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Principais doenças da cultura da videira: míldio, oídio e ferrugem

Veja também: Vinícola de Bento começa a colheita das primeiras uvas produzidas em espaldeiras a partir de projeto do município


Doenças nas videiras

A vitivinicultura brasileira é uma atividade importante para a sustentabilidade da pequena propriedade no Brasil, que tem se tornado igualmente relevante no que se refere ao desenvolvimento de algumas regiões, grandes empreendimentos envolvidos no ramo também contribuem com a geração de emprego, tanto na produção de uvas de mesa e uvas para processamento. Entretanto, esta cultura apresenta elevada sensibilidade a patógenos que podem afetar negativamente à produção da cultura da videira, destacando-se os ligados às doenças.

Na cultura da videira (Vitis L.) ocorre uma série de problemas fitossanitários, causando prejuízos aos produtores e influenciando principalmente a produtividade, a estética dos frutos e a qualidade de vinhos, sucos, passas, geléias, etc. Entre esses problemas, destacam-se principalmente o míldio e o oídio como doenças foliares, e a podridão amarga e  o mofo cinzento em frutos. 

  1. Míldio - Causado pelo Plasmopara viticola (Berk & Curtis) Berl & de Toni, o míldio é considerado a doença mais importante e destrutiva da videira. Ataca todos os órgãos verdes e tenros da planta, tais como ramos, brotos, flores, bagas e, principalmente, as folhas, nas quais, inicialmente, aparecem manchas encharcadas, que vistas contra a luz dão a impressão de mancha de óleo.

Sintoma de míldio na folha. Fonte: Embrapa Uva e Vinho (Foto: O.R. Sônego)

Posteriormente, essas manchas apresentam um crescimento pulverulento de cor branca, na face inferior da folha. Em condições favoráveis, os ataques podem ser intensos, provocando a desfolha generalizada das plantas, a deformação dos ramos, a seca e queda de flores. As bagas ficam recobertas por um pó branco constituído de frutificações  do patógeno.  A doença é favorecida por chuvas superiores a 10 mm durante um a dois dias e temperaturas entre 18 e 22ºC. A forma de condução baixa dos vinhedos, com vegetação densa e irrigação são fatores favoráveis ao aparecimento da doença, pois proporcionam um microclima ideal para o desenvolvimento do patógeno.

Controle:                                                                             

  • Quando possível optar por cultivares com algum nível de resistência. De modo geral, as cultivares americanas e seus híbridos são menos suscetíveis que as europeias.
  • Instalar o vinhedo em áreas livres do acúmulo de umidade, neblinas, fontes de água, etc.
  • Utilizar adubações equilibradas evitando sempre o excesso de nitrogênio. Tecidos tenros são mais suscetíveis à doença.
  • Evitar plantios adensados e realizar podas adequadas, de forma a conter o acúmulo de umidade nas folhas e frutos, bem como facilitar a circulação de ar entre as plantas.
  • Fazer uso do tratamento de inverno (Calda sulfo-cálcica).
  • Eliminar e destruir restos de cultura.
  • Em cultivos protegidos, favorecer a circulação de ar no interior das estufas.
  • Utilizar os fungicidas: calda bordalesa, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre, clorotalonil, captana, folpete, ditianon, mancozebe sulfato de cobre + cal virgem (calda bordalesa), manebe, metalaxil, benalaxil, cimoxanil, famoxadona, fenamidona, piraclos- trobina, azoxistrobina, dimetomorfe, ciazofamida e fluopicolide, alternando sempre produtos sistêmicos com os de contato. Sempre observar se o registro do produto está atualizado.
  • Aplicação preventiva de fosfitos. Registrados como fertilizantes, os fosfitos apre- sentam propriedades sistêmicas e caracterizam-se por estimular o crescimento das plantas, por possuírem ação fungicida sobre oomicetos e estimular a produção de fitoalexinas (compostos produzidos pela planta capazes de reduzir ou inibir a infecção).
  • 2. Oídio - É uma doença de relativa importância, causada pelo fungo Uncinula necator (Schwein.) Burril, ataca todos os órgãos verdes e tenros da planta. Nas folhas, ocorre a formação de um crescimento pulverulento de cor branco acinzentada em ambas as faces. A frutificação torna-se reduzida em consequência da queda de flores, os frutos se desenvolvem pouco e podem rachar.

Sintoma de oídio nas folhas. Fonte: Embrapa Uva e Vinho (Foto: O.R. Sônego)

É um parasita obrigatório favorecido por clima seco e ameno, com temperatura pa- ra infecção e colonização entre 20 - 27ºC. Temperaturas acima de 35ºC inibem o desen- volvimento do patógeno, bem como chuvas fortes, pois retiram os conídios da superfície do hospedeiro. A doença pode ser mais severa em cultivos protegidos.

Controle

  • O vinhedo deve ser instalado em locais ventilados e ensolarados.
  • Utilizar a poda, destruir os restos de cultura, juntamente com o tratamento de inver no (Calda sulfo-cálcica).
  • Utilizar pulverizações com fungicidas registrados à base, ciproconazol, cresoxim- metílico, piraclostrobina, boscalida, tebuconazol, tetracozanol, difenoconazol, tiofanato metílico, miclobutanil, triflumizol, fenarimol e enxofre. As pulverizações com enxofre devem evitar sempre temperaturas elevadas (25 a 30°C) ou abaixo de 18°C, caso contrário podem ser fitotóxicas. Sempre observar se o registro do produto está atualizado.
  • O controle biológico da doença pode ser feito com formulações de Bacillus umilus.
  • Extrato de folhas de Melaleuca altemifolia apresenta registro para o controle do oídio da uva. 
  • 3. Ferrugem - A ferrugem, causada pelo fungo Phakopsora euvitis Y. Ono, pertence à Ordem Uredinales e está presente no Brasil desde 2001, quando foi confirmada sua ocorrência em Jandaia do Sul, PR, na variedade Itália.

Sintoma de ferrugem nas folhas. Fonte: Embrapa (Foto: Renata Gava)

No Brasil, o ciclo da ferrugem restringe-se às fases uredinial e telial, com a formação de urediniósporos e teliósporos, responsáveis pela disseminação e epidemias no campo. Os urediniósporos constituem o inóculo primário e secundário da doença e são disseminados pelo vento.

Os sintomas se caracterizam inicialmente por pústulas de coloração amarela na face inferior das folhas e na face superior, correspondente às pústulas, aparecem áreas necrosadas. As folhas jovens e maduras podem ser infectadas. Essas folhas tornam-se amarelas e secam, podendo causar desfolha precoce se o ataque for intenso, reduzir o crescimento do porta-enxerto e prejudicar a produção de frutos.

Folhas de videira infectadas são fontes de dispersão dos esporos, principalmente pelo vento. Essa facilidade em se disseminar resulta em ciclos repetidos de infecção na videira. Pesquisas revelaram que a temperatura ótima para a germinação dos esporos é de 24°C com um mínimo de 8°C e um máximo de 32°C, que associadas à alta umidade podem dar inicio às epidemias.

Em climas tropicais e subtropicais, o fungo persiste apenas no estado uredinial sem necessidade de um hospedeiro alternativo e podem sobreviver a condições desfavoráveis em gemas dormentes. Nas regiões mais frias, o fungo ocorre preferencialmente no final do ciclo da cultura.

Controle

  • Cultivares como a Itália ( vinifera), Isabel (Vitis labrusca x V. vinifera) e Niágara são suscetíveis à ferrugem, no entanto são as mais consumidas, necessitando, portanto, do uso de fungicidas para o seu controle.
  • Em regiões tropicais, durante a estação seca, deve-se podar a parreira, evitando-se o período de maior precipitação durante a fase de maturação da uva.
  • Em relação ao controle químico, até o momento somente os fungicidas meti- ram+piraclostrobina, tebuconazol e tetraconazol são registrados para controle da ferrugem da videira. Sempre observar se o registro do produto está atualizado. 
  • Bibliografia e links relacionados - CAETANO, B.S. et al. Principais doenças na cultura da videiraRevista Conexão Eletrônica, v.14, n.1, 2017. NOGUEIRA, E.M.C. et al. DOENÇAS FÚNGICAS DA VIDEIRA: SINTOMAS E MANEJO. Documento Técnico 32, 2017, p.1-21. 
  • Vinícola de Bento começa a colheita das primeiras uvas produzidas em espaldeiras a partir de projeto do município - Diferentemente do método na horizontal, que predomina na região, fruta é cultivada na vertical - Uma uva voltada para produção de vinhos finos e espumantes, privilegiando a qualidade da fruta. O objetivo de um projeto da prefeitura de Bento Gonçalves junto às propriedades e vinícolas de pequeno porte do município, iniciado em 2021, deu, literalmente, os primeiros frutos. Na última semana, a Casa Zottis, no Vale dos Vinhedos, colheu as culturas que marcaram o começo de mais uma fase nesta iniciativa.
  • Vinhedo da Casa Zottis foi o primeiro a colher as uvas no novo projeto - Foto: Porthus Junior/Agencia RBS

  • O grande diferencial é a plantação da uva em videiras em espaldeiras. Diferentemente do método tradicional na horizontal, chamado de latada ou pérgola, utilizado por grande parte dos agricultores da região, o cultivo é feito na vertical. Isso possibilita uma série de vantagens para obter um produto capaz de gerar vinhos e espumantes também de qualidade superior. 

    primeira propriedade a se inscrever no projeto e iniciar a colheita foi a Casa Zottis, do Vale dos Vinhedos. Com 50 anos de atuação no setor da uva, fabrica vinhos próprios desde 2020 e, conforme a enóloga e sócia-proprietária Daniela Chesini Zottis, aproveitou o novo momento no município para investir em modernização das videiras.  

    - A propriedade, por ser herdada da família, tinha vinhedos bem antigos, e nós vimos neste projeto uma possibilidade de renovação. Como a vinícola é recente, mas já trabalha com uma linha especial, pensamos em usar a iniciativa para trabalhar uvas elaborar nossos vinhos, com cada vez mais qualidade. Para isso, tiramos uma parte do vinhedo, de uvas para suco, para apostar nas espaldeiras - comenta Daniela.

    Segundo a enóloga, o plantio da uva em espaldeiras oferece uma série de vantagens, como maior incidência de sol (sol da manhã e da tarde), diminuição de doenças como o míldio, possibilitada pela ventilação melhorada em relação à latada, menor acúmulo de água na videira e facilitação no manejo e colheita.

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  • A enóloga Daniela (D) e o marido viticultor e sócio da vinícola Juliano Zottis - Foto: Porthus Junior/Agencia RBS

  • O plantio para produção em espaldeiras em propriedades do município se iniciou ainda em agosto de 2022. Atualmente, o projeto conta com 46 agricultores inscritos, com 34 com culturas preparadas.

    Ainda sobre o sistema de condução em espaldeiras, o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos, faz a ressalva que o método favorece a qualidade da fruta, mas que bons resultados também podem ser obtidos no tradicional. 

    - Respeitando as condições ideais, a espaldeira tende a favorecer uma uva de melhor qualidade. Contudo, a latada também permite safras boas neste sentido, desde que o manejo e todo o processo sejam feitos de maneira adequada - ressalva o pesquisador. 

  • Prefeitura conduz o projeto - Dar auxílio aos produtores e fortalecer cadeia viticultora do município sãos as principais metas por trás do projeto das espaldeiras. O secretário de Desenvolvimento da Agricultura, Volnei Christofoli, garante que a comunidade recebeu muito bem a iniciativa.

  • O secretário de Desenvolvimento da Agricultura, Volnei Christofoli, acompanha as videiras - Foto: Porthus Junior/Agencia RBS

  • - A demanda surgiu pela importância de incentivar a produção de vinhos finos, que tem valor agregado, aumentando a nossa safra. O projeto está em andamento e será aumentado, justamente porque produtores abraçaram. Houve uma grande procura, principalmente dos pequenos produtores, das vinícolas familiares - avalia o secretário. 

    A plantação em espaldeiras tem o subsídio de 50% do valor de aquisição das mudas viníferas para o plantio de um hectare por ano em cada propriedade, com até 30 horas/máquinas, e foi desenvolvida em parceria com a Emater, responsável pela ajuda técnica, Embrapa e IRFS-RS.   *GZH/Jornal Pioneiro/Egui Baldasso

  • Vantagens do plantio da uva em espaldeiras: Maior incidência de sol; Diminuição de doenças; Menor acúmulo de água na videiraFacilitação no manejo e colheita; Melhor qualidade da uva. 

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