizontais de produção

Durante as conversas com este consultor, algumas acaloradas, diga-se de passagem, fomos alertados para trabalhos que estávamos fazendo de maneira errada. De outro lado, em alguns momentos, nos fez ter a certeza de que estávamos no caminho certo. As trocas de experiências com pessoas de outros países e até mesmo com os nossos produtores e técnicos sempre agregam conhecimento, encurtam caminhos, minimizam e até evitam erros e assim podemos atingir mais rapidamente a excelência produtiva.

Outra questão com a qual temos que nos preocupar são os maquinários que necessitamos para realizar os procedimentos nos pomares novos. As intervenções de forma cirúrgica são facilitadas quando utilizamos equipamentos específicos para cada tarefa. São de grande valia o uso de plataformas para a realização de trabalhos na parte alta da planta, como a aplicação de hormônios para ramificação lateral, tutoramento de ramos em sistemas horizontais, amarrio de eixos e até mesmo raleio e colheita de fruta.

Deste encontro internacional ficou o alerta da pontualidade das intervenções, da regularidade dos trabalhos e a qualidade dos serviços para evitar o retrabalho. Mas respondendo a pergunta: sim, acho que estamos preparados para os pomares 4.0. Temos pontos para melhorar, algo para ajustar e muita coisa que devemos continuar fazendo para que em anos próximos tenhamos pomares de excelência produtiva e quem sabe, exportarmos tecnologia para o mundo da Pomicultura. *Gianfranco Perazzolo - Vice-presidente para Assuntos Técnicos/Agapomi

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