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Dilema do uso de embalagens plásticas, vida útil das frutas e combate ao desperdício de alimentos

As limitações decorrem da proibição do uso de embalagens plásticas para acondicionar frutas e legumes em quantidades inferiores a 1,5 kg quando esses produtos não apresentem risco de deterioração ou segurança alimentar


Os países que compõem a União Europeia têm reconhecido o problema causado pelo uso excessivo de embalagens plásticas e o descontrole de seus resíduos. É por isso que, nos últimos anos, esta preocupação tem sido evidenciada através de diferentes documentos como a Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, intitulada "Closing the circle: um plano de ação da UE para a economia circular", o Plano de Ação para uma Economia Circular Europeia, a Estratégia Europeia para os Plásticos e mais recentemente o Plano de Ação para a Nova Economia Circular, publicado em 2020, que tem como objetivo uma Europa mais limpa e competitiva.

Perante esta "artilharia" de documentos, cada Estado-membro tem interiorizado os novos desafios e proposto, através da sua legislação, diferentes soluções.

Em particular, no caso da embalagem de frutas em material plástico, tanto a França quanto a Espanha optaram por restringi-la gradualmente, promovendo a venda à granel e propondo o desenvolvimento de uma lista de frutas em risco de deterioração, para as quais a proibição de embalagem permaneceria postergado.

As limitações decorrem da proibição do uso de embalagens plásticas para acondicionar frutas e legumes em quantidades inferiores a 1,5 kg quando esses produtos não apresentem risco de deterioração ou segurança alimentar, aspecto que, no caso da Espanha, deve ser estabelecido pelo Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutricional (AESAN) em uma lista que deve ser publicada em breve.

O principal objetivo desta medida é prevenir a geração de resíduos, o primeiro passo na conhecida "hierarquia dos resíduos", promovendo, no caso de Espanha, a utilização de embalagens reutilizáveis ??fornecidas pelo consumidor para serem enchidas com a fruta no ponto de venda, apostando no segundo nível dessa hierarquia, que é o reaproveitamento.

O que nos leva a analisar se esta medida poderá colocar em risco a segurança e saúde alimentar, uma vez que os recipientes fornecidos pelo consumidor não puderam ser devidamente higienizados, afetando o produto com o qual é embalado.

Estas medidas podem ser eficazes na redução do desperdício, mas dentro dos princípios da economia circular devemos também ter em conta dois conceitos importantes: prolongar a vida útil dos produtos e combater o desperdício alimentar.

É aqui que surge um dilema que nos leva a fazer uma análise mais profunda sobre a função da utilização dos recipientes de plástico (Mariana Reina - foto acima).

Muitos podem considerar que a fruta pode ser vendida à granel ou em embalagens de materiais não plásticos, porém, nem todos sabem que algumas embalagens plásticas utilizadas na indústria agroalimentar não têm apenas a função de conter, transportar ou apresentar mercadoria; Trata-se, sim, de embalagens ativas ou embalagens com características avançadas, ou seja, embalagens desenvolvidas para retardar o crescimento de microrganismos, prolongando assim a vida útil e melhorando a qualidade e a segurança desses produtos.

Ao prolongar a vida útil da fruta, evita-se a rápida deterioração e com isso combate-se o desperdício de alimentos, pois, se não for acondicionado em atmosfera controlada, em recipientes microperfurados ou em contato com superfície tratada para evitar o crescimento de cogumelos, a mesma fruta deteriorar-se-ia rapidamente e, se não fosse disponibilizada atempadamente aos consumidores, acabaria no contentor de resíduos orgânicos.

                                                                         O modelo Innventia AB (The Consumer Goods Forum, 2011)

Nesse sentido, os materiais plásticos se posicionam como a melhor opção por serem os materiais mais completos em termos de propriedades e formatos, além de serem sustentáveis ??devido ao seu baixo peso e consumo de recursos para sua fabricação e distribuição. Além disso, na embalagem de frutas e legumes, sua resistência à umidade os torna essenciais para manter os produtos secos e frescos e evitar o crescimento de microorganismos.

Além disso, o uso de embalagens de produtos plásticos nos oferece algumas vantagens adicionais focadas na solução de outros desafios. Um deles é o crescimento contínuo da população mundial. De 2015 a 2030 a população passará de 7,3 bilhões de pessoas para 8,5 mil e 9,7 bilhões no ano de 2050. E a outra é a concentração da população nas grandes cidades. Atualmente 55% da população vive nas grandes cidades e a expectativa é que até 2030 esse percentual seja de 70%, a exemplo do que ocorre atualmente na Europa (75%) ou nos Estados Unidos (82%).

Por estas razões, necessitamos de sistemas eficientes de produção de alimentos, boa gestão e tratamento dos alimentos, máxima conservação e capacidade de os distribuir longe e em centros urbanos com grande concentração de pessoas. Isso sem embalagem seria praticamente impossível de realizar. É pouco provável que consigamos levar alimentos da fazenda à mesa em um sistema de distribuição a granel, especialmente se quisermos alimentar milhões de pessoas que, em alguns casos, podem ter o pomar ou fazenda mais próxima a centenas ou milhares de quilômetros de distância e em todos casos, mantendo a segurança alimentar e evitando o desperdício de alimentos.

Apesar disso, importa continuar a lutar contra o excesso de embalagens ou a utilização de embalagens plásticas supérfluas e, sobretudo, contra a má gestão dos resíduos gerados. Para isso, é também essencial basear as decisões em ferramentas objetivas que nos permitam quantificar o impacto ambiental, como a Análise do Ciclo de Vida (ACV) ou a Pegada de Carbono, ferramentas que nos permitem medir o impacto ambiental de um determinado produto . Desta forma, selecionaremos sempre a opção com menor impacto.

Para explicar o efeito do LCA ou a pegada de carbono, podemos vê-lo refletido no gráfico acima. Como se pode observar, existe um ponto em que o impacto ambiental é mínimo e corresponde a uma determinada quantidade de material que é o mínimo para atingir o máximo desempenho. Podemos pensar que para uma embalagem quanto menos material melhor, isso é verdade se os benefícios forem mantidos, mas se forem reduzidos pode ser contraproducente.

Com tudo o que foi exposto, fica claro que a solução de venda de produtos à granel deve ser pensada de forma mais ampla e aplicada a produtos onde essa forma de disponibilização no mercado seja a opção mais sustentável.

Na procura da sustentabilidade, trata-se de identificar soluções técnicas adaptadas a cada situação e produto específico, que poderiam ser tachados de pouco amigos do ambiente se vistos numa única perspetiva, como a redução de resíduos. mas que são mais sustentáveis ??quando enxergamos todas as perspectivas do ciclo de vida, origem das matérias-primas, consumo na produção, transporte e distribuição, além de atender a outros objetivos de desenvolvimento sustentável, como fome zero e produção e consumo responsáveis.

Acreditamos firmemente que é responsabilidade de todos melhorar a qualidade de vida e garantir a sustentabilidade ambiental, contando com soluções tecnológicas eficientes com perspectiva global e respaldadas tecnicamente. *PortalFruticola/Mariana Reina, departamento de Inteligencia Competitiva y Estratégica da AIMPLAS

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