Porto de Natal perderá quase 40 exportadores de frutas para o Ceará
Nas projeções do Coex, as exportações de melão e melancia para o mercado europeu devem sofrer revés de 16,6% na atual safra
Com a saída da maior empresa de transporte de contêineres - a CMA/CGM - das operações do Porto de Natal, que deve ocorrer nos próximos meses, cerca de 40 produtores deixarão de exportar pelo terminal natalense mais de 20 mil toneladas de frutas na próxima safra, que começa em agosto deste ano. Essas cargas devem ser transferidas para os portos do Ceará para que, de lá, cheguem ao mercado consumidor dos outros continentes. Por outro lado, o Porto de Natal deverá receber o navio frigorífico da Agrícola Famosa, com carga de 3 mil toneladas por semana (cerca de 75 mil toneladas durante 24 semanas).
Desde o ano passado, a empresa mudou sua logística e passou a exportar entre 30% a 35% da sua produção de melão e melancia para a Europa no modelo que dispensa contêineres e usa pallets.
Metade da produção de frutas do RN já é exportada pelo estado vizinho, mas, desde outubro do ano passado, quando a empresa global em soluções marítimas, terrestres, aéreas e logísticas, a francesa CMA/CGM, comunicou à Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) o término de suas operações em Natal, havia a expectativa de que a exportação de frutas migrasse em sua totalidade para os portos do Ceará.
Agora, o presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX), Fábio Martins de Queiroga, explica que, sem um novo grande operador, a mudança deve se concretizar.
"O que temos certo é que vamos operar totalmente pelos dois portos do Ceará. Por Natal, deixariam de sair 700 contêineres, fora os contêineres de manga e uva de Petrolina/pe, o que pode, somando, chegar a mais de 1 mil contêineres que vão para Fortaleza", diz Queiroga.
Como cada contêiner equivale a 20 toneladas, o Porto de Natal deve deixar de exportar até 20 mil toneladas. O presidente do Coex conta que são produtos de 40 exportadores entre Mossoró/RN e Petrolina/PE e que a troca de portos não implica em prejuízos para esses. "Apenas três produtores do Rio Grande do Norte, que estão na região de Jandaíra e Afonso Bezerra, sentirão prejuízo porque terá um aumento de aproximadamente 40% do custo logístico", revela.
Portanto, há vantagens em enviar as frutas para o outro lado do mundo a partir do Ceará, quando se leva em consideração a dificuldade logística para chegar a Natal e também as limitações do porto potiguar. O Porto de Natal recebe com regularidade navios para exportação de sal, importação de trigo e cargas de projeto eólico e industrial, mas é na movimentação de frutas que o terminal tem seu protagonismo. Cerca de 60% de toda movimentação vem das frutas frescas.
Exportação de frutas frescas para a Europa pelo Porto de Natal representa cerca de 60% de toda movimentação do terminal
Nas projeções do Coex, as exportações de melão e melancia para o mercado europeu devem sofrer revés de 16,6% na atual safra, que começou em agosto passado e segue até abril. A entidade estima o envio de 300 mil toneladas para a Europa até o próximo mês. Na safra 2021/2022 foram escoadas para o continente aproximadamente 360 mil toneladas.
Os principais fatores que impactaram na redução já eram previsíveis: superinflação no continente europeu, limitações de mercado e aumento dos custos de logística. Com o desligamento da CMA/CGM, se a Codern não conseguir atrair novos operadores, poderá reduzir as suas operações à metade, perdendo cerca de R$ 5 milhões por ano. A empresa francesa é responsável por metade das operações no porto da capital potiguar.
O Governo do Estado anunciou no final de janeiro passado uma Missão Empresarial Estratégica, composta pelas Secretarias da Agricultura e da Pesca (SAPE) e Desenvolvimento Econômico (SEDEC), o Coex e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (Sebrae-RN), para atração de navios e a intenção de isenção fiscal do combustível marítimo para estas companhias. Dentro do planejamento, o incentivo fiscal tornando o combustível marítimo cerca de 30% mais barato é uma aposta para atrair empresas de navegação para o Porto de Natal.
Agricola Famosa vai operar no porto de Natal - A saída da CMA/CGM do Porto de Natal deverá coincidir com a chegada da Agrícola Famosa que passará a operar com o navio frigorífico no transporte de sua produção pelo terminal natalense no modelo pallet, que substitui contêineres.
A informação foi dada pela Codern e confirmada pela empresa Agrícola. "A Codern conseguiu com a Agrícola Famosa uma operação que terá início a partir de agosto, para a exportação de frutas pelo Porto de Natal, por meio de "pallet". O pallet é um estrado ou plataforma, geralmente feito em madeira, plástico ou metal, usado para empilhar ou transportar materiais. No âmbito da Codern é o que temos de concreto. Nosso cliente era a CMA/CGM que está operando normalmente no Porto de Natal no primeiro semestre. Agora será a Agrícola Famosa", informou a Codern.
O CEO da Agrícola Famosa, Carlo Porro, explicou que o momento é de negociação de fretes da safra, mas que a possibilidade é quase certa.
Atualmente, eles fazem o transporte a partir do porto de Mucuripe, em Fortaleza/CE, onde a CMA/CGM está concentrando seu trabalho. "Então, o porto de Mucuripe não suporta tantas operações assim. Por isso, a saída da CMA de Natal para Mucuripe está provocando essa intenção. Estamos falando aí de uns 35% da nossa produção, então é um navio por semana, com 3 mil pallets que começa a partir de agosto", disse ele.
Os navios têm câmara frigorifica com pallet, sendo mais caro do que utilizar contêineres. Contudo, o CEO afirma que o transporte é mais tranqüilo com maior garantia do cumprimento de prazos, tendo sido uma experiência satisfatória desde que iniciaram no ano passado.
Para esta safra, a expectativa da Agrícola Famosa é de manter as exportações na mesma proporção do ano passado. "A recessão na Europa é é grande por conta da guerra, mas eu estimo que a Agrícola vai fazer, no mínimo a mesma coisa, com alguma tendência de subida que pode ser de 5% a 10%. Equivale na exportação de 10 mil a 20 mil toneladas a mais. Vamos fechar a exportação aí com umas 180 mil tonelada, correspondente a 9 mil containers".
A CMA/DGM deixa o porto de Natal para atender a pressão do mercado internacional e passará a operar apenas com navios de 260 metros, o que impossibilita manobras na foz do rio Potengi por falta dos sistemas adequados de defensas da Ponte Newton Navarro e também sua limitação de altura e profundidade do rio Potengi. Apenas barcos com altura inferior a 52 metros e 220 metros de comprimento entram no terminal potiguar.
No ano passado, a Codern informou que a transportadora estava arrendando uma área no Porto de Mucuripe/CE, equivalente a um porto e meio de Natal e lá concentraria as operações. Ao comunicar a saída da rota de Natal, a CMA deu o mês de outubro de 2023 como data para o término das operações em Natal. *Tribuna do Norte