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SC é destaque na produção de vinhos finos de altitude com bebidas premiadas no país e exterior

Pioneirismo da Villa Francioni abriu caminho para impulsionar a vitivinicultura e o enoturismo catarinense


Poda das videiras na Villa Francioni em São Joaquim

A construção parece um castelo em meio às montanhas de São Joaquim, em Santa Catarina. O prédio de quase 4.500 metros quadrados de área edificada foi idealizado por Manoel Dilor Freitas na década de 1990, em um projeto audacioso e pioneiro para a cidade. O fundador morreu antes de abrir a primeira garrafa de vinho produzida no empreendimento inaugurado em setembro de 2001.

Villa Francioni abriu o caminho para a vitivinicultura na região, hoje consolidada pela qualidade das bebidas genuinamente catarinenses. Daniela Freitas, atual presidente do conselho da Villa Francioni e filha do precursor do negócio, lembra que a vinícola é um legado de um visionário cujo empreendedorismo estava no próprio DNA. "Fomos a primeira vinícola a se instalar na região e vamos completar 22 anos", comenta.

O terroir da Villa Francioni está localizado a 1.260 metros acima do nível do mar e reúne as condições ideais para o cultivo de 12 castas de uva. Neste ano, a colheita atrasou em razão do clima dos últimos meses. Apesar da espera mais prolongada, esta deve ser uma safra rica em qualidade.

"A região aqui sofreu com as geadas na primavera. Isto fez com que reduzisse um pouco a produtividade de algumas variedades, mas com o início do outono se aproximando com dias quentes e noites frias, além da diminuição do volume de chuvas, se espera uma excelente qualidade", aponta Nei Geraldo Rasera, enólogo da vinícola.

Nesta safra, a Villa Francioni deve atingir a marca de 90 toneladas de uvas. Os olhos de quem visita a Villa Francioni mal dão conta de alcançar no campo visual toda a imensidão do cultivo espalhado pela propriedade. Oito funcionários cuidam o ano inteiro das parreiras em um processo extremamente delicado e artesanal.

O trabalho é braçal sem o uso de máquinas para garantir o mínimo de perdas na hora da colheita. "Um grande vinho se inicia com uma grande uva. Então os cuidados que se têm no cultivo e manejo do vinhedo é muito importante porque refletirá no vinho que teremos lá na frente", detalha Rasera.

Nesta safra, a Villa Francioni deve atingir a marca de 90 toneladas de uvas - Foto: Paulo Mueller/NDTV

Obra de arte em forma de bebida - A vinícola tem cinco andares com capacidade para produzir 300 mil garrafas de vinho por ano. Atualmente, a produção chega a 150 mil unidades. A estrutura física foi projetada com base no fluxo gravitacional, em que os desníveis da construção possibilitam a menor interferência mecânica no processo de fabricação dos vinhos de altitude e espumantes.

Um laboratório instalado nas dependências do prédio conta com uma equipe especializada para acompanhar o desenvolvimento da fruta, a chegada da uva para o processo de separação, além do engarrafamento totalmente automatizado sem qualquer tipo de contato humano.

O ciclo completo proposto pela empresa transforma o resultado em uma verdadeira obra de arte com características únicas e reconhecidas pelo mercado nacional e internacional. "Temos 17 rótulos diferentes no nosso portfólio e recebemos premiações anualmente. Dois anos atrás recebemos a Decanter World Wine Awards, premiação que reconhece a nossa qualidade", comemora Daniela Freitas.

Um lugar misterioso - A quatro metros abaixo do nível do solo fica a cave da Villa Francioni. A intensidade da iluminação é controlada para evitar a interferência da luz no amadurecimento do vinho. O clima é natural, com temperatura em torno de 12ºC. No local estão 300 barricas de carvalho francês. O custo de cada uma é em média de R$ 10 mil e a vida útil de até cinco anos.

Depois deste período é preciso trocar o barril para garantir a qualidade da produção. A barrica antiga é vendida pela vinícola para pessoas que usam, por exemplo, como peças decorativas. A média de preço do barril usado é de R$ 1.700.

Cada barrica armazena até 250 litros da bebida conservada no local entre 10 meses e três anos. O tempo varia conforme as características pretendidas, como nível de acidez e teor alcoólico. No período da vindima os turistas podem descer na cave, acompanhados por um guia. Conforme o roteiro escolhido é possível até degustar o vinho direto da fonte.

Cada barrica armazena até 250 litros da bebida conservada no local entre 10 meses e três anos - Foto: Paulo Mueller/NDTV

Colheita das uvas - As vinícolas da Serra têm receptivos abertos o ano inteiro para atender turistas vindos de todos os cantos do país em busca do chamado turismo de experiência. O visitante tem a oportunidade de conhecer mais de perto a produção dos vinhos da região serrana especialmente durante o período de abertura da colheita de uvas.

A Villa Francioni é uma das participantes da 9ª edição da Vindima de Altitude de Santa Catarina. Até o dia 26 de março é possível agendar passeios guiados em roteiros diferenciados em meio ao vinhedo e à charmosa edificação onde são produzidos os vinhos finos de altitude reconhecidos internacionalmente pela qualidade.

Marcus William da Silva Teixeira, empresário carioca, aproveitou a estadia na Serra catarinense para conhecer o empreendimento e até provar a bebida ao lado das parreiras carregadas com cachos de uva. "Realmente é uma experiência maravilhosa. Hoje temos no país os melhores vinhos", reconhece o turista.

Os funcionários acompanham os visitantes que chegam repletos de curiosidades. "Uma das perguntas mais frequentes dos turistas é como as uvas vêm se adaptando à região por ser um clima frio, diferente", comenta Sidney Ribeiro, um dos guias da Villa Francioni. A vinícola impressionou a enfermeira Roberta Luiza Salum, turista de Florianópolis. "A experiência de ver a parreira cheia e provar a uva é única", destaca.

João Freitas, filho do fundador da Villa Francioni, seguiu a mesma paixão do pai pelos vinhos. Em 2013, concretizou a abertura da vinícola Thera, em Bom Retiro. O nome é uma homenagem à Therezinha Borges de Freitas, mãe de João, e carinhosamente chamada de Thera por Manoel Dilor de Freitas. "Nós somos uma vinícola jovem, mas já tínhamos a experiência e o caminho trilhado pela Villa Francioni", comenta. O empreendimento também integra a programação da vindima.

O enoturismo tem contribuído para o desenvolvimento do setor. Em São Joaquim, a cadeia produtiva de vinhos finos de altitude e espumantes ocupa a terceira posição na economia da cidade. "Estamos muito felizes porque temos a pecuária, a fruticultura, o enoturismo e a vitivinicultura entrando como um pilar forte no desenvolvimento turístico econômico de São Joaquim e da região", reforça o prefeito de São Joaquim,  Giovani Nunes. *Paulo Mueller/NDTV

Serviço:

O que: 9ª Vindima de Altitude de Santa Catarina

Quando: até 26 de março

Onde: vinícolas participantes

Quanto: preço varia conforme o roteiro e a vinícola

Informações: www.vinhosdealtitude.com.br

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