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Produção de goiaba cresce e ganha mercado no Rio de Janeiro

A venda dos frutos para a indústria é uma boa alternativa para os produtores na época da safra


A produção de goiaba no Estado do Rio de Janeiro vai de vento em popa. Em 2020, saíram dos pomares 23,8 mil toneladas da fruta. Para dar uma ideia, em 2016, a produção foi de 15,5 mil toneladas. Área colhida e rendimento médio também estão em alta. Os municípios principais produtores são Cachoeiras de Macacu, que responde por 74,3% da produção, seguido de São Francisco de Itabapoana (7,14%), Guapimirim (4,14%) e São João da Barra (2,1%).

Entre os entraves que impedem um avanço ainda maior na produção está a concentração de produtos na época da colheita. Apesar de ser uma fruta que pode ser produzida durante todo o ano, a safra normal é entre janeiro e março. O caminho, segundo Alcílio Vieira, doutor na área de produção vegetal e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), é a melhor exploração da industrialização dos frutos.

Os pomares antigos também são um empecilho para o aumento de produção. Mesmo sendo uma planta perene, a produção comercial é mais alta em árvores com 15 a 20 anos. "As áreas precisam de renovação. Há plantas com 30, 40 anos, que já não têm a mesma produção. Além disso, com a renovação, será possível usar variedades novas, mais resistentes e produtivas", explica o pesquisador.

Indústria ou mesa? - O preço da goiaba para indústria, em média, está R$ 0,15 por quilo, na lavoura. Compensa, de certa forma, porque o produtor não precisa ter os tratos culturais mais finos. Na prática, vende mais barato, mas gasta menos. 

"A goiaba para mesa, por outro lado, precisa de um tratamento melhor, com mais tecnologia e manejos adequados. Nesse caso, é possível vender uma caixeta com seis a oito frutos por entre R$ 2,5 e R$ 5. Gera uma boa renda", explica Vieira, salientando que a agroindústria também tem papel importante nesse processo de agregar valor, com produtores usando os frutos para geleias, goiabadas e mariolas. 

As variedades mais plantadas no Estado são a Pedro Sato, uma fruta que pesa, em média, entre 250 e 400 gramas. Com tratos especiais -manejo, raleio e podas - essa goiaba pode chegar aos 600 gramas. Há ainda a Itígio, cujo fruto tem maior tempo de prateleira, ou seja, dura mais depois da colheita, e a Nonura, variedade para ser consumida in natura. Na indústria, a mais demandada é a Paluma. A variedade tem mais açúcar e a vida de prateleira é menor. "Ela não necessita de tantos cuidados, é mais rústica", explica.

Nos pomares mais novos, há uma nova goiaba surgindo: a Cortibel. É mais produtiva e mais rústica, mesmo sendo de mesa, e não precisa de tantos cuidados. "A média dessa variedade na hora da seleção é 70% para mesa e 30% para indústria", explica o pesquisador, destacando que a irrigação dos pomares é uma técnica fundamental para aumentar a produtividade.

Fruta de qualidade e o dilema com a sucessão - Aos 72 anos, o agricultor Jorge Masao Uesu - Sítio Village (com a família na foto que abre a reportagem) já está adaptando a maior produção de goiaba de Cachoeiras de Macacu para quando aposentar de vez as botinas. O descendente de japoneses, que conta com dois funcionários, está promovendo treinamentos para produtores interessados em contratos de parceria. É necessário compartilhar as técnicas de manejo e outros conhecimentos para a cultura agrícola persistir e superar o problema com a sucessão familiar na colônia japonesa de Papucaia, onde fica a propriedade, na zona rural do município.  

Localizada a 15 km do Centro, a comunidade foi fundada no final da década de 1950 por agricultores nipônicos vindos de São Paulo e mantém vivas as tradições dos imigrantes da "Terra do Sol Nascente". Mas segundo Seu Jorge, das 60 famílias que vivem ali, os idosos são maioria em atividade na agricultura. "Papucaia ficou só com os moradores idosos, pois há uma tendência dos mais jovens migrarem para as cidades", diz o agricultor, casado com Mitie Koseki e pai de três filhos, sendo só o mais velho, Márcio, de 35 anos, na produção familiar. 

Juntos, cultivam três variedades de goiaba (todas batizadas por agricultores e pesquisadores de origem japonesa: Pedro Sato, Namura 2 e Ichijo) em seis dos 13 hectares do sítio. Outras áreas são dedicadas ao cultivo de limão tahiti e maracujá. A produção da goiaba ocorre o ano todo. Chega a quase 40 mil quilos por hectare e atende ao mercado in natura via Ceasa/RJ de Irajá, na capital. A uniformidade da fruta da família garante valor agregado de 60% a 70% por baixo. "O diferencial está na insistência, na teimosia", conclui o ex-técnico em telecomunicação que rodou o Brasil todo, mas sempre quis viver no campo. *Fernanda Zandonadi e Leandro Fidelis/ConexãoSafra

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