A pera precoce é uma nova alternativa produtiva no Uruguai, país que conta atualmente com um total de 597 hectares dessa fruta, dos quais 89,4% correspondem à variedade 'Williams', que é cultivada principalmente na região Sul do país, especificamente na Canelones, Montevidéu, San José e Colônia.

Mas face à alteração das condições climatéricas, estão neste momento  desenvolvendo um novo estudo sobre a adaptação da cultura da pereira 'Williams Precoz' ('Early Bon Chretien'), conduzido pelo técnico agrícola, Julio Pisano, que falou em exclusivo com o Portal Fresh Fruit, os bons resultados obtidos.

Características - A pera estudada é a cultivar 'Williams Precoz' ('Early Bon Chretien'), que é uma mutação da cultivar 'Williams' (francesa), obtida perto de Ceres na África do Sul. O fruto é grande, de forma piriforme, com epiderme bastante lisa e lenticelas visíveis, obtendo-se na região uma atrativa face rosada. A polpa é branca, de fina textura amanteigada, aromática, de sabor doce muito agradável, -características muito semelhantes à 'Williams'-.

Sobre as características da árvore, Pisano mencionou que ela apresenta foliação menos atrasada que a 'Williams' após invernos amenos.

O acúmulo de frio invernal na região é de 497 horas de frio =< 7,2°C, 873,1 horas de frio =< 10°C e 38 porções de frio, dados médios de 2017-2022, para a estação previsão do INMET de Quaraí, RS. Brasil. As propriedades onde foram instaladas as plantações de pereiras estão 10 km em linha reta mais ao sul de latitude, e apresentam uma média de 115 m.s.n.m.

Pisano destacou "no inverno de 2018, fiz um estudo na área, em uma das propriedades, onde foi determinado que para os botões vegetativos e florais de 'Williams Precoz' brotarem mais de 50%, eles precisam acumular no inverno mínimo 324 horas de frio =< 7,2°C, e 25 porções de frio".

Resultados produtivos de peras precoces - O técnico agrícola comentou que durante cinco anos realizou estudos detalhados da cultura, clima e solo, onde posteriormente um grupo de quatro produtores iniciou com as primeiras plantações da cultivar 'Williams Precoz', em junho de 2017, na área de Pintado, departamento de Artigas, Uruguai. Latitude: 30°26'48"S, Longitude: 56°26'35"W.

Na primeira instância, foram instalados um total de dois hectares, meio hectare por produtor. A estrutura de plantio utilizada foi de 5 x 2,5 m. (800 plantas/ha). O porta-enxerto escolhido foi o Pyrus calleryana, devido à sua rusticidade em altas temperaturas, déficit hídrico, sufocamento das raízes e nematoides; Apresenta baixa exigência de frio invernal e boa compatibilidade com 'Williams'. "Foi usado como polinizador no cultivo de 'Forelle'; Mais duas cultivares serão incluídas nos novos plantios: 'Abate Fètel' e 'Etrusca'", disse Pisano.

Colheita - O especialista explicou que as plantas começaram a produzir frutos a partir da safra 2018/2019, atingindo a primeira produção comercial em 2020/21 com 3,5 kg. /pl., seguiu-se em 2021/2022 com 7 kg. /pl., e na última temporada 2022/2023, obtiveram 10 kg. /pl. 7.200 kg/ha.

"A colheita é realizada em silos de 250 kg, onde é enviado para o sul (Montevidéu, 600 km) para realizar a embalagem, o tratamento de descoloração (dois dias com etileno e três dias em câmara fria a 0°C) , para posteriormente poder realizar a comercialização na UAM (Unidade Agroalimentar Metropolitana), Montevidéu. O preço médio de venda da pêra na safra 2022/2023 ficou em torno de US$ 1,33 o quilo", disse Pisano.

Na sua opinião, a pêra precoce pode chegar a uma produção de 25 mil quilos/ha. "Floresce mais cedo que a 'Williams' tradicional e a adaptação é melhor em áreas onde temos menos acúmulo de frio invernal, como a zona norte do Uruguai."

Vantagens - Para Pisano, a vantagem comparativa que a lavoura tem na região é a antecipação da colheita, conseguindo produzir numa época (dezembro), onde o produto não tem concorrência nacional, havendo no mercado apenas fruta importada, o que não se assemelham às caracte- rísticas de 'Williams'.

"A tradicional colheita de 'Williams' no sul ocorre entre 23 e 30 de janeiro. O 'Williams Precoz' no norte é colhido de 15 a 25 de dezembro, cerca de 39 dias antes."

                                                                                   Zona de produção de peras Williams Precoz, no Uruguai

Pisano considera que é uma opção produtiva para os agricultores da zona norte do Uruguai, já que são cultivados principalmente tabaco, horticultura, cereais, pecuária, etc. "Há pouco desenvolvimento de frutas na região, então a 'Williams Precoz' é uma boa alternativa para os produtores, com um item mais sustentável e rentável."

Projeção de peras precoces - O técnico agrícola comentou que esperam ter 15 hectares no próximo ano e mais 15 novos hectares para 2025, "projetamos cerca de 30 hectares daqui a dois anos. E nossa meta é conseguir produzir no mínimo 20 mil quilos por hectare". *PortalFruticola

Pisano acrescentou que "num futuro próximo será alargada da área produtiva, onde já se visualizam mais produtores interessados ??em iniciar novas plantações, implementando novas tecnologias, com um produto mais amigo do ambiente e com menor impacto no ambiente, e menores custos de mão-de-obra", trabalho aos itens que existem na área".

A janela de colheita também será estendida com cultivares adaptadas que forem colhidas antes da 'Williams Precoz', alcançando assim a produção durante todo o mês de dezembro.

Além disso, acrescentou que se em algum momento a área produtiva aumentar e saturar o mercado de Montevidéu (UAM), os mercados mais próximos, assim como o mercado brasileiro, são vistos como uma possível alternativa de venda. Os agricultores interessados ??na cultura podem entre em contato com Julio Pisano, em [email protected].