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Porta-enxertos da série Geneva: novas perspectivas para a Região de São Joaquim

Há muitos anos, a Epagri tem estudado a adaptação de porta-enxertos desenvolvidos em todo mundo nas principais regiões produtoras de Santa Catarina


Na cultura da macieira, os porta-enxertos são utilizados para aprimorar a qualidade dos frutos e melhorar a produtividade, atendendo às mais variadas necessidades dos produtores. Atualmente, os porta-enxertos mais utilizados nos pomares brasileiros são: Marubakaido, M-9 e Marubakaido com interenxerto de M-9. Devido a algumas das limitações que esses porta-enxertos apresentam, bem como da necessidade de diversificar as opções disponibilizadas ao produtor, novas alternativas de porta-enxertos têm sido uma demanda crescente da cadeia produtiva.

Os porta-enxertos da série americana Geneva ® apresentam características agronômicas requeridas para utilização no Brasil, despertando cada vez mais o interesse da cadeia produtiva. Contudo, existe a necessidade de estudar como esses porta-enxertos, desenvolvidos na Universidade de Cornell-EUA (Geneva), se comportam nas condições edafoclimáticas do sul do Brasil, sobretudo quanto ao vigor, produtividade e qualidade dos frutos.

Há muitos anos, a Epagri tem estudado a adaptação de porta-enxertos desenvolvidos em todo mundo nas principais regiões produtoras de Santa Catarina. Nos anos de 2017 e 2018 novas áreas experimentais foram instaladas na Estação Experimental de São Joaquim (28º17'39"S;49º55'56"W; a 1.415 m de altitude). Nesta área, não haviam sido cultivadas espécies frutíferas anteriormente. O espaçamento utilizado foi de 0,90 m x 3,5 m (população final 3.175 plantas por hectare) para 'Gala Select' e 1,0 m x 3,5 m (população final 2.858 plantas por hectare) para 'Fuji Suprema e o sistema de condução utilizado foi de muro frutal (Figura 1). Na área implantada em 2017, foram avaliados os porta-enxertos G.210, G.814, G.202, G.213, CAT 16 e Maruba com filtro de M.9 (apenas para 'Gala Select'). Na área de 2018 foram analisados o G.969, G.11,  G.935, G.222. G.41 e G.890. As áreas experimentais foram avaliadas desde a instalação em relação ao desenvolvimento inicial, vigor e crescimento das plantas e fenologia. A partir de 2020, as áreas foram avaliadas também em relação ao potencial produtivo, qualidade dos frutos e maturação. A totalidade da área foi colhida para ser classificada em relação ao calibre.

Figura 1. Área experimental da Epagri, Estação Experimental de São Joaquim, utilizando porta-enxertos da série Geneva ® em sistema de condução de muro frutal

Em relação ao vigor das plantas, foi possível organizar, de acordo com o desenvolvimento nos primeiros anos do pomar, da seguinte maneira: G.969 < G.11 < G.213 < G.41< Maruba com filtro < G.935 < G.202 < G.222 < G.814 < G.210 < G.890 < CAT 16 (Figura 2). O porta-enxerto CAT 16 foi considerado como não recomendado, por apresentar baixa produtividade e vigor excessivo. O G.935 também foi considerado inadequado para cultivo no Sul do Brasil, por apresentar sintomas característicos de virose em ambas as cultivares, ocasionando a morte de plantas e comprometendo a produção.

Em relação à fenologia, observou-se que, para área de 2017, o G.213 antecipou tanto a brotação e floração, quanto a maturação dos frutos, especialmente para a cultivar Gala, onde o período ideal de colheita ocorreu em torno de uma semana antes dos demais porta-enxertos da área. Após o G.213, normalmente o G.210 era o primeiro a florescer, seguido pelos demais porta-enxertos. Já na área implantada em 2018, uma ligeira antecipação na brotação e floração foi observada no G.890.

Para área implantada em 2017, o G.210 foi, na média das duas safras avaliadas e das duas cultivares, o porta-enxerto mais produtivo. Na sequência, os porta-enxertos G.213, G.814 e Maruba com filtro apresentaram também boas produtividades. O porta-enxerto G.202 apresentou produtividade ligeiramente inferior aos demais para as duas primeiras safras avaliadas. Todos os porta-enxertos proporcionaram bom calibre de frutos, sendo que para cultivar 'Gala' o G.213 e o G.210 se destacaram levemente em relação aos demais. O G.213 apresentou a maior eficiência produtiva (relação entre produção e o diâmetro do tronco), com elevada carga produtiva aliada à excelente controle de vigor.

Para a área implantada em 2018, dois materiais apresentaram maior destaque, o G.41 e o G.890. Ambos proporcionaram não só elevados potenciais produtivos, como também excelente calibre de frutos. O G.890, possivelmente um dos mais vigorosos dentre todos os avaliados, chamou muita atenção do setor produtivo pelo potencial que apresenta para utilização em substituição ao Maruba, principalmente em locais de solo mais raso e pedregoso. Já o G.41 se destacou pela elevada eficiência produtiva, com potencial para utilização em pomares mais adensados, com alta produtividade e eficiência no controle do vigor.

Em relação ao adensamento utilizado no pomar, foi possível observar que algumas adequações poderiam ser realizadas. Para alguns materiais ananizantes, como o G.969 e o G.11, seria adequado aumentar a densidade de plantas no pomar para explorar seu real potencial produtivo, uma vez que ambos apresentaram boa eficiência produtiva, mas tiveram sua produtividade subestimada. Por outro lado, para porta-enxertos mais vigorosos, como G.890, G.210 e G.814, acredita-se que aumentar ligeiramente o espaçamento entre plantas (30 - 50 cm) possa ser ainda mais indicado. Dependendo do maquinário adotado na área e da declividade do pomar, é possível também reduzir o espaçamento entre linhas para distâncias inferiores a 3,5 m no sistema de condução de muro frutal.

O manejo nos primeiros anos é essencial para uma melhor formação das plantas e maiores produtividades já nas primeiras safras. É imprescindível que as mudas estejam bem formadas e tenham passado tempo adequado em câmara. Nas observações realizadas em São Joaquim, foi mais adequado deixar as plantas produzirem apenas a partir da terceira folha, removendo as flores/frutos na segunda folha e permitindo um melhor crescimento da planta e formação de ramos.

Uma atenção especial precisa ser dada ao raleio, principalmente nas primeiras safras. Porta-enxertos anões como G.213 e o G.969 tendem a produzir muito e frutificarem muito próximo ao líder central, o que pode comprometer o crescimento da planta e até mesmo ocasionar alternância de produção. Ainda que todos os materiais tenham favorecido a abertura de ramos, o arqueamento é necessário e deve ser feito o quanto antes. Um bom tutoramento também é indispensável para os CGs, mesmo para os mais vigorosos. A poda, principalmente de inverno, precisa focar em substituir ramos mais grossos, já que para a combinação de CGs com o muro frutal, o foco deve ser favorecer ramos mais finos e produtivos.

De acordo com os dados obtidos até o momento, foi possível elencar alguns porta-enxertos promissores para serem utilizados no Sul do Brasil. Contudo, a indicação do melhor porta-enxerto dependerá de diversas condições como região do pomar, solo, cultivar copa, sistema de condução, densidade adotada, disponibilidade de mão de obra,  investimento inicial, experiência do produtor, entre outros. Para renovação de pomares em solos mais rasos, onde os produtores estavam habotuados com a utilização do Maruba, possivelmente porta-enxertos semi-ananizantes ou semi-vigorosos como o G.210, G.814 e G.890 possam ser escolhas mais interessantes. Por outro lado, em sistemas mais adensados e em condições de solos um pouco mais profundo, porta-enxertos como o G.213 e G.41, por exemplo, podem ser considerados ótimas alternativas.

*Mariuccia Schlichting De Martin, Tiago Afonso de Macedo, Alberto Fontanella Brighenti, Felipe Augusto Moretti Ferreira Pinto, Cristiano João Arioli

Epagri - Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected]

 

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